Um abade chamado Pafnuco, que costumava visitar ermitães na Tebaida, é a fonte que nos fornece dados sobre o santo ermitão.
Em fins do século IV, ou princípios do V, Pafnuco, piedosamente, palmilhava os desertos do Egito. Eis então quando, abruptamente, deparou com um ser de longuíssima cabeleira, de vastíssimas barbas, ambas, cabeleira e barbas, a jorrar-se pelo chão, um saiote de folhas apertado aos rins. Velho, enrugado, queimado do sol, castigado pelas chuvas, pela fome e pela sede, aquele homem, a princípio, pôs Pafnuco em fuga, atemorizando-o sobremodo.
Chamou, porém, ao abade a feia visão docemente, convidando-o achegar-se. Pafnuco, sossegado pelo clamo chamamento, tornou, aproximou-se e conversou com Santo Onofre, que era ele o gasto velho feio.
Onofre fora monge, vivera num mosteiro com outros cento e tantos irmãos. Um dia, sentiu que o deserto o chamava, e chamava com insistência. Deixou a comunidade, foi viver na soledade. Sofreu fome, sede, calor, frio, o incômodo das chuvas, a desesperação das longas secas - sem contar as tentações infindas.
Deus, no entanto, consolou-o. Consolou-o e nutriu. Ao lado da gruta em que se alapara, crescera uma tamareira de cujo fruto se alimentava. Na falta dos frutos, na gruta, miraculosamente, todas as tardinhas, de repente, surgiam-lhe pão e água. Restaurado, dando graças a Deus, Onofre em Deus se abismava, mergulhado longamente em coisas celestes.
Inteirado Pafnuco da história do santo ermitão piedoso, vendo o velho trêmulo, de lábios descorados, como um moribundo, inquietou-se. Estaria às portas da morte?
Santo Onofre olhou-o fixamente, adivinhando-lhe o pensamento.
- Não temas, irmão Pafnuco, disse. O Senhor, em sua infinita misericórdia, aqui te enviou para que me sepultes. Ditas estas palavras, Santo Onofre abençoou o visitante, pediu que rogasse por ele e se deitou para morrer. E morreu. Morreu e foi enterrado pelo bom abade Pafnuco.
No mesmo instante, desmoronou-se a velha gruta, e a tamareira amiga, estremecendo, como em dores, murchou, pendeu tristonhamente a verde cabeleira, e também morreu. Era, provavelmente, pelo ano 400.
Foto: santiebeati.it
(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume X, p. 258-259)