São Bernardino nasceu em Massa, onde seu pai era governador. Pertencia à família dos Albizeschi, uma das mais ilustres da república de Siena. O dia de seu nascimento, 8 de Setembro de 1380, coincidiu com a Natividade da Santa Virgem. Pai e mãe obtiveram esse filho único pela intercessão da mãe de Deus, na qual os dois punham toda a esperança. Podia-se dizer de Bernardino o que se dizia de João Batista: "o que pensais sobre este menino? Porque a mão do Senhor com ele estava". Mas perdeu a mãe, com a idade de três anos, e o pai, antes de contemplar sete.
Perda funesta para muitos filhos! Pela Providência divina, uma tia materna, Diana, encarregou-se da educação de Bernardino, e inspirou-lhe uma terna piedade para com Deus, e uma devoção particular pela Santa Virgem. O pequeno infante, modesto, doce, humilde e piedoso, comprazia-se na oração e nas visitas às igrejas. A santa devoção o levava principalmente a servir à santa missa. Tinha memória maravilhosa, e repetia aos companheiros com fidelidade e graça, os sermões ouvidos.
Sua compaixão pelos pobres não era menos admirável do que a piedade. Um dia, a tia despediu um, sem nada lhe dar, por não haver sequer um pão em casa para o jantar de toda a família. Bernardino sentiu-se tão comovido que disse à tia: "Pelo amor de Deus, demos alguma coisa ao pobre homem; dai-lhe o que me daríeis para o jantar; de bom grado passo em jejum". A piedosa tia, admirada e jubilosa, com tais palavras, exortou o sobrinho à prática de todas as virtudes cristãs, observando com admiração os precoces sinais de uma santidade futura.
Frequentemente o via prostrado diante de uma imagem da Virgem, com os olhos inundados de lágrimas, dirigindo-lhes a saudação angélica com o fervor de um anjo. Porque, noite e dia, todos os votos, todas as orações de Bernardino se dirigiam para Maria, Mãe de Jesus. Desde os mais tenros anos, jejuava todos os sábados em sua honra, e guardou o piedoso costume durante o resto da vida.
Com a idade de onze anos, perdeu a virtuosa tia; mas Deus não o abandonou. Dois tios paternos, Cristóvão e Angelo, fizeram-no vir a Siena. Pia, a mulher de Cristóvão, não tendo filhos, tomou-lhe particular afeto, amando-o como a um filho. Não menos piedosa do que Diana, teve o mesmo cuidado de sua educação. Como se diz do menino Jesus, Bernardino crescia em sabedoria, em idade e em graça diante de Deus e diante dos homens. Em casa, construía altares, e começava a recitar cada dia o ofício da santa Virgem.
Encantada com os seus progressos na virtude, Pia quis que fizesse semelhantes nas letras e ciências humanas. E lhe deu os melhores mestres. Estes não deixavam de admirar a agudeza de inteligência do discípulo e a beleza de seu espírito; muito mais ainda, lhe admiravam a docilidade e modéstia. Bernardino era de beleza notável; mas o amor pela pureza era ainda mais extraordinário. Conquanto fosse naturalmente cortês, complacente e respeitoso para com todos, não podia conter-se quando uma conversa obscena lhe feria os ouvidos.
Havia, na casa dos frades menores de Siena, um homem venerável, de uma família distinta da cidade. Havia trabalhado trinta anos na Bósnia, contra os maniqueus que infestavam a província; alquebrado pela velhice, voltara à sua terra natal; seu nome era João Nestor; encontra-se no Martirológio dos franciscanos, no dia 15 de Fevereiro, com o título de bem-aventurado. É a esse santo e venerável ancião que Bernardino, com vinte e dois anos então, se dirigiu para pedir o humilde hábito de São Francisco. O ancião concedeu-lhe com alegria, no dia da Natividade da Santa Virgem, felicitando publicamente a ordem pela glória que lhe trazia o jovem noviço.
Colombiere era convento em completa solidão e algumas milhas de Siena. São Francisco e São Boaventura ali haviam permanecido mais de uma vez. Era costume que ali passassem algum tempo os jovens religiosos. Um ancião dos mais fervorosos desejava restabelecer a regularidade e austeridade primitivas. Necessitado de ajuda, pediu a Bernardino que fizesse seu noviciado em Colombiere, onde o jovem foi um modelo de doçura, de inocência, paciência, obediência e caridade. Passado um ano, fez sua profissão no dia da Natividade da santa Virgem; foi também nesse dia que, mais tarde, rezou a primeira missa e pregou o primeiro sermão. Era para satisfazer a terna devoção para com a Mãe de Deus.
Seu fervor aumentava sensivelmente cada dia. Acrescia de novas austeridades as que era prescritas pela ordem, a fim de crucificar mais perfeitamente o velho homem. Procurava sempre os serviços mais humilhantes e repulsivos. Seu prazer jamais atingia transportes tão inefáveis como quando, andando pelas ruas, os meninos lhe lançavam injúrias e pedras. Mostrou os mesmo sentimentos quando um dos parentes lhe fez amargas censuras, e chegou a ponto de lhe dizer que desonrava a família e amigos pelo gênero de vida abjeto e desprezível que havia abraçado.
Era na escola do Salvador que estudava dia e noite a humildade e as demais virtudes cristãs. Frequentemente ficava prostrado diante de um crucifixo. Um dia pareceu ouvir Jesus Cristo falar-lhe nestes termos: "Meu filho, vês-me pregado na Cruz; se me amas e queres imitar-me, prega-te também à tua cruz e segue-me"; assim, foi também aos pés de Jesus crucificado que adquiriu este zelo ardente pela salvação das almas.
Haviam-no eleito, em 1438, vigário-geral da ordem. Estabeleceu uma reforma rigorosa entre os franciscanos de estrita observância da Itália. Cinco anos após, pediu para ser dispensado do cargo.
Mas continuou a pregar em várias cidades e províncias. Afinal sucumbiu sob a violência do mal e foi obrigado a acamar-se, indo a Aquila, nos Abruzos. Recebeu os santos sacramentos da Igreja em 20 de Maio de 1444, véspera da Ascensão. Com a idade de sessenta e quatro anos, sentindo aproximar-se a morte, mandou o colocassem sobre a terra e, elevando os olhos ao céu, entregou a alma a Deus, ao mesmo tempo em que entoavam esta antífona das primeiras vésperas: "Pai, manifestei o vosso nome aos homens, e agora venho a Vós!"
Operaram-se ainda mais milagres após sua morte do que em vida. Sua canonização foi imediatamente empreendida por Eugênio IV, depois determinada por Nicolau V em 1450. Seu corpo, encerrado numa dupla caixa, das quais uma era de prata e outra de cristal, está guardado com os franciscanos de Aquila.