Santidade é serviço

Exemplo de conversão e direcionamento de vida, São Camilo de Léllis é o santo celebrado no dia 14 de julho. Doente, viciado, iletrado, venceu todas as barreiras graças aos benefícios que recebeu no convívio com os santos. De fato, como atesta Tertuliano ao ver como os pagãos se referiam aos primeiros cristãos: “vede como eles se amam”, foi através do amor e da paciência dos monges que Camilo pôde experimentar a vida santa, escolhendo trilhar ele mesmo este caminho.

Nascimento milagroso e vida desvairada

A mãe de Camilo tinha mais de sessenta anos quando deu à luz ao jovem de Léllis, tornando seu nascimento tão abençoado como o de São João Batista. Foi educado sobretudo pela mãe, porque o pai era militar e estava sempre ausente.

Por isso, quando sua mãe adoeceu e faleceu logo em seguida em consequência da enfermidade, Camilo foi residir no quartel com o pai, amargo e rebelde com a ideia de perder sua amada progenitora. A isto se ajuntou mais um distúrbio: seu pai era viciado em jogos de azar, apostando sempre tudo o que tinha.

A Camilo, iletrado ainda aos 14 anos, coube os trabalhos manuais do exército. Ficou forte e bem desenvolvido fisicamente, o que só o tornou mais agressivo e violento. Arrumava brigas o tempo todo, ainda mais quando desenvolveu o gosto pelos jogos com o exemplo do pai.

Quando fez 19 anos, seu pai faleceu, herdando dele apenas suas armas. Perdido no mundo, Camilo fazia apenas o que sabia: jogar e brigar. Por isso, todos procuravam se afastar dele, com repugnância.

Certo dia, numa feira, encontrou um religioso que o tratou muito bem, apesar de seus agressivos modos e aparência grotesca. Este virtuoso homem conseguiu enxergar os traumas de Camilo e o convidou para passar um tempo junto aos outros de sua comunidade.

Camilo aceitou. Porém, logo que chegou, não pôde ficar no mosteiro pois tinha uma ferida no pé muito purulenta, que precisava de tratamento que os religiosos não podiam oferecer. Foi encaminhado, então, pelos irmãos, a um hospital em Roma, para que fosse tratado lá.

Como não possuía dinheiro, aceitou fazer trabalhos braçais pelas consultas e tratamentos, já que sua ferida era uma úlcera incurável. Entretanto, ainda viciado em jogos, dado sua conduta perversa e muitas vezes violenta, foi expulso do hospital.

Assim, por volta de 1570, encontramos Camilo desamparado.

Conversão e fundação de uma obra

Sabendo que os frades capuchinhos de Roma estavam construindo um novo mosteiro, pediu emprego para ajudar a elevar as paredes. Foi aceito como pedreiro, e passou a sobreviver com aquele ordenado.

Ali, mais uma vez no convívio com os cristãos, Camilo foi compreendendo a paz que só uma vida santa poderia lhe proporcionar, e seu coração foi cedendo aos apelos divinos. Foi, contudo, devido a uma visão que nunca narrou que Camilo de fato se converteu. A partir daquele momento, nunca mais jogou e, concluindo as obras, pediu para ser novamente aceito em uma vida religiosa.

Por incrível que pareça, novamente sua entrada foi negada devido à úlcera, e novamente foi encaminhado para ser tratado no Hospital de São Tiago. De novo fez um acordo que ajudaria nos trabalhos aos enfermos para pagar suas consultas. Porém, dessa vez, São Camilo já era um novo homem: o amor com que tratava os doentes impressionava os funcionários.

Nesta época conhece um amigo e santo: o Padre Filipe Néri. Este, vendo o carisma e carinho para com os desamparados que Camilo possuía, ajudou-o a fundar uma congregação: os irmãos do Hospital, que mais tarde seria conhecida como camilianos. Primeiro, apenas leigos voluntários adentraram as portas da irmandade. Logo depois, porém, os primeiros sacerdotes também foram recebidos, podendo levar consolo de corpo e alma.

Em poucos anos, São Filipe conseguiu que o papa aprovasse a congregação e a elevasse ao estatuto de ordem religiosa. Nisto, o padre Néri ajudou São Camilo a estudar, se formar, e ser ordenado sacerdote.

Vida de serviço e santidade de São Camilo

Já consolidado em sua nova vida, São Camilo, fundador, foi eleito com unanimidade para o cargo de superior-geral. Ficou 20 anos à testa dos “irmãos do hospital”, amparando os doentes e lhe oferecendo o conforto que Cristo quis que tivessem: “Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25,40).

Seus últimos sete anos foram passados ao serviço dos mais necessitados. Como estava livre das obrigações que o encargo de superior lhe caía, pôde percorrer as casas de Roma cuidando dos moribundos. Era visto andando pelas vielas com seu pé sempre machucado e enfaixado, sem nunca reclamar de suas dores.

Tornou-se famoso e amado por toda a Itália, tido como santo em vida por todos. São Camilo de Léllis faleceu em no dia 14 de julho de 1614, com fama de santidade. Sua canonização foi celebrada em 1746, e ele foi declarado Padroeiro dos Enfermeiros, dos hospitais e dos doentes em 1886.

Cf. Cruz Terra Santa