Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós
São Cirilo de Alexandria foi peça chave no desenvolvimento da devoção à Nossa Senhora. Tendo nascido no século IV, onde a doutrina católica tinha uma série de pressupostos ainda por analisar, um sentimento regeu sempre a mente do bispo alexandrino: Cristo é Deus. Desta certa conclusão, transmitiu-nos todos os ensinamentos que o caracterizaram como Padre da Igreja.
Dele não se tem a data de nascimento, nem nome dos pais e parentes. São Cirilo surge apenas como sobrinho do patriarca de Alexandria, tornando-se a principal escolha do povo e das autoridades para desempenhar esta função quando seu tio falece. Neste artigo, vamos analisar seus ensinamentos e notar seu extremo amor à doutrina ortodoxa.
Se Cristo é Deus, Maria é Mãe de Deus
Nestório era uma importante figura na Cristandade Oriental. Em muitos relatos ele é descrito como suntuoso, com ótima lábia, simpático. Porém, em algo ele destoava da virtude: suas ações eram rigorosamente arrogantes. Certa vez, conseguiu que as autoridades prendessem dois homens que discordaram em um ponto de seu sermão. O mal já havia feito morada ali, tornando Nestório um sepulcro caiado, como Jesus se referia aos fariseus. Em seu orgulho, o chefe da heresia nestoriana apodreceu por dentro, e suas palavras estavam repletas desse mau odor.
Para ele, a divindade revestia a Cristo como uma túnica reveste o corpo de um homem. Assim, quando Ele foi crucificado, quem morreu foi o homem, e não o Filho de Deus. Do mesmo modo, Maria não era Mãe de Deus, mas apenas Mãe de Cristo. Este passou a ser o ensinamento que povoou as ruas das metrópoles orientais. Tais sermões chegaram aos ouvidos do virtuoso bispo de Alexandria que, manso e humilde de coração, não quis acreditar nos boatos; procurou-se informar das reais palavras do bispo Nestório, seu companheiro na Sagrada Unção.
Infelizmente, para sua tristeza e para desgraça do herege, Nestório divulgava este desserviço para a fé católica, insistindo sobretudo em um ponto: a Igreja errava ao venerar a Virgem como Mãe de Deus.
Batalha pela doutrina verdadeira
São Cirilo de Alexandria, movido pela fé e pela verdade, mandou uma carta ao papa, convocando Nestório a uma retificação diante das autoridades eclesiásticas e correção no modo de se referir à Nossa Senhora. O Santo Padre mandou uma missiva ao bispo herege, que não só debochou da correspondência como ainda enviou ao papa todos os seus escritos, como que “para ensiná-lo”.
Como ele não prestava a obediência, o papa mandou a um abade, que sabia ser muito douto, a doutrina nestoriana; este concordou com todas as palavras da carta de recomendação que São Cirilo lhe enviara contando o problema. O Sumo Pontífice, então, sentenciou o erro de Nestório. Este, arrogante e orgulhoso, sentiu-se ofendido por ter sido julgado não estando presente (mesmo que por culpa própria), e pediu que se proclamasse um concílio para verificar a ortodoxia da doutrina. São Cirilo, como principal expoente, provou diante da multidão a ilogicidade dos escritos de Nestório, e de como Cristo era uno em pessoa, e pessoa divina. E, se a uma mãe é mãe de um ser inteiro, e de todas as suas qualidades e propriedades, Maria era Mãe de Deus, pois Deus Cristo é.
O concílio decretou, portanto, a doutrina de Teotoclos (Mãe de Deus, em grego), e a tradição narra que foi nesse momento que São Cirilo de Alexandria, diante de uma imagem da Virgem, completou a Ave-Maria, recitando: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém”.
São Cirilo de Alexandria: a luta o identifica
Mesmo sem dados pessoais ou narração da infância listados nas atas, São Cirilo soube marcar história. Ele é identificado como o paladino da Virgem, pela sua presença marcante no concílio de Éfeso.
Teve uma grande provação antes de morrer: foi acusado de heresia por conterrâneos eclesiásticos. O campeão da fé amava mais a verdade que si mesmo, e se colocou inteiramente na mão dos seus julgadores, dando todos seus escritos para serem autuados. Quando pediram que ele corrigisse algumas passagens que, para os inquisidores, pareciam ambíguas, ele não pensou duas vezes: fez como queriam, já que eram enviados do Santo Padre.
Um herói que, diante da reputação manchada de Maria, levanta-se como leão; diante de sua própria, não se enciumava ou se encolerizava. Esta é a verdadeira marca dos santos: a luta pelo que não é seu, mas de Cristo e de sua Santíssima Mãe, em detrimento de si mesmo. Que São Cirilo de Alexandria rogue por nós de seu trono celeste, para que a verdade da fé seja sempre defendida não só com palavras, mas com exemplos de santidade também.
Cf. S. Cirilo de Alexandria, bispo e doutor da Igreja - Informações sobre o Santo do dia - Vatican News
