São Dunstano nasceu em 924, perto do mosteiro de Glastonbury, na Inglaterra. Seus pais eram da primeira nobreza, e desde a infância, fizeram-no educar nessa casa de Glastonbury, onde viviam alguns monges irlandeses que instruíam a juventude. Dunstano, ali aprendeu os primeiros elementos das ciências. Ao manejo corrente da língua latina, ajuntava um vasto conhecimento da filosofia; as santas Escrituras e as obras dos Padres constituíam o objeto de suas meditações constantes; seus êxitos nas diferentes artes, tais como a música, a pintura, a gravura, e sobretudo no trabalho dos metais, fizeram-no merecer os aplausos de todos.
Enfim, recebendo as ordens menores, mudou-se para Cantuária, junto do bispo Athelme, seu tio paterno, que o recomendou ao réu Edelstan e o colocou a seu serviço. Saiu-se bem em todos os encargos, e seu mérito suscitou invejosos, que o acusaram de ser mago e de ter partes com o demônio. A censura baseava-se no fato de ter Dunstano, certa vez, abandonado a harpa na parede e de ela ter tocado sozinha uma antífona.
Abandonou a corte espontaneamente, sem esperar ser a tal constrangido, e retirou-se junto de Santo Elfégio, bispo de Winchester, seu parente, que o exortou a abraçar a vida monástica; mas o jovem relutou durante algum tempo, crendo dever casar-se. Uma moléstia que o reduziu ao extremo, Fe-lo decidir-se, e, uma vez restabelecido, recebeu o hábito monástico da mão do santo bispo que, em seguida, o ordenou sacerdote, após os interstícios canônicos, dando-lhe por título a igreja de Nossa Senhora de Glastonbury.
Tendo recebido durante algum tempo, os ensinamentos de seu parente Elfégio, para fortificar-se contra as tentações, voltou a Glastonbury a fim de servir na sua igreja, perto da qual parecia uma sepultura. Não tinha mais de cinco pés de cumprimento, dois e meio de largura e a altura necessária para ali permanecer de pé. A porta formava um dos lados, e tinha pequenas janelas pelas quais recebia a luz para trabalhar. Jejuava e orava assiduamente, e essa espécie de vida lhe atraiu em breve visitas de toda sorte de pessoas, que tornavam públicas as suas virtudes.
Morto o rei de Edelstan, seu irmão e sucessor Edmundo chamou São Dunstano para a corte, a fim de auxiliá-lo com seus conselhos; mas em breve, envolvido pelas intrigas dos invejosos, colocou-o vergonhosamente em desgraça. No dia seguinte, o rei, que gostava muito da caça, perseguia a cavalo um cervo em meio à floresta. No auge da corrida, chegou à borda de um precipício; envidou o máximo esforço para deter o cavalo, mas em vão: não lhe restando esperança, recomendou-se a Deus, agradeceu-lhe pelo fato de não haver cometido pecado algum naquele dia, salvo a ofensa feita a Dunstano, prometendo repará-la se, pela misericórdia divina, o revisse. O cavalo, com os pés dianteiros já sobre o abismo, deteve-se. O rei Edmundo rendeu graças a Deus com o mais vivo reconhecimento, com o coração e com a boca.
Voltando a casa, mandou chamar Dunstano, disse-lhe que montasse a cavalo e o acompanhasse numa pequena viagem. Chegaram os dois a Glastonbury, entraram numa igreja; o réu orou com lágrimas nos olhos, pegou a mão direita de Dunstano, beijou-a com respeito e colocou-a sobre a cátedra sacerdotal, dizendo: Se o prelado desta cátedra e o abade fiel desta igreja; se algo te faltar, para o culto divino ou para a observação da regra, supri-lo-ei de bom grado.
Alguns dias após, Dunstano começou a lançar os fundamentos de uma igreja mais magnífica, e a construir mosteiros. Tudo pronto, reuniu sob a regra de São Bento, uma grande comunidade de monges, dos quais foi o primeiro abade, e os conduziu a uma grande perfeição. A doutrina e a piedade luziam de tal maneira no mosteiro, que dele tiraram, com o decorrer do tempo, grande número de bispos e abades; de sorte que São Dunstano foi o principal restaurador da religião em toda a Inglaterra (1) Porque, com os grandes bens que lhe deixaram pai e mãe, bem como a princesa Edelfleda, sobrinha do rei, não somente doou ao mosteiro de Glastonbury várias terras que estavam próximas, como também fundou ainda mosteiros em cinco lugares diferentes, onde se formaram depois, com seus cuidados, grandes e edificantes comunidades. (...)
Elevado à sede de Cantuária, Dunstano visitava todas as cidades do reino e de suas dependências, para pregar a fé àqueles que não a conheciam, se é que ainda os havia, e para instruir os fiéis na prática das boas obras. Não era fácil resistir-lhe, tanta sabedoria e eloqüência havia nas suas palavras. Quando dispunha de algum repouso, dedicava-se à oração e à leitura das Sagradas Escrituras, cujos exemplares corrigia; afinal, estava continuamente ocupado com os seus deveres. Julgava as pendências, apaziguava os homens encolerizados, refutava os erros dos hereges, separava casamentos ilegítimos, reparava antigas construções ou fazia novas, empregava os recursos da igreja para socorrer as viúvas, os órfãos e os estrangeiros. (...)
No dia da Ascensão, 17 de Maio de 988, após a leitura Do Evangelho, São Dunstano pregou como era seu costume; depois continuou a missa e deu a benção solene antes da comunhão. Exortou ainda o povo a afastar-se das coisas da terra; após ter dado o beijo da paz, não mais pode conter-se, e pediu-lhes que dele se lembrassem, e que estava próximo o dia em que Deus o chamaria. Levantou-se uma grande grita, torrentes de lágrimas correram; e um sacerdote, depois bispo, doutor e virtuoso, chamado Elgar, declarou que nesta manhã vira os anjos comunicar a Dunstano que se preparasse para o sábado próximo.
Após o jantar, o arcebispo voltou à igreja e marcou o lugar de sua sepultura. Quando subiu aos aposentos para descansar, os que o acompanhavam viram que era erguido no ar, e tomaram-se de espanto. Voltando para baixo, ele lhes disse: Vedes para onde Deus me chama, e ninguém deve temer não chegar ao céu seguindo as minhas pegadas. Procurai fazer em tudo a vontade de Deus. Não vos preocupeis de parecerdes bons, mas de sê-lo, nem de não parecerdes maus, mas de não sê-lo. Já vos predisse que a grande nação inglesa sofrerá muito e longo tempo da parte dos estrangeiros; mas por fim a misericórdia de Deus se esparzirá sobre ela. Assim falando, o santo prelado sentiu que as forças lhe faltavam pouco a pouco. Todavia continuou todo aquele dia e a sexta-feira seguinte a instruir e a consolar a todos que vinham recomendar-se a ele e pedir-lhe a benção.
No sábado, 19 de Maio, ele mandou que celebrassem diante dele os santos mistérios, e tendo recebido o santo viático, fez uma fervorosa ação de graças, depois da qual expirou cheio de alegria.
Foi enterrado na igreja de São Salvador, sua cátedra, no lugar que havia designado, diante dos degraus do altar. As lamentações de seu povo foram lancinantes; na sua sepultura, operaram-se depois grande número de milagres, dos quais temos uma história fiel, pelo monge Osbern de Canterbury, que viveu no século seguinte e que escreveu uma das cinco vidas que temos do santo arcebispo, entre as quais há uma escrita por um padre contemporâneo e testemunha ocular.
São Dunstano restabeleceu as letras na Inglaterra, bem como a disciplina monástica; atribuem-lhe diversos escritos, dos quais pouco resta que seja de sua autoria com certeza. A Igreja honra a sua memória no dia de sua morte. (1)
Fotos: santiebeati.it
(1) Acta SS, 19 MAII. Act. Bened. Sect. V.
(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume IX, pp. 45 à 47 - 51 - 61 à 63)