Meu Deus, amo o pequeno Félix, tão piedoso desde a primeira infância, que de então lhe deram o nome de santo. Amo este pequeno pastor, talhando uma cruz na casca de uma árvore e orando em frente dela horas a fio.
Recitava primeiramente com fervor a Oração Dominical, a Saudação do Anjo, o Símbolo dos Apóstolos, o Gloria Patri, e outras orações conhecidas. Mas, em breve, Deus lhe concedeu a graça da contemplação, e todos os seus pensamentos se tornavam preces.
Moço trabalhador, meditava durante o trabalho: tudo o que via, tudo o que ouvia, despertava nele afeições piedosas. Mas nada o tocava mais ternamente do que a recordação dos sofrimentos de Jesus Cristo. A humildade profunda, ajuntava uma alegria inalterável, da doçura e de caridade para com os outros. Quando alguém o insultava, tinha o costume de responder: Deus queira fazer de vós um santo. Tal era o jovem Félix. Meu Deus, pudesse eu assemelhar-se a esse pequeno pastor!
Entretanto, esse pequeno trabalhador acreditava não fazer bastante. Apresentou-se, pelo ano de 1540, a um convento dos capuchinhos, e pediu que o acolhessem na qualidade de irmão converso. O superior deu-lhe o hábito e mostrou-lhe um crucifixo; em seguida, explicou-lhe o que o Salvador sofrera, dizendo-lhe de que maneira um religioso devia imitar esse divino modelo, com uma vida de renúncia e humilhações.
Félix comovido até as lágrimas, sentiu-se animado de um ardente desejo de imprimir em si os traços dos sofrimentos de Jesus Cristo, pela mortificação, o velho homem com todos os seus desejos.
Durante o noviciado parecia já compenetrado do espírito de sua ordem, que era um espírito de pobreza, de penitência e humildade. Frequentemente, atirava-se aos pés do mestre dos noviços, para pedir-lhe que dobrasse as mortificações, e o tratasse com maior rigor do que aos outros, ao que parecia, mais dóceis do que ele e mais dedicados à virtude. Por esse profundo desprezo de si mesmo, chegou em breve a uma eminente perfeição.
Félix estava tão intimamente unido a Deus, que mesmo no mundo, quando ia pedir esmola, nada conseguia distraí-lo. Perguntou-lhe, um dia, um irmão como fazia para permanecer em recolhimento tão perfeito, recebendo a seguinte resposta: Todas as criaturas servem para elevar-nos a Deus, quando as olhamos sob esse prisma. Retenhamos a palavra de um santo, e ponhamo-la santamente em prática.
Se a vista das criaturas nos afasta de Deus, é porque ainda não as olhamos sob o prisma bom, com os olhos da fé, mas com os olhos da carne, Purifiquemos bem nossas intenções e afetos, e habituemo-nos, como os santos, a ver todas as coisas em Deus, e Deus em todas as coisas.
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(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume IX, p. 33-34)