São Francisco Caracciolo nasceu em 12 de Outubro de 1563, em Santa Maria, nos Abruzos e recebeu no batismo o nome de Ascanho, que mudou em seguida para o de Francisco, quando abraçou a vida religiosa. Seus pais, tão distintos pela piedade como pela nobreza de sangue, empenharam-se para que tivesse uma educação esmerada. O jovem Francisco correspondeu ao zelo de seus mestres com brilhantes êxitos nas ciências; mas aplicou-se ao mesmo tempo com ardor extremo à prática da piedade, e passou com inocência exemplar a fase crítica da vida. Comungava frequentemente, a fim de haurir no adorável sacramento dos nossos altares forças sempre crescentes contra os inimigos da salvação.
Sua devoção para com a Santa Virgem era viva e sincera. Dirigia-lhe preces diárias e todos os sábados jejuava em sua honra. Desde a idade mais tenra nutria pelos pobres um profundo sentimento de compaixão. Solicitava por eles socorros junto de seu pai; reservava-lhes a melhor parte de sua própria alimentação e lhes distribuía com bondade tocante. Seus costumes eram de uma pureza admirável; dir-se-ia que era antes um anjo do que um homem.
Tinha vinte e dois anos, quando contraiu uma enfermidade perigosa que o levou às portas da tumba, mas que também lhe trouxe sérias reflexões sobre a vaidade das coisas da terra e o fez decidir-se a consagrar-se inteiramente a Deus, se recuperasse a saúde. Com efeito, obteve de seus pais a permissão de tomar o estado eclesiástico, e recebeu as ordens sacras em Nápoles, após ter concluído os estudos de teologia. Logo em seguida, quis fazer parte de uma confraria de pessoas piedosas que se ocupavam particularmente em preparar os criminosos para a morte, e proporcionar socorros da religião aos prisioneiros aos condenados aos trabalhos forçados. Durante toda a vida continuou a ocupar-se com essa obra importante.
Em 1588, associou-se a João Agostinho Adorno, de ilustre família genovesa, e Fabri Caracciolo, seu parente, para formar um novo instituto de sacerdotes que deviam reunir trabalhos da vida ativa e os exercícios da vida contemplativa. Unidos numa ermida dos frades camáldulos de Nápolis, ali passaram quarenta dias em jejum e oração, a fim de conseguirem a graça de Deus para o objetivo. Redigiram um projeto da regra que queriam dar à comunidade e se dirigiram a Roma para solicitar a aprovação do soberano Pontífice Sixto V. Este os acolheu com bondade em e, após maduro exame, confirmou o novo instituto sob o título de Clérigos regulares menores. Em 9 de Abril de 1589, os três fizeram a profissão solene, e o nosso santo mudou o nome Ascanho para Franscisco, sob o qual foi canonizado.
Aos três votos de pobreza, castidade e obediência, os clérigos regulares menores acrescentaram um quarto: não procurar qualquer dignidade, dentro da ordem ou dentro da Igreja. Fazem o exame de consciência duas vezes por dia, abstêm-se de carne quatro vezes por semana e praticam outras austeridades. Orar, confessar e pregar missões constituem a ocupação de todos. Alguns se dedicam especialmente aos hospitais, outros às prisões. Mantém casas para instruir a juventude, e ermidas destinadas aos que desejam levar uma vida inteiramente isolada. Uma prática particular foi ainda prescrita pelo santo fundador, a adoração perpétua do santo sacramento. Cada dia toda a comunidade reunida passava uma hora nesse exercício, e todos os membros a faziam, em seguida, em particular, cada qual em hora determinada.
Essas disposições provam suficientemente o espírito de fé e de caridade de que Francisco Caracciolo estava possuído. O zelo mais puro pela glória de Deus e a salvação do próximo presidia todas as suas ações, e sem cessar se esquecia de si mesmo, por ocupar-se inteiramente desses dois grandes interesses, os únicos, com efeito, que devem tocar os corações verdadeiramente cristãos.
Além da pregação e do catecismo que fazia com freqüência, ia regularmente, desde as primeiras horas do dia, ao confessionário atender os operários e os pobres. Eis a razão por que se sentia penetrado de uma ternura particular, e colocava sua felicidade em evangelizar os pobres.
Antes de fazer profissão, havia distribuído todos os bens aos infelizes. Mais tarde, viram-no frequentemente pedir esmolas pelas ruas. Durante o inverno, no tempo dos grandes frios, dava-lhes muitas vezes as próprias vestes; tinha o costume de abster-se, três vezes por semana, de toda a alimentação, a fim de lhes distribuir a parte que recebia na comunidade. Enfim, uma humildade profunda dava maior realce a todas as suas outras virtudes, e, conquanto superior geral da congregação, não se pejava de exercer as mais baixas funções, varrendo os quartos, fazendo as camas e limpando os utensílios da cozinha.
Grandes favores espirituais recompensaram tantos méritos: Francisco operou muitos milagres e predisse mais de uma vez o futuro. Jesus Cristo fê-lo conhecer seu fim próximo, durante uma peregrinação a Nossa Senhora de Loretta, e ele morreu pouco depois em Agnonne, cidade dos Abruzos, onde havia uma casa de sua congregação, em 4 de Junho de 1608.
Beatificado primeiramente por Clemente XIV, foi canonizado por Pio VII, em 24 de Maio de 1807. (Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume X, p. 9 à 12)