Durante o século XVI, enquanto um mau monge, Lutero, pervertia a metade da Alemanha, um santo religioso convertia grande parte da índia e do Japão - São Francisco Xavier, um dos primeiros discípulos de Santo Inácio.
Como principiou sua obra o Santo? Pelas crianças.
Chegado à Índia, encontrou cristãos vindos da Europa, dados a toda espécie de desordens, escandalizando os infiéis pelos maus exemplos. Para converter os pais e as mães, agarrou-se o Santo aos filhos. Reunia-os fazendo soar uma sineta pelas ruas. Aos pequenos, ensinava a conhecer a Deus, a amá-lo, a rezar-lhe, a ser piedosos, modestos e dóceis.
Logo, a boa conduta das crianças tocou os pais, que, por sua vez, se converteram. Todo o país, então, começou a mudar.
Tempos depois, saiu o santo em busca dum povo que já havia recebido o batismo mas não vivia mais cristamente. Eram os japoneses, e passou a agir de igual modo: pelos filhos, convertia os pais.
Começaram, então, as perseguições. E perto de cinqüenta anos depois que São Francisco Xavier iniciou a pregação do Evangelho naquele país, vinte e seis cristãos japoneses foram martirizados, e com ele nove missionários, dos quais seis religiosos de São Francisco de Assis e três de Santo Inácio.
Depois dos primeiros mártires, sucederam-se uma multidão doutros. Eram queimados, crucificados, mortos a chicotadas, decapitados.
Sem dúvida, Deus não nos chama para fazer tão grandes coisas, quais foram as que São Francisco Xavier fez naquelas longínquas plagas. Todavia, chama-nos para trabalhar como o Santo, cada um segundo as possibilidades próprias, na salvação das almas. Imitemos-lhe as disposições, principalmente a grande humildade e a obediência.
Em meio aos milagres que Deus, por intermédio de São Francisco Xavier, operou, em meio dos povos que se convertiam às suas palavras, a humildade era sempre a mesma, senão maior, e São Francisco Xavier, ao superior não escrevia, relatando o que fazia, se não fora de joelhos. Sejamos assim humildes e obedientes, e Deus estará conosco.
Nascido a 7 de abril de 1506, de grande nobreza, no castelo de Xavier, na Navarra, a oito léguas de Pamplona, Francisco estudava em Paris, no colégio de Santa Bárbara, quando o compatriota, Santo Inácio de Loyola, lhe solicitou se desse todo a Deus, dizendo:
- De que serve ao homem ganhar o mundo, se perde a alma?
Logo se tornou discípulo e companheiro inseparável de Santo Inácio.
Sob a direção de tão hábil mestre, dez em pouco tempo, muitos progessos na vida espiritual, tanto que, por mais duma vez, enquanto estava abismado nas coisas divinas, tinha o corpo elevado ao ar. Isso aconteceu mesmo diante do povo, algumas vezes, quando da celebração da santa missa. Graças tão extraordinárias eram a recompensa das extraordinárias mortificações que fazia.
São Francisco Xavier não comia carne, não bebia vinho, raramente fazia uso de pão que levasse fermento, alimentando-se das coisas mais triviais. Às vezes, passava dois ou três dias sem alimento algum, absolutamente, Flagelava-se até oi sangue com disciplinas de ferro, e não dormia senão poucas horas, sobre a terra.
Foi devido às austeridades e à vida tão santa que se preparou para as futuras funções de apóstolo, quando, a pedido do rei de Portugal, o Papa Paulo III o enviou às Índias, com a autoridade de núncio apostólico.
Por mais duma vez, enquanto falava numa só língua, cada nação o ouvia na sua própria. Percorria inumeráveis províncias, sempre a pé e descalço. Levou a fé ao Japão e a outros seis países mais, convertendo muitas centenas de milhares de homens nas Índias. Batizou reis e príncipes incontáveis. E Deus lhe autorizava as pregações por grandes milagres. Ressuscitou vários mortos; o dom da profecia lhe foi outorgado.
Dispunha-se a levar a fé à China, quando morreu na ilha de Sancião, a 2 de Dezembro de 1552.
Eis a história dos últimos momentos de São Francisco Xavier.
Uma febre esquisita o tomou a 20 de novembro, ao mesmo tempo em que um claro conhecimento do dia e da hora da morte lhe passava pela cabeça, como mais tarde revelou a um amigo, que depois, sob juramento solene, o atestou. Um desgosto profundo pelas coisas da terra o levava constantemente a pensar em coisas celestes, nada mais aspirando que a Jesus Cristo que o chamava.
Tomado cada vez mais pela febre, retirou-se para o barco que era o hospital comum de todos os doentes, a fim de morrer na pobreza. Como, porém, o balanço do barco lhe causava dores tremendas de cabeça, impedindo-o de aplicar-se a Deus, que desejava com sofreguidão pediu que, no dia seguinte, o levassem para terra. Deixado às margens do rio, exposto ao vento frio que soprava do norte, sofria mais e mais.
Jorge Alvarez, um bom amigo, o levou à sua cabana. Era uma choça humilde, rústica, mas fechada, que abrigava do vento e da chuva, do sol e do sereno.
Uma dor aguda nas costas e uma opressão no peito martirizavam Francisco. E a doença fazia progressos sem cessar. Duas sangrias, uma num dia, outra noutro, foram feitas, mas, na última, como o cirurgião fosse pouco experimentado na arte, cortou um tendão, e o santo, além da fraqueza extrema, entrou a ter convulsões.
Nas horas de calma, levantando os olhos para o céu, as mãos apertando o crucifixo, dizia repetidas vezes:
- Jesu, fili David, miserere mei.
Depois de longo silêncio, as palavras que lhe eram familiares na boca:
- O sanctissima Trinitas
E não cessava de invocar a Rainha do céu:
- Monstra te esse matrem.
Afinal, a 2 de dezembro de 1552, uma sexta-feira, com os olhos rasos dágua, ternamente postos no crucifixo, disse:
- Senhor, ponho em vis toda a minha esperança, e não serei jamais confundido.
Com o rosto a resplandecer, docemente morreu, com quarenta e seis anos, dos quais dez e meio passara nas Índias. Os trabalhos contínuos e as canseiras nevaram-lhe totalmente os cabelos.
O enterramento realizou-se no domingo seguinte. O corpo foi depositado num caixão muito grande, à maneira chinesa, e cheio todo ele de cal viva, a fim de que, consumida a carne, pudessem os ossos ser remetidos para Goa.
Deus manifestou no reino de Navarra a santidade do servidor por um sucesso miraculoso, ou antes, por uma cessação de milagres. Numa pequenina capela do castelo de Xavier, havia um velho crucifixo de gesso, da altura dum homem de estatura um pouco além do normal. No último ano de vida do santo, viu-se o crucifixo suar sangue com abundância, o que acontecia todas as sextas-feiras. Morto São Francisco Xavier, o sangue cessou de fluir, e o crucifixo ainda hoje lá se encontra, na pequena capela, com sangue escorrido ao longo dos braços e das pernas, das mãos e dos pés.
Dois meses e meio depois da morte do santo homem, estando o navio, que atracara no porto de Sancião, emvias de fazer velas para as índias, abriu-se o caixão que continha o corpo de São Francisco para ver se a carne já se consumia. Era a 17 de fevereiro de 1553, e o espanto foi geral: removeu-se a cal cuidadosamente e o corpo do Santo apareceu todo inteiro, sem qualquer corrupção. No caixão, dir-se-ia que Francisco Xavier dormia docemente, de rosto corado, saudável. Nem mesmo as vestes sacerdotais que envergavam sofreram qualquer modificação. E um suave perfume, mais delicioso e agradável do que qualquer outro, embalsamava o ar.
Rumaram para Malaca, onde aportaram a 22 de março. Os habitantes da cidade receberam o venerável morto como o maior respeito. A peste, que ali se manifestava havia já duas ou três semanas, deixara de colher, como vinha colhendo, vidas e vidas. Fora-se como por encanto.
O corpo do Santo foi enterrado no cemitério comum.
Em agosto do mesmo ano, encontraram-no do mesmo modo, todo inteiro, como se dormisse tranquilamente. Dali, levaram-no para Goa e depositaram-no na igreja do colégio de São Paulo, a 15 de março de 1554. Então, muitas e maravilhosas curas se processaram naquele lugar.
Endereçou-se, por ordem de Dom João III, rei de Portugal, processo verbal da vida e dos milagres do servidor de Deus, não somente dos prodígios sucedidos em Goa, mas de todas as partes da Índia. As pessoas que para tal se prestaram eram idôneas, esclarecidas e de probidade reconhecida.
São Francisco Xavier foi beatificado, por Paulo V, que então se sentava na Cátedra de Pedro, em 1619, e canonizado por Gregório IX, em 1621. (Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XX, p. 387 à 392)