Galtério nasceu em 990, na Aquitânia, de pais que habitavam o castelo de Confolens. Educado na abadia do Dorat, foi, pela conduta, exemplo para todos os estudantes.
Um dia, apareceu na comunidade um considerável personagem - Hervê, então tesoureiro de São Martinho de Tours, fervoroso na oração. Galtério, que almejava tornar-se poderoso junto de Deus, pelas orações, achou que devia seguir o visitante, quando este fosse orar na igreja, de modo a descobrir quais as palavras que dirigia aos céus, ou que fórmulas usava quando falava ao senhor. E assim o fez. Chegando furtivamente atrás de Hervê, apenas viu que o santo homem só fazia chorar e suspirar, não pronunciando uma única palavra. E o jovenzinho compreendeu que a melhor oração que se podia dirigir a Deus não era constituída de palavras nem de fórmulas, mas toda ela feita de lágrimas copiosas e de suspiros sem fim.
Anos depois, Galtério tornou-se cônego do Dorat, e, seja com os da comunidade, seja sozinho na cela, estava sempre ocupado em orar a Deus com o maior enlevo, sem que qualquer distração o arrancasse da presença do Altíssimo, porque, observador que era, tirava, com grande proveito, dos defeitos dos outros, as devidas correções para os seus.
Um dia, porque o abade tratava dos cônegos com certa dureza e procurara adoçar-lhe o feroz humor, caiu nas desgraças do superior. Retirou-se, então, para um subúrbio de Confolens. Ali, redobrando as austeridades, não tardou a chamar a atenção da gente do lugar, e, pouco depois, a dos cônegos regulares de Esterp, abadia que estava afeta à diocese de Limoges.
Atraído pelos membros daquela comunidade, Galtério, num instante, conquistou o coração de todos - e foi escolhido como abade, quando o velho superior faleceu, de volta duma peregrinação que empreendera à Terra Santa.
Inicialmente, o santo recusou o cargo com grande veemência, alegando incompetência, todo ele com a humildade e o amor pela tranqüilidade espaventados. Resistiu por longo tempo, implorando que escolhessem outro mais digno e com maiores aptidões, mas a comunidade não se deu por achada: recorreu ao senhor do país, Aymard - e Galtério, instado por este, acabou cedendo. Estava, então, com quarenta e dois anos.
Como abade, Galtério mais governou com os exemplos de vida do que com a autoridade que lhe advinha do posto ao qual o alçaram. Mais humilde ainda, considerava-se o último dos religiosos. Todo zelo, jamais se esqueceu da pobreza das circunjacências e fez esmolas como ninguém o fizera antes dele em Esterp. Os pecadores que converteu foram em grande número.
Sete anos antes da morte, Deus provou-lhe a paciência, tirando-lhe a vista. Cego, Galtério viu-se ainda mais perto do Senhor.
A 11 de Maio de 1070, faleceu o santo com imensa doçura, e o corpo foi enterrado na igreja de Esterp; Deus ilustrou-lhe o túmulo com diversos milagres.
A festa de São Galtério de Esterp foi estabelecida em 1091.
(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume VIII, p. 277 à 279)