Hugo era filho do conde de Semur, Dalmácio, e nasceu em Semur, Brionnais, na diocese de Autum, em 1024.
Amante do estudo e da leitura, aos sete anos foi viver com um tio avô, também Hugo, bispo de Auxerre. Na casa do bom prelado, à vontade, satisfez o desejo que lhe consumia a alma: estudar e ler.
Ardendo pelo claustro, temeroso de que o pai lhe fosse contrário à vocação, porque o conde reservara para o filho a carreira das armas, Hugo, da casa do bispo, diretamente, buscou a abadia de Cluny. Contava, então, quinze anos. Admitido por Odilon, o abade, fez-se noviço, e, em 1039, principiou a professar.
Aos vinte anos, recebeu o sacerdócio, ao mesmo tempo que Odilon lhe impunha o cargo de prior-mor, o que aconteceu em 1048. Durante três anos, viveu na mais estreita amizade com o abade.
Hugo foi religioso de imensa bondade, caridoso e suave. E Odilon, mais do que octogenário, vendo a abadia em tão firmes e boas mãos, acreditou que, sem receio, podia partir para Roma, onde, perto do túmulo dos santos Apóstolos, aspirava morrer. Partiu. Partiu e deixou com Hugo todo o governo espiritual e temporal da célebre comunidade. Quando Hugo soube da morte do velho abade de Cluny, estava em Worms, em missão imposta pelo imperador Henrique III, missão que levou a um feliz desfecho.
Como nada mais o impedisse de regressar, voltou para Cluny, onde devia estar para a eleição que apontaria o sucessor de Odilon. Hugo, por unanimidade, foi o escolhido. Com vinte e cinco anos de idade, o novo abade recebeu a benção abacial no dia 22 de Fevereiro de 1049.
Meses depois, tomava parte do concílio de Reims, presidido por Leão IX, ao qual, antes que se assentasse no trono de São Pedro, conhecera em Brunon, quando da missão de Worms. Tendo acompanhado o Papa a Roma, o nosso abade foi um dos membros mais ativos do concílio que se reuniu na Páscoa de 1050 - no qual se tratou, pela primeira vez, dos erros de Berengário de Tour sobre a Eucaristia.
O abade de Cluny, em Roma, fez sólida amizade com Frederico, abade do Monte Cassino, então chanceler do Santo Padre, e com Hildebrando, abade de São Paulo.
Nem bem regressara a Cluny, teve que viajar para Colônia: ia ser padrinho do principezinho Henrique, o da Germânia. Novamente em Cluny, o Papa, pouco depois, encarregava-o de dificílimo trabalho na Hungria, onde se devia estabelecer a paz, então abalada, entre o rei André e o imperador. Quando tornava, um senhor poderoso, mas pouquíssimo escrupuloso, saqueou-lhe a comitiva e o meteu no cárcere, com os monges que o acompanhavam.
Hugo, para livrar-se, invocou São Mayeul, que o atendeu: no dia seguinte, o saqueador, apareceu na prisão e pediu perdão pelo que praticara, libertando a todos. Em 1054, soube do assassínio do pai, morto por Roberto, o Velho, duque da Borgonha, esposo de Alix de Semur, a filha mais velha de Dalmácio. Impôs-se, então, duras austeridades para a expiação do crime. Com satisfação, viu a mãe retirar-se ao convento de Marcigny.
Morto o Papa Leão IX, em 1054, o santo abade conseguiu de Vitor II, sucessor, a confirmação dos bens, direitos e privilégios de Cluny.
Depois de uma vida toda dedicada aos mais delicados afazeres, como legado, sofrendo pelos erros do afilhado, então Henrique IV, excomungado por Gregório VII, Santo Hugo, com oitenta e cinco anos de idade, falecia na igreja da Santa Virgem, estendido sobre a cinza e um cilício, a 29 de Abril de 1109.
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(Livro Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume VII, p. 347 à 350)