Ah, a idade contemporânea! Lar da extrema tolerância, das extremas permissões, das extremas concessões. Só há um tipo de gente que não se tolera: os verdadeiros católicos. Aqueles que tem fé sofrem ainda mais nessa época de “avanço” das relações humanas. Umas das provas disso é São João Gabriel Perboyre.
Tendo nascido na França, que ainda ecoava os ecos sangrentos da Revolução Francesa, em 1802, decidiu se dedicar de corpo e alma à religião. Em 1817, já num regime mais favorável, João Gabriel entre no seminário de Montauban, dirigido pelos padres lazaristas, filhos de São Vicente de Paulo. Mesmo já tendo terminado seus estudos para ser ordenado sacerdote em 1823, não pôde receber a unção de ministro por ser muito novo, apenas 21 anos. Só alcançou a tamanha graça aos 24, em 1826.
São João Gabriel Perboyre não escondia de ninguém seu ardente desejo de pregar o evangelho na China. Seu coração palpitava por isso, e sua vontade somente procurava uma oportunidade para poder se aplicar. Infelizmente, devido à sua saúde, que era bem frágil, não recebia a ordem. De qualquer modo, se aplicava intensamente nos deveres da ordem, mas não esmorecia a esperança de ser chamado. Tal viagem aconteceu em 1835, alegrando-o profundamente. São João Gabriel sentia que o próprio Jesus lhe impelia: pregaria o Evangelho como os apóstolos o fizeram, em regiões onde nunca havia sido pronunciado o nome de seu Mestre!
Primeiro, o padre Perboyre desembarcou em terras de colonização portuguesa, Macau. Ali, foi inteirado da situação e fez um trabalho pela região, de pregar e auxiliar os novatos na fé. Porém, depois de 4 meses estudando o idioma, pôde partir para outros cantos mais longínquos. Encontrou muitos apóstatas, católicos que tinham renegado a fé por medo da perseguição. A todos consolou e confortou, e os incitou a voltar à santa crença. Batizou e ministrou os demais sacramentos em aldeias pequenas e grandes, e lindo era o exemplo de força e de amor que dava padre João.
Mas o inimigo não o iria deixar em paz: em um domingo, antes de começar a Santa Missa, uma trupe de soldados invadiu o local onde ficava o Padre João Gabriel, que fugiu, escondendo-se num bambuzal. Porém, foi traído por um recente batizado que contou à guarda onde ele ficava. Imediatamente, logo que o encontraram, foi espancado pelo corpo militar. Depois, foi levado “julgamento”: enquanto lhe batiam, era intimado a revelar onde estavam os demais ministros católicos.
Foi arremessado de cadeia em cadeia, sendo uma piada entre a guarda que o capturara. Foi submetido a mais de 20 interrogatórios, todos eles com incessantes torturas e pancadas, sempre para revelar de uma vez onde estavam seus companheiros padres, para que os soldados pudessem matar todos. Em uma das sessões, foi obrigado a pisar num crucifixo. Tendo veementemente se afastado, recebeu a sentença de 110 chicotadas. A tudo suportou o Padre João com ardor, sempre repetindo: “melhor morrer do que pecar”.
Enfim, condenado por ser cristão, recebeu sua punição. Vestido de vermelho dos pés a cabeça, cor para criminosos naquela região da China, foi amarrado em uma cruz em forma de X e deixado a mercê dos brutais soldados. Foi mais uma vez espancado, escarrado, teve os cabelos arrancados e, no fim, pereceu de estrangulamento. Canonizado em 1996, por São João Paulo II, é considerado exemplo de missionário e fiel mártir da Santa Fé.
Há sempre um denominador comum que determina os tolerantes: eles permitem tudo, desde que não sejam censurados em suas ações. Aí daquele que demonstra a um tolerante que seu estilo de vida, seu estilo de pensamento, não é ético! Torna-se seu alvo e recebe, como paga, todo o ódio e toda sua maldade.
Que mal fazia São João Gabriel Perboyre? Levar esperança, levar conforto e consolo de uma fé que acredita na santidade e na melhora do homem pode ser considerado um mal? Que intolerância é essa dos “tolerantes” que leva a mais de 20 sessões de espancamento e, no final, à morte? Poderiam falar: “somos ocidentais, não temos a mesma política dos orientais”, mas sabemos que é mentira. Basta ver a quantos grupos de ódio que nós, ocidentais, damos inteira liberdade de existência e fala, mas aí de quem é católico! "Vida de castidade, fuga do mundo pecaminoso, entrega ao estado de virgindade, isso é maluquice, isso é intolerável!"
Que São João Gabriel Perboyre seja sempre um exemplo para nós de que o demônio, o mundo e a carne são nossos inimigos. E que um cristão pode e deve ser firme em seus princípios, não importando o que lhe digam, ou o mal que façam. Peçamos a Nossa Senhora essa graça, como pedia São João Gabriel: antes morrer do que pecar!