- Eu também quero ir a Tonkin e ser mártir!
Tal exclamação partiu, um dia, dum menino doce, amável e alegre, mas firme, resoluto e positivo. Chamava-se João Teófano Venard, filho de família cristã, honesta e pobre.
Nascido a 21 de Novembro de 1829, pastoreava o rebanho do pai, que matutava em como poderia fazê-lo estudar, se os recursos eram bem minguados. Com sacrifício, porém, tirou-o do trabalho e enviou-o ao presbitério de São Lobo.
João foi estudante consciencioso. Sabia do sacrifício que por ele estavam fazendo e, pois, aplicou-se a fundo nos estudos. O resultado foi a transferência que teve para Anjou, para o Colégio de Doué. Com a morte da mãe, em 1843, um terno laço uniu João Teófano à irmã mais velha, a boa Melânia, a Melânia das confidências, das longas cartas, dos colóquios sem fim.
Quando no grande seminário de Poitiers, o pensamento de se fazer missionário principiou a se cristalizar. E durante as férias que seguiram sua ordenação nas ordens menores, referiu à irmã a vocação. Queria ser missionário. Era o eco da exclamação há tantos anos proferida que reboava agora na juventude.
Quando João Teófano obteve a decisão de seu diretor espiritual, escreveu uma longa e carinhosa carta ao pai. E, quando partiu, já missionário, tudo fora tão às pressas, que nem mesmo tempo tivera de se despedir da família.
Em 23 de Setembro de 1852, o zeloso servidor de Jesus Cristo embarcava para Antuérpia. Chegado a Hong-Kong, pôs-se alegremente a estudar o chinês.
Chegou afinal, o dia em que se viu no sonhado Tonkin, na missão. Ali, esperava-o uma surpresa: revia, depois de muitos anos, um colega de outrora, Theurel. Ia principiar para o doce, amável e alegre pastorzinho doutros tempos a via dolorosa.
Depois de vários anos de missão, João Teófano foi preso por um dos chefes de cantões. Era em 1860, e o ardoroso missionário estava tão somente com 31 anos de idade. Encerrado numa como jaula de bambu, lá se foi o bravo soldado de Cristo levado para o tribunal de Annam. Condenado à morte, somente em 1861 os mandarins deram ordens para a execução.
Nesse meio tempo, de Novembro de 60 a Fevereiro de 61, João Teófano escreveu cartas admiráveis à família, sofrendo com heroísmo. Levado ao lugar do suplício, foi decapitado. E a cabeça, num salto, mergulhou no rio que corria a poucos metros, e desapareceu.
O corpo foi sepultado no local mesmo do suplício, e a cabeça, dias depois, isto é, a 15 do mesmo mês, foi encontrada quatro léguas afastada.
Com João Teófano Venard, morreram também vinte e nove companheiros, naturais do pais.
Em 11 de abril de 1909, o Papa São Pio X beatificou João Teófano Venard e o Pontífice João Paulo II o canonizou em 16 de junho de 1988 com outros 116 martíres vietnamitas. (Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume II, p. 360 à 362)