Se há alguma coisa que temos certeza nesta vida é a de que Deus não abandona seus eleitos. Sua Providência Divina está sempre suprindo a Santa Igreja, não a deixando abandonada não importando a tempestade que se abata sobre sua Sagrada Nau. Com São Filipe Néri não foi diferente, pois ele foi a resposta a um problema particularmente espinhoso que se manifestava: a revolta de Lutero.
São Filipe nasce no ano de 1515, somente dois anos antes de Lutero afixar suas 95 teses na porta da igreja alemã. O padre Néri cresceria sob as novas luteranas, sua interpretação tendenciosa da Sagradas Escrituras e o grande movimento de cisão que muitos povoados, vilas e reinos veriam: o nascimento da religião protestante.
A doutrina Luterana tem aspectos de contradição marcantes, mas que ficavam acobertadas por uma explicação simplória: “era a vontade de Deus”. Para alguns, Lutero dizia que já estavam salvos, e, portanto, podiam fazer tudo o que quisessem, todos os tipos de pecado e fealdade, que, no final da vida, Jesus os perdoaria e iriam para o Céu. Seu lema era “Peca Forte”, pois via na redenção de Cristo um passe, sem nenhuma requisição, para entrada no Paraíso. A outros, porém, pregava que já estavam condenados, e que não adiantava de nada qualquer ato de virtude ou moralidade. Assim, também podiam fazer tudo o que quisessem, pois não havia esperança.
Tais doutrinas recebiam o nome de presunção de salvação, para aqueles incondicionalmente salvos, e certeza de condenação, para aqueles incondicionalmente perdidosamor de
Mais tarde, em 1585, um personagem entraria para tornar a fala de Lutero ainda mais radical: Jansenio, que doutrinaria todo norte extremo da Europa. Sua religião era a tristeza, pois, para ele, todos já estavam condenados com certeza, a não ser se vivessem uma vida tão rigorosa, tão mortificante, que aí sim, se enquadrariam no número dos eleitos.
Nosso Senhor, vendo o perigo que ameaçava sua Igreja, suscitou nesta época santos que combatiam vigorosamente os erros dos protestantes. Temos Santo Inácio, fundador dos jesuítas, que por seu porte e doutrina não deixava espaço para as falas de Lutero: “Faça tudo como se dependesse unicamente de você, sabendo que tudo depende unicamente de Deus”. Santo Inácio usava das cartas de São Tiago, da onde vinha o ilustre conselho: “a fé sem obras é morta”, para sinalizar que não deve haver a presunção ou desesperação, mas a luta pela conquista do Céu, ao mesmo tempo que a esperança na ajuda do Senhor.
Porém, de nada adiantaria Deus contrarrestar os erros somente no campo das ideias; o ser humano é também sentimento, é também sensibilidade, e, para demostrar que o Senhor não é o Deus dos mortos, mas dos vivos, ele suscitou nosso querido Filipe Néri. Este, sem nunca se envolver na vida religiosa, tinha uma espécie de “projeto” com a juventude romana: sempre fazia uma peregrinação, num dia específico da semana, às basílicas da Cristandade Romana. Começavam na de São Pedro, onde havia um comentário a Bíblia, e depois se punham a caminho à de São Paulo.
Nesta peregrinação, não havia lugar para a carranca. Os jovens se divertiam com as histórias do Padre Filipe Néri, que fazia muitas brincadeiras e às vezes dava imensas gargalhadas pelas dúvidas dos mais novos. Ele não permitia espaço para a tristeza, pois de uma coisa ele tinha certeza: um santo triste é um triste santo.
Em muitas vezes ele era repreendido por personagens mais ilustres, devido ao nível de risada e divertimento dos que estavam com ele. A isso, ele respondia: “Deixo-os, desde que não pequem, não estão fazendo nada errado!”
Em uma certa ocasião, dois padres, seus colegas, começaram um desentendimento e não queriam mais se ver. Ele chamou os dois, e, sendo superior deles, ordenou aos dois que cantassem e dançassem uma música, um para o outro. Diante de tal situação, os padres, cumprindo a obediência, perceberam a futilidade de sua desavença, e, rindo com verdadeira alegria, reataram sua amizade.
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São Filipe Néri, assim, se configura numa resposta de Deus à tristeza futuramente pregada por Jansenio. A virtude não entristece, e a prática dos mandamentos da Lei de Senhor, antes de nos aprisionar, nos liberta, deixando-nos em paz para que gozemos da felicidade dos Filhos de Deus. Que o Padre Néri continue abençoando nossa vida, tornando-a cheia de cor e de felicidade, pois, como São Paulo afirma: “Minha alegria está em Cristo”; Este não está morto, mas vivo e triunfante.