São Teobaldo era aparentado com o São Teobaldo que foi arcebispo de Viena. Filho de Arnoul e de Willa, ou Guilla, ainda Gisla, que deu Gisela, foi-lhe padrinho de batismo o conde Teobaldo III de Blois.
O nosso Santo passou os primeiros anos de vida na piedade e na inocência, sem ouvir os chamados dos prazeres do mundo. Desde menino, sentiu-se atraído, sim, pela solidão, e, continuamente, ficava absorto nas leituras santas, considerando a vida de Elias no monte Carmelo, de São João Batista ao longo do rio Jordão, de São Paulo e de Santo Antônio na Tebaida. Nestas ocasiões, retirado de todos, penetrava-lhe fundamente na alma o desejo imenso de se afastar de todo o burburinho do mundo, de viver bem longe de vozes humanas, na mais completa solidão.
Logo, principiou a visitar um ermitão, chamado Burchard, que levava a vida numa das pequeninas ilhas do Sena, Contaminado pela santidade do solitário, Teobaldo deixou o século, indo, com um dos amigos, Gualtério para a abadia de São Remi de Reims, depois para a Alemanha, ambos a mendigar, com muita humildade.
Agradados com a majestade e a perene quietude da floresta de Pettingen, distante dezesseis quilômetros, mais ou menos, de Luxemburgo, ali se fixaram. E, a ajudar era este, ora aquele, trabalhando a terra, fazendo carvão, ou mourejando nas colheitas, ganhavam alguma coisa, o suficiente para animar a vida.
Virtuosíssimos, passaram os dois amigos, num instante, a ser venerados por toda a gente da vasta região. E as visitas se sucediam tão amiudadamente, que já nem lhes era possível dedicar sequer uma hora das coisas de Deus. Assim, resolveram partir da quieta floresta majestosa, e, descalços, uma noite, demandaram outras plagas, alegres, debaixo do céu crivado de estrelas. E foram andando. Caminharam longamente, a fazer pequenas paradas, a falar das coisas eternas, a pensar, e só, em Jesus Senhor nosso.
Em Roma, depois de terem visitado muito contritamente todos os lugares de peregrinação, pensaram em Jerusalém. Iriam a Jerusalém. Iniciaram a jornada, animadíssimos, mas antes mesmo de chegar a Veneza, as forças entraram-lhes a descambar: esgotados, depois de dias infindos de andanças, pararam, exaustos, em Salanigo, que ficava perto da abadia de Vangadizza, na diocese de Adria.
Logo, avistaram uma capela, singela, muito castigada pelas intempéries. Dedicada a Santo Hermágoras e a São Fortunato, jazia um tanto ou quanto em ruínas.
Ao lado da igrejinha, Teobaldo e Gualtério edificaram duas toscas celas diminutas, e, ali, passaram a viver na mais completa soledade, a orar, a cantar salmos, penitenciando-se, a macerar o corpo já macerado.
Dois anos depois, Deus levou o bom Gualtério. Teobaldo, sozinho, redobrou de austeridades. Comia pouquíssimo. Uma côdea de pão, que alguma alma caridosa lhe levava, ou então, um punhado de grãos, uma tigela risível de legumes. Dormindo na rijeza do chão, Teobaldo sempre procurava os lugares mais incômodos.
Tal gênero de vida devia ser recompensado por Deus. Devia e foi. Anjos, sob as mais graciosas aparências, enchiam-lhe docemente a cela. E os milagres que então principiou a obrar. Levaram-no a ser considerado, por toda a gente do lugar, como um grande santo.
O bispo de Vicenzo elevou-o ao sacerdócio. E a reputação do santo ermitão crescia tanto, que o conde Arnoul, com Gisela, buscaram a Itália para rever o filho.
Quando chegaram, de coração pulando dentro do peito, ambos, impulsionados pelo emoção incontida, outra coisa não fizeram senão cair de joelhos diante daquele que lhes saíra da própria carne. E, assim, prosternados, de olhos rasos d'água, mudos, sem murmurar sequer uma curta exclamação, porque embargados, aos pés do santo filho amado, pequenos, muito pequenos, deixaram-se ficar longamente.
Magro, esquálido, quase transparente, Teobaldo revestia-se duma como luminosidade angelical.
O pai e a mãe, cheios do mais puro desejo de se consagrar à mesma vida, decidiram permanecer ao pé do santo Teobaldo. Gisele ficou definitivamente. E Arnoul tornou: poria os negócios em ordem e depois voltaria para os dois entes amados, para sempre.
Pouco depois, atacado de úlceras, que lhe cobriram o corpo todo, o doce ermitão que os anjos visitavam deixou o mundo, aquele mundo que, fazia muito, gostosamente deixara para unicamente viver para Deus.
O abade de Vangadizza, que há um ano atrás lhe conferira o hábito dos camaldulos, e Gisele, receberam-lhe ó último suspiro, as últimas palavras:
- Senhor, tem piedade de teu povo!
Corria o ano de 1066, era a 30 de Junho, e o santo homem, naquele retiro, vivera doze anos.
Desapareceram-lhe, então as úlceras todas. Do mal, nem os sinais ficaram no magro corpo castigado.
Sepultado na capela dos santos mártires Leôncio e Carpóforo, na catedral de Vicenzo, no dia 3 de Julho em 1074, secretamente subtraído da tumba, foi levado para a abadia de Vangadizza.
Mais tarde, um irmão de São Teobaldo, Arnoul, que era abade de Santa Colomba de Sens e de Lagny, pleiteou as relíquias do santo ermitão, as quais foram, pelo próprio irmão abade, levadas para Sens.
Depois dum milagre, ocorrido no bosque de Hetres, construiu-se uma igreja dedicada a São João Batista - origem do priorado que se denominou São Teobaldo das Videiras.
São Teobaldo foi canonizado pelo Papa Alexandre II, o que quer dizer que foi elevado ao número dos santos em menos de sete anos depois do falecimento. (Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XI, p. 390 à 394)