Qual é o limite máximo da vida para se tornar uma pessoa de sucesso? Até quando alguém deve tentar achar sua vocação? São João de Deus tinha 43 quando entendeu finalmente para o que tinha nascido.
Acompanhemos, junto com os passos errantes que ele deu, a lição que São João aprendeu da Providência Divina.
O pequeno João era português, tendo nascido em Montemor-o-Novo, em 8 de março de 1495. O primeiro fato que sabemos de sua infância é no momento em que sua família se desmantela.
Não se sabe bem se foi por escolha própria ou se o menino foi sequestrado, mas aos 8 anos ele está na Espanha. Talvez tenha sido vítima de um crime; quiçá se sentiu decepcionado com algo e fugiu. Ele é o padroeiro dos perdidos, e de perdido teve muito.
O fato é que sua mãe, sofrendo com a separação, falece logo em seguida. Seu pai, pedindo para ser aceito em um mosteiro, encerra lá seus dias. Situação bem trágica para o jovem João, que um dia voltaria a cidade natal e não encontraria mais nada dos seus.
Até seus 14 anos, João de Deus esteve em Madri, cuidado por um pai adotivo, Francisco Majoral, trabalhando como pastor do conde de Oropesa. Francisco, quando seu pupilo atinge a maioridade da época, o toma como seu discípulo e o contrata para que trabalhe pastoreando seu rebanho.
Vale a pena notar que São João cresceu com a pequena filha de Francisco e, quando completou seus 28 anos, este quis unir seus dois protegidos pelo sacramento do matrimônio.
Aqui, mais uma vez João mostra o quanto ainda está perdido. Sem saber se queria realmente casar-se, foge da casa de seu amado tutor.
São João lutou as batalhas dos outros, fugindo da sua: foi soldado de Carlos V, e venceu. Conseguiu um ordenado e também deixou o exército. La também não era seu lugar.
Para onde iria o perdido João de Deus?
Encontramo-lo no norte da África, agora trabalhando como vendedor ambulante. Nas quentes ruas da civilização africana, ele também não encontrou sua vocação. Voltou então, para sua cidade natal.
Não havia mais nada para ele lá. Não o conheciam, não conhecia ele mais nenhum parente vivo. Agora, de fato, percebeu ele que só a Deus pertencia, a mais ninguém ou nenhum lugar.
O que faria São João, beirando seus 40 anos, sem entender realmente quem era? Decidiu voltar a Espanha, terra que se formara. Mas não pisaria novamente em Madri, mas sim em Granada.
Lá, abriu uma livraria. Lá, os planos de Deus se concretizariam.
Um dia, João de Deus foi ouvir uma pregação de um famoso padre da região: João de Ávila. Sim, o fogo o Espírito Santo que inundava o coração do famoso Santo de Andaluzia passou para o do homem perdido, de um João para outro.
E, ali, ele entendeu. Entendeu que vivera uma vida errante, sem saber o que queria ser porque não fez a pergunta certa: “o que Deus quer de mim?” Todos os caminhos, da Espanha a África, levaram-no para aquela Igreja, naquele dia.
Nada foi em vão. Nada que o machucou deixou de ter um propósito maior. Hoje São João de Deus é aclamado como o fundador dos hospitaleiros, uma ordem religiosa que nasceu em fins da Idade Média para atender aos pobres doentes mentais, com toda caridade e amor de Cristo.
São Gregório Magno, em seu Livro sobre São Bento, dizia que o ancião de Núrsia sabia viver consigo mesmo. Por anos São João não soube viver consigo mesmo. Talvez você, caro leitor, também não saiba.
Isso, como vimos, não é motivo para desespero. Deus tem seus caminhos. São João de Deus é a prova viva disso. Portanto, reze sempre ao Senhor, peça para que Ele desvende as suas vias. Mas sobretudo peça força pela longa caminhada que talvez você fará para se encontrar consigo mesmo.