Nem todos os seres criados podem ser considerados como filhos de Deus. Para alguns, Deus é Criador ou Autor, mas não Pai.
Para que haja filiação, dentro do próprio âmbito do humano, é indispensável que o pai transmita de algum modo sua natureza específica, sua própria vida.
Assim, por exemplo, nenhum homem pode ser pai de uma estátua, nem de um animal.
Deus tem apenas um Filho segundo a natureza: o Verbo Encarnado. Só a Ele o Pai transfere eternamente, por uma inefável geração intelectual, a natureza divina em toda sua infinita plenitude.
Entretanto, a graça santificante confere aos batizados uma participação real e verdadeira nessa filiação, por uma
adoção intrínseca, a qual põe em nossa alma, física e formalmente, uma realidade absolutamente divina, que faz circular (empregando uma linguagem metafórica que envolve uma realidade sublime) o “próprio sangue de Deus” nas veias de nossa alma.
Em virtude deste enxerto divino, a alma se faz participante da mesma vida de Deus. Trata-se de uma verdadeira geração espiritual, um nascimento sobrenatural que imita a geração natural e recorda, por analogia, a geração eterna do Verbo de Deus.
Em uma palavra: como diz expressamente o Evangelista São João, a graça santificante não nos dá apenas o direito de nos chamarmos filhos de Deus, senão que nos faz tais em realidade: “Vede que amor nos mostrou o Pai, que sejamos chamados filhos de Deus, e o sejamos de verdade” (1 Jo 3, 1). Inefável maravilha que pareceria inacreditável se não constasse expressamente na divina revelação!