Conservareis a memória daquele dia, de geração em geração. Vendo o sangue, (do cordeiro) passarei adiante, e não sereis atingidos pelo flagelo destruidor. (Ex 12, 14.13) Onde queres que preparemos a ceia pascal? - Meu tempo está próximo. É em tua casa que celebrarei a Páscoa com meus discípulos. (Mt 26, 17-18) Raiou o dia dos pães sem fermento, em que se devia imolar a Páscoa. Jesus enviou Pedro e João, dizendo: Ide e preparai-nos a ceia da Páscoa. Perguntaram-lhe eles: Onde queres que a preparemos? Ele respondeu: Ao entrardes na cidade, encontrareis um homem carregando uma bilha de água; segui-o até a casa em que ele entrar, e direis ao dono da casa: O Mestre pergunta-te: Onde está a sala em que comerei a Páscoa com os meus discípulos? Ele vos mostrará no andar superior uma grande sala mobiliada, e ali fazei os preparativos. Foram, pois, e acharam tudo como Jesus lhes dissera; e prepararam a Páscoa. (Lc 22, 7-13)
Pai Nosso..., Ave Maria..., Glória ao Pai...
Pela sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.
Meu Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.
Segundo as visões da beata Ana Catharina Emmerich: Preparação para a Ceia Pascal.
(Quinta-feira Santa, 13 de Nisan ou 29 de Março; Jesus na idade de 33 anos, 18 semanas menos 1 dia)
Foi ontem à noite que se efetuou em Betânia e a última e grande refeição de Nosso Senhor e dos seus amigos, em casa de Simão, curado da lepra por Jesus e durante a qual Maria Madalena ungiu Jesus pela última vez. Judas, indignado com isso, correu a Jerusalém, onde negociou ainda uma vez com os príncipes dos sacerdotes, para entregar-lhes Jesus. Depois da refeição, voltou Jesus à casa de Lázaro e uma parte dos discípulos dirigiram-se à albergaria, situada fora de Betânia. Nicodemos veio ainda de noite à casa de Lázaro, onde teve longa conversa com o Senhor; voltou a Jerusalém antes do amanhecer, acompanhado numa parte do caminho por Lázaro.
Os discípulos já tinham perguntado a Jesus onde queria comer o cordeiro pascal. Hoje, antes da madrugada, Nosso Senhor mandou vir Pedro e João e falou-lhes muito de tudo que deviam comprar e preparar em Jerusalém; disse-lhes que, subindo o monte Sião, encontrariam um homem com um jarro de água. (Eles já conheciam esse homem, pois fora quem já na última Páscoa, em Betânia, preparara a ceia de Jesus; por isso diz S. Mateus: um certo homem). Deviam segui-lo até a casa em que morava e dizer-lhe: “O Mestre manda avisar-te que seu tempo está perto e que quer celebrar a Páscoa em tua casa”. Deviam pedir que lhes mostrasse o Cenáculo que já estaria preparado e fazer-lhe depois todos os preparativos necessários.
Vi os dois Apóstolos subirem a Jerusalém, seguindo um barranco ao Sul do Templo e subirem ao monte Sião pelo lado setentrional. Ao lado Sul do monte do Templo havia algumas fileiras de casas; seguiram um caminho que passava em frente destas casas, ao longo de um ribeiro, que corria no fundo do barranco e os separava das casas. Tendo chegado à altura de Sião, que é mais alto do que o monte do Templo, dirigiram-se a um largo um pouco em declive, na vizinhança de um velho edifício, cercado de pátios; ali, no largo, encontraram o homem que lhes fora indicado, seguiram-no e perto da casa lhe disseram o que Jesus lhes ordenara.
Ele se regozijou muito de os ver e, ouvindo o recado, respondeu-lhes que a refeição já lhe tinha sido encomendada (provavelmente por Nicodemos), sem que soubesse para quem era, mas que muito lhe agradava saber que era para Jesus. Esse homem era Elí, cunhado de Zacarias de Hebron, o mesmo em cuja casa Jesus anunciara, no ano anterior, em Hebron, a morte de S. João Batista. Tinha só um filho, que era Levita e amigo de Lucas, antes deste se juntar a Jesus, anunciara, no ano anterior, em Hebron, a norte de S. João Batista. Tinha só um filho, que era Levita e amigo de Lucas, antes deste se juntar a Jesus, e além desse, também 5 filhas solteiras. Todos os anos ia com os criados à festa e, alugando uma sala, preparava a Páscoa para as pessoas que não tinham casa em Jerusalém. Neste ano tinha alugado um cenáculo, pertencente a Nicodemos e José de Arimatéia. Mostrou aos dois Apóstolos a sala e o arranjo interior.
O Cenáculo ou Casa da Ceia
Ao lado sul do monte Sião, perto do castelo abandonado de Davi e do mercado situado na subida, à leste desse castelo, se acha um velho e sólido edifício, entre duas fileiras de árvores copadas e no meio de um pátio espaçoso, cercado de muros fortes. A direita e à esquerda da entrada há ainda outras construções encostadas ao murro: à direita a habitação do mordomo e, perto desta, outra à qual Nossa Senhora e as santas mulheres às vezes se retiravam, depois da morte de Nosso Senhor. O Cenáculo, antigamente mais espaçoso, servira de morada aos bravos capitães de Davi, que ali se exercitavam no manejo das armas; também estivera ali por algum tempo a Arca da Aliança antes da construção do Templo e ainda há indícios de sua estrada num subterrâneo da casa. Vi também uma vez o profeta Malaquias escondido nos mesmos subterrâneos, onde escreveu as profecias acerca da sagrada Escritura e do sacrifício do Novo Testamento. Salomão tinha também esta casa em muito respeito, por certa relação simbólica, a qual, porém, esqueci. Quando grande parte de Jerusalém foi destruída pelos Babilônicos, ficou salva essa casa, a respeito da qual tenho visto muitas outras coisas, mas lembro-me só do que acabo de contar.
O edifício estava meio arruinado, quando se tornou propriedade de Nicodemos e José de Arimatéia, que restauraram a casa principal e acomodaram-na bem, para a celebração da festa da Páscoa, fim para o qual costumavam alugá-la a forasteiros, como fizeram também na última Páscoa do Senhor. Além disso, serviam-lhes a casa e os pátios de armazém para monumentos sepulcrais e pedras de construção, como também de oficina para os operários, pois José de Arimatéia possuía excelentes pedreiras nas suas terras e negociava em pedras sepulcrais e variadíssimas colunas e capitéis, esculpidos sob sua direção. Nicodemos trabalhava muito como construtor e, nas horas vagas, gostava de ocupar-se também com a escultura, fora da época das festas, esculpia estátuas e monumentos de pedra, na sala ou no subterrâneo debaixo desta. Essa arte pusera-o em contato com José de Arimatéia; tornaram-se amigos e muitas vezes se associaram também nas empresas.
Nessa manhã, enquanto Pedro e João, enviados de Betânia por Jesus, conversavam com o homem que tinha alugado o Cenáculo para aquele ano, vi Nicodemos indo para além e para aquém das casas à esquerda do pátio, para onde tinham sido transportadas muitas pedras, que impediam as entradas da sala do Cenáculo. Havia uma semana, eu vira algumas pessoas ocupadas em pôr as pedras ao lado, em limpar o pátio e preparar o Cenáculo para a celebração da Páscoa; julgo até ter visto, entre outros, alguns discípulos de Jesus, talvez Aram e Temeni, sobrinhos de José de Arimatéia.
A casa principal, o Cenáculo propriamente dito, está quase no meio do pátio, um pouco para o fundo. É um quadrilátero comprido, cercado por uma arcada menos alta de colunas, a qual, afastados os biombos entre pilares, pode ser unida à grande sala interior; pois todo o edifício é aberto de lado a lado e pousa sobre colunas e pilares; apenas estão as passagens fechadas ordinariamente por biombos. A luz entra por aberturas existentes no alto das paredes. Na parte estreita da frente, há um vestíbulo, ao qual conduzem três entradas; depois se entra na grande sala interior, alta e com bom assoalho lajeado; do teto pendem diversas lâmpadas; as paredes estão ornadas para a festa, até meia altura, com belas esteiras e tapetes e no teto há uma abertura coberta com um tecido brilhante, transparente, semelhante à gaze azul.
O fundo da sala está separado do resto por uma cortina igual. Essa divisão do Cenáculo em três partes dá-lhe uma semelhança com o Templo; há também um adro, o santo e o santo dos santos. Nesta última parte é que são guardados, à direita e à esquerda, as vestimentas e vários utensílios. No meio há uma espécie de altar. Sai da parede, um banco de pedra com a ponta cortada no meio das duas faces laterais; deve ser a parte superior do forno, no qual o cordeiro pascal é assado; pois hoje, durante a refeição, estavam os degraus em roda muito quentes. Ao lado dessa parte do Cenáculo, há uma porta, que dá para o alpendre que fica atrás da pedra saliente; de lá é que se desce ao lugar onde se acende o fogo no forno; há ali ainda outros subterrâneos e adegas, debaixo da grande sala.
Naquela pedra ou altar saliente da parede há várias divisões, semelhantes a caixas ou gavetas, que se podem tirar; em cima há também aberturas como de uma grelha, uma abertura também para fazer fogo e outra para apagá-lo. Não sei mais descrever exatamente tudo que ali vi, parece ter sido um forno para cozer o pão ázimo da Páscoa e outros bolos ou também para queimar incenso ou certos restos das refeições da festa; é como uma cozinha pascal. Por cima dele, vi a figura de um cordeiro pascal; tinha cravado na garganta uma faca e o sangue parecia cair gota a gota sobre o altar; não sei mais exatamente como era feito. Dentro do nicho da parede há três armários de diversas cores, os quais se fazem girar como os nossos tabernáculos, para se abrirem e fecharem. Neles vi todas as espécies de vasos para a Páscoa, taças e mais tarde também o SS. Sacramento.
Nas salas laterais do Cenáculo há assentos ou leitos em plano inclinado, feitos de alvenaria, sobre os quais se acham mantas grossas enroladas; são leitos de dormir. Debaixo de todo o edifício há belas adegas; antigamente esteve ali no fundo a Arca da Aliança, onde, em seguida, foi construído o forno pascal. Debaixo da casa há cinco esgotos, que levam todas as águas e imundícies monte abaixo, pois a casa está situada no alto. Já antes vi Jesus curar e ensinar aqui; às vezes passavam alguns discípulos à noite nas salas laterais.
Disposições para a refeição pascal
Tendo os Apóstolos falado com Helí de Hebron, voltou este pátio da casa; eles, porém, se dirigiram para a direita, a Sião, desceram pelo lado norte, passaram uma ponte e, seguindo por veredas ladeadas de sebes verdejantes, foram pelo outro lado do barranco, até às fileiras de casas ao sul do Templo. Ali era a casa do velho Simeão, que morrera depois da apresentação de Jesus no Templo.
Moravam então lá os filhos do venerando ancião; alguns eram secretamente discípulos de Jesus. Os Apóstolos falaram a um deles, que era empregado no Templo; era homem alto e muito moreno. Ele desceu com os Apóstolos, passando a leste do Templo, por aquela parte de Ophel pela qual Jesus entrara triunfalmente em Jerusalém, no domingo de Ramos; assim foram pela cidade, ao norte do Templo, até o Mercado de gado. Vi na parte meridional do mercado pequenos recintos, onde belos cordeiros saltavam como em pequenos jardins.
Na entrada triunfal de Jesus pensei que isso fora feito para abrilhantar a festa; mas eram cordeiros pascais, que se vendiam ali. Vi o filho de Simeão entrar num desses recintos; os cordeiros seguiram-no, saltando, e empurravam-no com as cabeças, como se o conhecessem. Ele escolheu quatro, que foram levados ao Cenáculo. Vi-o também de tarde no Cenáculo, ajudando na preparação do cordeiro pascal.
Vi como Pedro e João deram ainda vários recados na cidade, encomendando muitas coisas. Vi-os também fora de uma porta, ao norte do monte Calvário e a NO da cidade; entraram numa estalagem, onde ficaram nesses dias muitos discípulos, a qual estava sob a administração de Seráfia, (conhecida pelo nome de Verônica). Pedro e João mandaram alguns discípulos de lá ao Cenáculo, para dar alguns recados, dos quais me esqueci.
Foram também à casa de Seráfia, à qual tinham de pedir diversas coisas; o marido desta, membro do conselho, estava a maior parte do tempo fora de casa, em negócios e, mesmo quando estava em casa, ela o via pouco. Seráfia era uma mulher quase de idade da SS. Virgem e há tempo estava em relações com a Sagrada Família; pois quando o Menino Jesus, depois da festa, ficara atrás, em Jerusalém, comera em casa dela.
Os dois Apóstolos receberam ali diversos objetos, em cestos cobertos, que foram levados ao Cenáculo, em parte pelos discípulos. Foi também ali que receberam o cálice de que Nosso Senhor se serviu, na instituição da sagrada Eucaristia.
Jesus vai a Jerusalém
Na manhã em que os dois Apóstolos andaram por Jerusalém, ocupados com os preparativos de Páscoa, Jesus se despediu muito comovido das santas mulheres, de Lázaro e de sua Mãe em Betânia, dando-lhes ainda algumas instruções e exortações.
Vi o Senhor conversar com a Virgem SS. Separadamente; disse-lhes, entre outras coisas, que tinha mandado a Pedro, o representante da fé, e João, o representante do amor, para prepararem a Páscoa em Jerusalém. De Madalena, que estava desvairada de dor e tristeza, disse o Mestre que o seu amor era indizível, mas ainda arraigado na carne e que por isso ficava desatinada de dor. Falou também das intenções traiçoeiras de Judas e a Santíssima Virgem pediu por este.
Judas tinha ido novamente de Betânia a Jerusalém, sob pretexto de fazer várias compras e pagamentos. De manhã interrogou Jesus os nove Apóstolos a respeito, apesar de saber perfeitamente o que Judas estava fazendo. Este correu todo o dia pelas casas dos fariseus, combinando tudo com estes; O traidor premeditou todos os passos que carecia dar, para que pudesse sempre explicar a sua ausência; não voltou para junto de Nosso Senhor, senão pouco antes de comerem o cordeiro pascal. Vi-lhe todas as conspirações e os pensamentos. Quando Jesus falou a Maria acerca de Judas, vi muitas coisas em relação ao caráter deste; era ativo e atencioso, mas cheio de avareza, ambição e inveja e não lutava contra as paixões. Fizera também milagres e curara doentes na ausência de Jesus.
Quando Nosso Senhor comunicou à SS. Virgem o que havia de suceder, pediu ela de modo tocante que a deixasse morrer com Ele. Mas Jesus exortou-a a que mostrasse mais calma na dor do que as outras mulheres; disse-lhe também que ressuscitaria e lhe indicou o lugar onde lhe, apareceria. A Mãe SS. Então não chorou muito, mas ficou tão profundamente triste e séria que impressionou a todos. Nosso Senhor, como Filho piedoso, agradeceu-lhe todo o amor que lhe tinha mostrado; abraçou-o com o braço direito e apertou-a ao coração; disse-lhe também que faria a ceia com ela espiritualmente, indicando-lhe a hora em que a receberia. Ainda se despediu de todos, muito comovido, e instruiu-os sobre muitas coisas.
Cerca de meio dia partiu Jesus de Betânia, com os nove Apóstolos, tomando o caminho de Jerusalém; seguiram-no sete discípulos que, com exceção de Natanael e Silas, eram naturais de Jerusalém e arredores. Lembro-me que entre estes estavam João Marcos e o filho da viúva pobre, que na quinta-feira antecedente oferecera o denário no Templo, enquanto Jesus ensinava. Havia poucos dias Jesus admitira o último como discípulos. As santas mulheres seguiram mais tarde.
Jesus e a comitiva andaram por aqui e por ali, por diversos caminhos ao redor do monte das Oliveiras, no vale de Josafá e até o monte Calvário; durante todo o caminho, continuou a ensinar-lhes. Disse aos Apóstolos, entre outras coisas, que até agora lhes dera pão e vinho, mas hoje queria dar-lhes seu corpo e sangue, que lhes daria e deixaria tudo que tinha. Nosso Senhor disse-o de uma maneira tão tocante, que toda a alma parecia fundir-se Lhe e languir de amor, com o desejo de se lhes dar. Os discípulos não O compreenderam, julgaram que falava do cordeiro pascal. Não se pode exprimir quanto havia de amor e resignação nos últimos discursos que fez em Betânia e aqui. As santas mulheres foram mais tarde à casa de Maria, mãe de Marcos.
Os sete discípulos que seguiram Nosso Senhor a Jerusalém, não O acompanharam no caminho, mas levaram as vestimentas da cerimônia da Páscoa ao Cenáculo, já encontraram todo o vestuário da cerimônia no vestíbulo, onde os discípulos e alguns outros o tinham colocado; também tinham coberto as paredes da sala com tapeçaria, desprendido as aberturas do teto e aprontado três candeeiros de suspensão. Pedro e João foram então ao vale de Josafá, para chamar a Jesus e aos nove Apóstolos. Os discípulos e amigos que comeram com eles o cordeiro pascal vieram mais tarde.