Pode contar-nos como o senhor, em sua juventude, conheceu a Igreja e tornou-se católico?
Foi um processo relativamente longo, mas não muito difícil. Quando completei 14 anos, em fevereiro de 1989, comecei a refletir sobre a religião enquanto tal. Queria simplesmente esclarecer, por mim mesmo, o papel da Igreja Católica e do Cristianismo. Li vários livros. Lancei-me a estudar os textos fundamentais do Cristianismo, da Igreja. Assisti a algumas cerimônias de ordenação sacerdotal, ministradas pelo Arcebispo de Praga, Cardeal Tomášek. Alguns meses depois, telefonei a um sacerdote cujo nome encontrei por acaso na lista telefônica. Era o professor Wolf, futuro decano da Faculdade de Teologia, o qual se dispôs a preparar- -me para o Batismo. Iniciou-se assim o meu catecumenato, que se concluiu em novembro: fui batizado no dia 10 desse mês.
O seu nome de Batismo é Gregório. Por que escolheu esse nome?
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"Ao desejo de ser cristão juntou-se logo o de ingressar numa das muitas Ordens religiosas que havia em Praga" Um momento da entrevista, realizada no Seminário dos Arautos do Evangelho, Caieiras |
Por duas razões. A principal é a minha admiração por São Gregório Magno. Li a sua vida e agradou-me sobremaneira o fato de ser um fervoroso monge beneditino. Por outro lado, já naquela época eu tinha grande apreço pelas ciências naturais, pela biologia, pela botânica. E admirava muito também o trabalho do famoso abade agostiniano Gregório Mendel, o fundador da genética moderna, que viveu na Morávia, no século XIX. Para dizer a verdade, andavam juntas as duas admirações: ao santo Pontífice e ao insigne cientista.
De recém-batizado a frade dominicano, qual foi o percurso?
Não foi longo, pois nasceram quase ao mesmo tempo em minha alma a decisão de ser batizado e a ideia de consagrar minha vida a Deus. Ao desejo de ser cristão juntou-se logo o de ingressar numa das muitas Ordens religiosas que havia em Praga. Quando cheguei aos 16 anos compreendi que a minha via, aquela mais proporcionada a mim, e para a qual Deus me chamava, era provavelmente a da Ordem Dominicana. Aos 17 anos solicitei admissão no noviciado. Um ano depois, recebi o hábito e o novo nome: Efrém.
Poderia dizer-nos algo a respeito dos inúmeros santos da República Checa?
Recordo os principais santos, considerados desde há séculos como padroeiros do Reino da Boêmia. Primeiro São Venceslau, mártir, príncipe do então Principado da Boêmia, no século X; sua avó, Santa Ludmila, que o educou na Fé cristã; São Procópio, abade beneditino; Santa Inês de Praga; Santo Adalberto, o segundo Bispo de Praga. Além desses, São João Nepomuceno, do século XIV, Vigário-Geral da Arquidiocese de Praga, mártir; Santa Zdislava, mãe de família e terciária dominicana, contemporânea de Santa Inês de Praga. O século XIII, como também o século posterior, foi um período histórico muito rico em valores cristãos. Penso que estes santos formam um patrimônio espiritual cristão, típico da nossa cultura, um modo de viver a Fé cristã, mesmo notando que provêm de diferentes estados de vida: leigos, monges, mães de família, etc.
Fr. Efrém falava-nos ontem sobre as chaves da coroa de São Venceslau...
Não sei exatamente a que ano remonta essa tradição. A coroa da Boêmia é guardada numa câmara especial na Catedral de São Vito, em Praga. Essa câmara - melhor seria chamá-la de caixa-forte - é, entretanto, como um sacrário, e só pode ser aberta com sete chaves diferentes, as quais estão confiadas a sete personalidades: o Presidente da República, o Arcebispo metropolitano e mais cinco autoridades civis e religiosas. Considera-se a coroa como algo tão sagrado que ela não faz parte de uma exposição pública nem de museu.
Temos visto Fr. Efrém celebrar Missa no Rito Dominicano. É muito diferente do Rito Romano atual?
Na medida do possível, continuo com a tradição litúrgica da nossa Ordem. Isto significa que celebro a Santa Missa segundo o Rito Dominicano, praticamente todos os dias. E rezo nesse mesmo rito o Breviário, quando não estou presente no coro, ou com os outros irmãos.
Há diferenças entre um e outro. Em resumo, pode-se dizer que é um dos ritos da família romana; portanto, muito semelhante à forma extraordinária do Rito Romano, como ficou depois que foi modificado pela última vez, em 1962, pelo Beato João XXIII. As nossas orações litúrgicas provêm da mesma época.
A Liturgia Dominicana assemelha-se muito à Liturgia Romana clássica de São Pio V, mas distingue-se por algumas particularidades, sobretudo certa sobriedade e simplicidade, típica da liturgia da nossa Ordem do século XIII, quando foi pela primeira vez codificada, e que com algumas alterações se conserva até hoje.
Fr. Efrém passou vários dias aqui, no Seminário dos Arautos, convivendo com todos. Quais foram suas impressões?
Eu travei contato com os Arautos em Roma, na Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino, e a minha impressão sempre foi positiva. Conhecendo agora seu Instituto Teológico e sua vida de religiosos, posso dizer que a minha consideração aumenta. Admiro sinceramente este programa e este sistema educativo. É bem verdade que não conheço a fundo a Instituição, porque estive aqui poucos dias, mas seus bons frutos são evidentes e espero que eles sejamabundantes e inesquecíveis onde quer que os Arautos cheguem com a sua missão. (Revista Arautos do Evangelho, Julho/2013, n. 139, p20-21)