Começou o tempo da Quaresma.

Este itinerário quaresmal de quarenta dias – que se inicia na Quarta-feira de Cinzas – será um caminho rumo a uma conversão interior, preparando-nos para a celebração das solenidades pascais.

Aspectos históricos da celebração da Quaresma

A cinza que receberam os fiéis, na fronte ou sobre sua cabeça, é um sinal de penitência que vem de tempos antigos, quando o povo eleito do Senhor, o povo israelita, se considerava em pecado ou queria ser purificado para algum evento ou festa de destaque. Vestir-se de saco, cobrir-se de cinzas, era o singular gesto penitencial.

Dos ramos de oliva ou palmas, que no ano anterior foram levantadas pelos fiéis, recordando o grito de júbilo na entrada de Jesus Nosso Senhor, em Jerusalém: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor!”, através de uma antiga tradição, se obtêm estas cinzas. 

Os ramos da glória passam a ser cinzas.

Estes quarenta dias têm seu início no século II, embora seja somente no século IV que eles tomam estrutura recebendo o nome de Quadragésima ou Quaresma.

Uma jornada que começa com a leitura do Evangelho das tentações de Jesus no deserto, como que indicando-nos que entraremos em um ciclo de experiência igual ao de Nosso Senhor, que durou quarenta dias.

Da mesma forma, foram os dias em que Jesus Nosso Senhor ressuscitado instruiu os Apóstolos antes de sua Ascensão ao Céu e posterior envio do Espírito Santo, como nos relatam os Atos dos Apóstolos (cf. 1, 3).

Este itinerário quaresmal nos recordará dos quarenta anos de peregrinação do povo eleito rumo à terra prometida, evocará os quarenta dias de Moisés antes do encontro com o Senhor e outros grandes acontecimentos relatados, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, representando o mais destacado da experiência de fé do povo de Deus.

A Quaresma será um caminho que se estenderá até à Missa da Ceia do Senhor na Quinta-Feira Santa, inclusive.

Neste itinerário quaresmal, retornemos à casa do Pai

Momentos de maior compromisso espiritual, opondo-nos ao mal dos dias de hoje, não apenas em cada um de nós, mas também do ambiente que nos cerca.

As extravagâncias dos tempos em que vivemos nos trazem à memória a parábola do filho pródigo, que, depois de desperdiçar sua herança em uma vida cheia de festas e delírios do pecado, ficou reduzido a comer as bolotas dos porcos que ele cuidava.

Assim, irrompe no fundo de seu coração a lembrança, iluminada por uma suave nostalgia daquele lugar ordenado que deixou, porque lhe parecia inexpressivo.

Aconteceu na alma deste jovem, arrastado pelos gozos da vida, um toque da graça de Deus, que o levou rumo à conversão, retornando à casa de seu pai.

Caminhemos rumo a uma metanoia, uma mudança de mentalidade, em direção a uma conversão espiritual.

“Muitas vezes nos falta a compenetração da necessidade de sermos santos”, comentou Monsenhor João Clá, fundador dos Arautos do Evangelho, em um de seus escritos.

Frequentemente, procuramos ser simplesmente corretos e nos esquecemos da exortação, tantas vezes repetida, que o Concílio Vaticano II (Lumen Gentium, 40) faz: “O Divino Mestre e modelo de toda perfeição, o Senhor Jesus, pregou a todos e cada um de seus discípulos, qualquer que fosse sua condição, a santidade de vida, da qual Ele é iniciador e consumador: ‘Sede, pois, perfeitos, como o vosso Pai celestial é perfeito’ (Mt 5, 48)”.

Que a celebração desta Quaresma – nos diz a oração da Coleta da Missa do primeiro domingo desse tempo litúrgico “nos conceda progredir no conhecimento do mistério de Cristo e que traduzamos seu efeito em uma conduta irrepreensível”.