Na meditação deste penúltimo dia da nossa Novena de Natal, vamos relacionar dois grandes mistérios: o Natal e a Eucaristia.
À primeira vista, parecem assuntos bem diversos; no entanto, são duas realidades irmãs, que coexistem porque se trata do mesmo Deus Encarnado.
Sinais que aproximam as festas
O Natal é um mistério belíssimo que tem um parentesco íntimo com o mistério por excelência, que chamamos de mysterium fidei, o mistério da fé, o mistério eucarístico.
Todos os mistérios de nossa fé são figurados por sinais que nos ajudam a entendê-los. As verdades que professamos em nossa Religião formam um corpo razoável, organizado e lógico, não um amontoado arbitrário de ideias.
Nesse sentido, são notáveis os sinais que aproximam os mistérios de Belém e os do Cenáculo.
Belém, onde Jesus nasceu, é um nome simbólico e providencial. Em árabe, significa “casa da carne”, e em hebraico, “casa do pão”. Aqui já vemos uma primeira e encantadora analogia entre o Natal e a Eucaristia.
Outra realidade que comove é o que dizem as Sagradas Escrituras: “Maria deu à luz o seu Filho e O deitou numa manjedoura”, quer dizer, num lugar onde se coloca o alimento dos animais.
Dessa forma, o presépio é como um altar sobre o qual repousa o Pão, não o pão dos animais, mas o Pão dos Anjos, que Se tornou também o Pão dos homens!
Quando comungamos, nós realizamos o ideal mais puro do Cristianismo: ter a vida eterna: “Quem comer deste pão viverá eternamente” (Jo 6, 51).
Obediência, alimento e vida são predicados essenciais da Eucaristia. São também as propriedades que acompanham o mistério do Natal: o Menino nasce por obediência, para ser alimento e, assim, dar-nos vida e forças para chegarmos ao Reino dos Céus, que é comparado a um banquete. Deus Se dá a comer no tempo e na eternidade.
Na noite de Natal, a Missa do Galo
Na noite bendita do Natal, quando tantos – e tantos cristãos! – se dão às comilanças, à bebedeira, ao prazer passageiro e ao pecado, os que adoram verdadeiramente a Deus estarão junto ao presépio onde está representado o Pão descido do Céu.
É certo que celebraremos a “noite feliz” com alegria, festejando, comendo, bebendo e trocando saudações e presentes. Porém, do mais fundo do nosso ser brotará a aspiração sobrenatural de unir-nos a Deus da maneira mais plena que se possa lograr nesta Terra: recebendo o Senhor como alimento na Eucaristia e adorando-O em seu mistério de amor.
A fome e a sede eucarística aspiram a muito mais do que manjares humanos. A Eucaristia supera, de longe, um delicioso vinho, como o de Caná da Galileia, ou os pães multiplicados por Jesus.
O desejo de uma alma eucartística se eleva ao alimento que contém em si todo o deleite: o Corpo de Cristo, recebido em Comunhão.
É por isso que há especialmente, na Liturgia, uma Missa que antecede a meia-noite, chamada de Missa da Véspera, e a Missa do Galo, celebrada na passagem do dia 24 para o 25.
Além disso, ainda há outras duas Liturgias do dia do Natal: a Missa da Aurora e a Missa do Dia, com leituras e orações diferentes, porém com um mesmo objetivo: alimentar os cristãos com o Pão Divino que desceu à Terra.
Do Natal e da Eucaristia, quem tem aproveitado?
Terá morrido o Natal autêntico?
Parece que sim, pois hoje, homens e mulheres do mundo todo estão ilusoriamente conectados entre si, mas desconectados de Deus.
Morreu até em certos presépios de mau gosto que exibem a Sagrada Família com traços esdrúxulos e fisionomias desfiguradas pela arte ultramoderna. Uma coisa medonha!
Quem de nós, em nossas famílias, tem procurado estar preparado para a Comunhão no Natal?
Temos, no abençoado período natalino, entre os momentos empregados em compras, viagens e festas, reservado um tempo para a adoração junto ao sacrário e outro para a Comunhão Sacramental?
O Natal e a Eucaristia são uma festa única. Celebrar o divino natalício de Cristo desassociado da celebração religiosa é festejar um ritual vazio de sentido.
O dia de Natal é uma ocasião para “nascermos de novo”, e o melhor modo de fazer isso é imitando o exemplo de Maria, que conservava em seu Coração todos os fatos acontecidos em torno do presépio (Cf. Lc 2, 19).
Assim, sob sua proteção e com a vida eucarística em ordem, também nós devemos pedir a Ela as graças necessárias para a nossa salvação, pois será por meio d’Ela que o Natal atingirá a sua máxima compreensão, na sociedade e em cada um de nós.