Há santos que representam tudo aquilo que temos mais receio para a nossa vida: pobreza, analfabetismo, pouca prospecção de vida.
Não estão ali porque acham justo para si, ou porque o mundo é equilibrado; infelizmente, é uma sociedade desordenada a que vivemos.
Porém, no que lhes concerne, são exemplos de heroísmo e docilidade.
São Pascoal de Bailão é um desses santos.
Vida de pastor
São Pascoal nasceu no ano de 1540, em uma família pobre, que pastoreava ovelhas por aluguel.
Desde cedo, para complementar a renda de sua família, também foi aos campos para exercer a função de pastor.
Não teve acesso às artes ou a cultura, mas, ao viver cercado pela natureza, aprendeu a ler no livro da criação as citações de Deus.
Encantava-se com os animais pequenos que encontrava no caminho, assombrava-se da docilidade das ovelhas para consigo, seu pastor, ao modo da linda parábola contada por Jesus, muitos anos atrás, na Galileia.
O que seu pai e sua mãe lhe transmitiram, frutificou cem vezes mais: sua vida de oração era ardente e eficaz.
Tanto amor, mesmo tendo tão poucos bens, lhe garantiu do Senhor um ilustre professor...
Alguns autores comentam que um Anjo lhe ensinou a ler e a escrever, enquanto outros dizem que chegou a isso por autodidática.
No fim, foi seu amor a Deus que lhe franqueou o acesso à cultura.
Quando se tornou maior, já com seus vinte anos, acercava-se da propriedade dos monges no pastoreio, pois desejava, de todo seu coração, ser religioso.
Quando percebeu que a Igreja sempre estivera de braços abertos para o acolher, aceitou sem titubear.
Tornou-se irmão leigo dos franciscanos, calçando suas sandálias e amarrando seu cordão na cintura.
O teólogo da Eucaristia
Na vida de clausura, o Irmão Pascoal era de uma caridade sem medidas.
Doava-se constantemente em favor dos irmãos, mas sua paixão era, sem dúvida, ficar diante do Sacrário.
Sua devoção eucarística era terna e total.
Pela Eucaristia, certa vez, defendeu-a com argumentos teológicos altíssimos contra um blasfemador que viera lhe fazer zombarias.
Tal foi a lógica e a profundidade de seu discurso que o zombeteiro saiu sem palavras.
E os irmãos que acompanhavam São Pascoal ficaram maravilhados, pois sabiam que ele nunca havia estudado tais falas.
Jesus Eucarístico, Aquele que é a Sabedoria Encarnada, as comunicara a ele por suas insistentes visitas à capela, diziam.
Logo a fama de São Pascoal alcançou proporções desmedidas.
Pessoas de todas as classes sociais vinham se prostrar a seus pés, pedindo que ele intercedesse por elas.
O Irmão Pascoal ficava envergonhado por ver suntuosos senhores de terras admirando-o tanto.
Ele, como todo santo, tinha bem clara a perspectiva de seu nada e das maravilhas que o Senhor fizera nele. Assim, sempre remetia todo e qualquer elogio a Deus.
São Pascoal de Bailão, transbordando de amor eucarístico, consignou seus divinos saberes aprendidos da Santíssima Fonte em escritos, que lhe valeram para alcunha-lo, após sua morte, de “teólogo da Eucaristia”.
De pastor iletrado a famoso escritor, esse foi o grande Irmão Pascoal.
Sua morte, em grande parte imputada pelas severas penitências que fizera durante a vida, deu-se em 17 de maio de 1592.
Com 53 anos, este anjo eucarístico se elevou aos Céus, pronto para adorar a Cristo novamente, mas agora sem véus.
Conta-se, inclusive, em suas atas de canonização, que São Pascoal de Bailão teria aberto seus olhos em sua Missa de corpo presente, no momento da elevação do pão e do cálice, na Consagração.
Foi seu último ato de devoção ainda em terra.
Além e por cima das situações
O cristão é um batalhador nato; ele luta por fazer da terra um lugar mais parecido com o Paraíso Celeste.
É isto que se pede no Pai-Nosso: “Venha a nós o vosso reino, seja feita vossa vontade, assim na terra como no Céu”.
Porém, nunca, em nenhuma situação em que o cristão se encontre, ele achará desculpas para não ser melhor.
O verdadeiro católico, como São Pascoal de Bailão, não se lamuria pelas suas condições, pois sabe que Deus é seu sustento, esteja onde estiver.
Que sejamos tão frutuosos como foi o Irmão Pascoal, apesar dos pesares e das condições que nos encontremos.