Deslumbrada pela sabedoria, bem como pela grandiosidade e beleza das obras de Salomão, a Rainha de Sabá, embora pagã, entoou louvores ao verdadeiro Deus. Sua atitude mostra o poder da virtude e do esplendor para atrair as almas ao Criador.
Dom da sabedoria
Filho de Davi, Salomão herdou o poder sendo ainda adolescente, e compreendeu que era necessária muita sabedoria para governar o povo de Israel.
Certa noite, Deus apareceu ao rei e lhe disse: "Pede o que desejas, que Eu te dou". Salomão respondeu: "Dignai-Vos (...) conceder-me a sabedoria e a inteligência, a fim de que eu saiba como me conduzir à frente desse povo".
Disse Deus a Salomão: "Já que este é o desejo de teu coração, e não pedes nem riquezas (...), nem uma longa vida, mas me pedes sabedoria e inteligência a fim de bem governar o povo do qual Eu te fiz rei, (...) a sabedoria e a inteligência ser-te-ão concedidas, mas também riquezas, tesouros e glória mais do que jamais possuíram os reis, teus predecessores, e que jamais possuirão teus sucessores" (2Cr 1, 7-8; 10-12).
Salomão recebeu então um espírito de uma visão tão vasta como as areias que estão à beira do mar. Ele era o mais sábio de todos os homens.
Admiração, generosidade, louvor a Deus
A Rainha de Sabá teve notícias da sabedoria e magnificência de Salomão, e quis conhecê-lo. Partiu de suas terras, situadas no sudoeste da Arábia (atual Iêmen), e percorreu longa distância, acompanhada de numerosa comitiva, trazendo grande quantidade de ouro e de pedras preciosas.
Chegando a Jerusalém, foi recebida pelo Rei Salomão e fez-lhe todas as perguntas que desejava. Este deu prontamente
resposta certa a todas. Não houve enigma por demais obscuro que ele não pudesse esclarecer.
Diante dessa sabedoria incomparável, da magnificência do Templo e dos holocaustos que lá eram oferecidos ao Senhor, dos esplendores do palácio real, a Rainha de Sabá ficou enlevada de admiração e exclamou: "Felizes esses servos que sempre estão diante de ti e ouvem tua sabedoria! Bendito seja o Senhor teu Deus, que te tomou como objeto de afeição, e te
colocou no seu trono, como rei em nome do Senhor, teu Deus!" (2Cr 9, 7-8).
A admiração desinteressada conduz à generosidade. Assim, a Rainha de Sabá presenteou Salomão com grande quantidade de ouro, pedras preciosas e perfumes.
Nada se sabe a respeito do que aconteceu depois a ela. Mas, passados quase mil anos, sua bela atitude recebeu elogios de Nosso Senhor.
Discutindo com os escribas e fariseus, afirmou Jesus: "A Rainha do Meio-Dia [isto é, de Sabá] levantar-se-á no dia do
Basílica de El Escorial (Madri) Detalhe da fachada |
Juízo para condenar os homens desta geração, porque ela veio dos confins da terra ouvir a sabedoria de Salomão! Ora, aqui está Quem é mais que Salomão" (Lc 11, 31).
Desobediência de Salomão
Quanto a Salomão, infelizmente, não foi fiel aos Mandamentos de Deus. Narra a Sagrada Escritura que tomou para si esposas pertencentes às nações das quais o Senhor dissera aos israelitas: "Não tereis relações com elas, nem elas tampouco convosco, porque certamente vos seduziriam os corações, arrastando- os para os seus deuses" (I Reis 11, 2).
Aconteceu-lhe o que Deus predissera: sendo já velho, elas seduziram o seu coração e o arrastaram ao abominável pecado de idolatria.
Como pôde degradar-se assim o homem que recebeu em tão alto grau o dom da sabedoria?
Não caiu pelo fato de ser rico, pois "as riquezas são boas para o que não tem pecado na sua consciência" (Eclo 13, 30). E São Tomás esclarece de forma admirável, na Suma Teológica: "As riquezas, enquanto conduzem à virtude, são boas; mas são más enquanto a impedem; e de igual modo a pobreza" (2-2, 126 - 1 ad 3).
A queda de Salomão deveu-se, sobretudo, à sua falta de vigilância.
"Vigiai e orai para não cairdes em tentação", recomenda-nos o Divino Mestre (Mt 26, 41). Então, sirva-nos de advertência a desgraça em que caiu Salomão: peçamos a Nossa Senhora o espírito de oração e uma constante vigilância. Tenhamos sempre diante dos olhos nossas fraquezas e confiemos ilimitadamente n'Aquela que é a Virgem Fortíssima.
(Revista Arautos do Evangelho, Fev/2004, n. 26, p. 34-35)