Muitas vezes, compelidos pelos sentimentos do que vamos celebrar na Semana Santa, a Crucifixão terrível de Jesus, mas também sua gloriosa Ressurreição, esquecemo-nos de que nesta Sacra Semana, Cristo também se deu a nós em um memorial eterno e perfeito: a instituição da Sagrada Eucaristia.
A instituição da Eucaristia no Evangelho
Nos quatro Evangelistas, temos as passagens principais semelhantes. Em Lucas, há um introito que transmite todo o desejo de Cristo em se dar a nós: "Eu estava esperando muito ansiosamente esta hora, desejoso de comer a refeição da Páscoa convosco, antes de começar o meu sofrimento”. (Lc 22, 15).
São Mateus e São Marcos são mais diretos, anunciam os acontecimentos da festa, a providencialidade de haver um lugar para a Ceia e a fala de Cristo de que um entre eles havia de traí-Lo.
Já São João nos narra, em três capítulos inteiros, as palavras e profecias de Jesus antes de consagrar o pão como seu Corpo, num sermão que até hoje é densamente estudado por teólogos e Doutores para sorver todo o significado das palavras. Assim, é apenas no Evangelho de João que não encontramos as palavras da instituição, dado o glorioso prefácio que ele transmite.
Sabemos que o Apóstolo Virgem foi o último a escrever o seu Evangelho, e os outros já estavam amplamente divulgados quando ele testemunhou, fazendo-o com um objetivo específico: barrar as heresias que começavam a se avolumar nos fins do primeiro século e começo do segundo.
Palavras de Vida Eterna
Na narração evangélica, têm-se as seguintes passagens: Cristo, primeiro, abençoa a Ceia que repartem, dando graças pelo pão e o vinho. Pelo fato de ser a festa dos ázimos, os pães eram sem fermento, o que foi adotado pela Santa Igreja na celebração do Sacramento, tal como fez Jesus.
Depois, Nosso Senhor toma cada espécie separadamente e dá graças sobre elas, conferindo-Lhe, então, o poder sacramental: "Tomem e comam, porque isto é o meu corpo". (Mt 26,26.)
O pão é sempre o mais breve, enquanto que sobre o cálice com o vinho, Cristo se detém com mais sentenças:
“Este vinho é o sinal do novo pacto de Deus para salvar-vos, um acordo garantido pelo sangue que Eu derramarei para comprar de volta as vossas almas”. (Lc 22, 20), e também: “Depois tomou um cálice de vinho, deu por ele graças a Deus e lhes ofereceu; todos beberam dele. Em seguida, lhes disse: ‘Isto é o meu sangue, derramado a favor de muitos, para firmar o novo pacto entre Deus e o homem’”. (Mc 14, 23-24).
É claro que as traduções variam muito de edição para edição das Sagradas Escrituras, e também de língua para língua, mas vêm muito semelhantes, e sobretudo seu conteúdo é o mesmo que ouvimos hoje ao assistir uma Santa Missa.
Instituição do Sacramento da Ordem.
Jesus não só instituiu o Sacramento máximo, que é seu Corpo e Sangue, mas também celebra o início de seus ministros. Quando pronuncia as palavras: “fazei isto em minha memória”, pede que se repitam estes ritos àqueles que estão na mesa Santa.
Assim, neste momento, também institui o Sacramento da Ordem, deixando a encargo de seus Apóstolos a administração dos seus mistérios, bem como a autoridade da Santa Igreja de promulgá-lo. Por isso, estes dons chegam hoje até nós: de geração em geração, os Bispos vão ordenando novos Bispos e novos Padres que dão aos leigos o Corpo Místico de Cristo, o Sacramento do Amor.
A instituição da Eucaristia: realidade ou símbolo?
A Eucaristia, diferente de uma simples tradição ou memória, não é vivenciada como um teatro: de fato, em toda Santa Missa acontece o mesmo que ocorreu na Santa Ceia. O pão e o vinho dão lugar ao Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus, Aquele que curou surdos e mudos, purificou leprosos e ressuscitou mortos.
Por isso, é necessário o máximo respeito com a Eucaristia, tanto após a comunhão como quando o Corpo de Cristo fica no Sacrário, perpetuando sua continuidade conosco. É dever do cristão esse amor e cuidado com seu Mestre Divino, que crê fielmente, apesar de a realidade visível não alcançar, na presença de Cristo na Eucaristia.
Na Quinta-feira Santa, portanto, antes de entrarmos propriamente no Tríduo Pascal, celebremos com carinho a instituição da Eucaristia e, se possível, bem confessados, nos aproximemos do Pão dos Anjos para recebermos Jesus em nossas almas.