A liturgia deste mês contempla no dia 14 a festa da Exaltação da Santa Cruz e no dia 15, Nossa Senhora das Dores. Conduzidos por este caminho, meditaremos os mistérios dolorosos.
A cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória: nele está nossa vida e ressurreição; foi Ele que nos salvou e libertou. (Gl 6, 14).
Quando eu for exaltado da terra, diz o Senhor, atrairei a mim todas as coisas. (Jo 12, 32).
Oração inicial: Ó Virgem Dolorosa, nós sabemos que juntamente com Vosso divino Filho sofrestes as dores da Paixão. Vós sofrestes como Mãe, quase que na própria carne - porque mais dói a dor da alma do que a do próprio corpo. No caminho do Calvário, Vós encontrastes Jesus quando carregava a cruz às costas. Ó Mãe Santíssima nós Vós pedimos graças super abundantes, graças eficazes, graças até místicas para bem realizar esta meditação e que ela de fato possa, de alguma forma, reparar o Vosso Sapiencial e Imaculado Coração por tantos crimes, tantos horrores e pecados que ocasionaram a Paixão de Vosso divino Filho. Hoje, ao considerardes esses crimes, blasfêmias, pecados, que vos recordeis das dores de Jesus e das vossas dores, em união com Ele.
Que essas dores penetrem em nossos corações e que cheios de arrependimento por nossas faltas, cheios de mágoa e ao mesmo tempo cheios de desejo de emenda para este mundo tão pecador. Alcançai-nos nesta meditação, a compreensão do quanto o pecado atrai sobre nós o castigo, e o quanto o pecado sem arrependimento, atrai a cólera de Deus.
Doce Coração de Maria, aceitai esta humilde meditação como emenda para nós e reparação ao Vosso Sapiencial e Imaculado Coração.
Assim seja!
Introdução: Antes de iniciarmos nossa meditação, vamos compor a cena impressionante; temos diante dos nossos olhos o Filho Unigênito de Deus, esgotado de sofrimentos, carregando pesada cruz às costas; os soldados que O seguem com chicotadas; o povo que amontoa-se curioso, alguns se compadecem, outros indiferentes e ainda outros até se deliciam com os tormentos que são infligidos a Nosso Senhor.
I - A cruz divide a humanidade.
Jesus é condenado à morte, 'Ele próprio carregava a sua cruz para fora da cidade, em direção ao lugar chamado Calvário'. (Jo 19, 17)
Carregando sua cruz! Jesus acaba de ser condenado a carregar a pesada cruz. Encontra-Se no Pretório de Pilatos à espera da chegada da cruz. O local está repleto de gente, de curiosos e a cruz entra... a multidão ali apinhada é dividida ao passar da cruz.
Ora, naquele tempo à cruz era símbolo de maldição, símbolo de tormento, de horror; símbolo de abjeção; constituía um verdadeiro horror dos horrores, era a lepra, era o câncer. Ela travessa todo o Pretório, as pessoas se espremem, afastam-se; as pessoas permitem que a cruz passe porque têm pânico de nela tocar. O silêncio se estabelece, todos ficam meio pasmos com o que vai acontecer, com o horror do que vai acontecer e imediatamente fazem silêncio. Ao entrar, a cruz divide a multidão. A partir daquele momento uma outra divisão que se estabelece na própria História: os que amam a cruz e os que odeiam a cruz!
Essa cruz que divide o povo, que já está dentro do Pretório, ela dividirá a Humanidade em duas humanidades: os amigos da cruz e os inimigos da cruz.
A cruz é um sinal de contradição. Quando o Menino Jesus nos braços virginais de Maria Santíssima, foi apresentado no Templo e esteve nas mãos do velho Simeão, que profetizou:
Este Menino veio para ser sinal de contradição, para salvação e ruína de muitos' (Lc 2, 34)
É esta cruz que traz a contradição; de um lado ficam os ímpios que riem desse Rei, que toma como cetro um madeiro negro em forma de cruz, com a qual vai governar o mundo. Pelo contrário, as almas piedosas olhando para a cruz, com um senso de veneração tal que, em determinado momento a cruz será tomada como a glória das glórias e todos os reis da Terra vão tomar essa cruz para colocar no alto de suas coroas.
Contudo, no Juízo Final, quando o Filho do Homem aparecer no esplendor de sua glória, descendo do céu, trazendo junto sua cruz gloriosa, essa cruz dividirá a humanidade inteira no vale de Josafá: os bons estarão à direita e os maus à esquerda.
1 - Como Jesus recebe a cruz?
A cruz está diante de Nosso Senhor que contempla aquele instrumento de dor; como Ele a acolheu? Aceitou, já que não havia remédio; apenas aprovando o sofrimento?
Não. No caminho da Paixão, Jesus nos deu um luminoso e admirável exemplo.
Conta uma piedosa revelação que, quando recebeu das mãos dos carrascos a Cruz, Nosso Senhor se ajoelha sem auxílio de ninguém, com as forças quase desaparecidas, contudo, Ele está ali com disposição, com ardor, abraça a cruz e a beija amorosamente; e, tomando-a sobre os ombros, com invencível energia, a leva até o alto do Calvário.
2 - Aplicação : Sendo seguidores de Cristo, como tomamos as nossas cruzes?
Q ue exemplo para nós que somos cristãos, estamos marcados com este sinal que não se pode apagar e que nos é colocado na alma na hora do nosso batismo.
Somos nós seguidores de Cristo? Queremos seguir fielmente a Nosso Senhor? Então,devemos prestar atenção neste gesto dEle. Aí esta a cruz: com que amor Ele a abraça e mesmo antes de pô-la às costas a abraça e oscula. É essa cruz que Lhe vai servir de tormento, é nesta cruz que Ele será cravado e vai morrer; é também esta cruz que depois será venerada, adorada por toda a humanidade e por todos os séculos. É assim que Ele toma a Cruz que Deus Pai preparou!
E nós que somos cristãos, como tomamos as nossas cruzes? Que atitude tomamos em relação às cruzes que Deus nos manda? Por exemplo, as doenças; às vezes, dado que somos concebidos no pecado original, a doença nos colhe; será um simples mal estar, ou será algo mais grave que nos põe em perigo e em risco de vida? Será uma grande dor, será um mal que os médicos não descobrem? A doença é uma cruz: como eu me porto diante desta cruz chamada doença? Eu me porto como Jesus? Abraço esse mal que a Providência me envia com resignação, com amor? Ou eu tomo esta dor com horror, com insatisfação, com revolta, perguntando-me: por quê Deus permitiu que esse mal me atingisse ?
3 - Diante da cruz: paciência ou revolta
Mau negócio, desemprego, até mesmo a pobreza são circunstâncias da vida que constituem para mim uma cruz. Como tomo estas situações: será com amor, com paciência ou as tomo com revolta?
Orfandade. Pode ser que meus pais tenham morrido... A viuvez. Pode ser que eu tenha ficado só; casei e a certa altura perdi meu cônjuge. Como fico eu? Aceito com resignação ou me revolto? Às vezes, é o desprezo. Como aceito o desprezo? Tal como Jesus, que foi desprezado, como aceitou a cruz que lhe foi dada? Os incômodos que a nossa vida nos impõe, com seus inconvenientes, os males de uma vida áspera, o trato ácido; como eu aceito esses incômodos da vida?
A ingratidão: Eu faço o bem aqui, faço o bem lá, faço-o acolá, recebo em paga a ingratidão que magoa. Como tomo essa ingratidão? Mais não é só. Tem também as leis de Deus, as leis da Igreja, leis morais que formam, portanto, a minha consciência: elas me obrigam a um sacrifício, elas me obrigam a praticar as virtudes, obrigam-me a fugir das ocasiões próximas de pecado, elas me obrigam a não pecar. Como eu tomo essas dores que a lei moral impõem sobre mim?
Por fim, como pratico a lei de Deus no que diz respeito à moda? No mundo moderno, a moda vai impondo suas leis, e eu tenho dentro de mim as leis da moda e as leis de Deus. O que faço: dou as costas à lei de Deus e resolvo abraçar a moda porque é mais cômodo e mais unânime, pois sinto que as pessoas me olham, me aprovam e com isso sinto-me igual a todos, se bem que eu possa me sentir inteiramente contrário à lei de Deus. Mas pouco me importa... como pratico a lei de Deus neste ponto das modas? Eu aceito esse sofrimento, essa cruz que me é imposta por causa das leis morais? Devo compreender que tais cruzes vêm de Deus para mim, assim como Deus Pai quis o oceano de dores, sofrimentos e a morte de cruz para seu próprio Filho, para a glória Dele.
Nosso Senhor Jesus Cristo é inocente, Ele é a Inocência. Eu tenho meus pecados, minhas faltas, eu mereço isso tudo. Portanto, devo ter a noção de que bem aceitando essas cruzes, eu alivio as dores de Jesus Cristo e devo como Ele abraçar a minha cruz. E terminando esta meditação voltemo-nos ao Coração Imaculado de Maria, acabrunhado de aflição durante a Paixão de Jesus Cristo, dizendo: A Ó Minha Mãe, eu Vos agradeço por ter-me feito conhecer esses pontos a respeito da importância do amor à cruz. Concedei-me, ó Mãe Dolorosa, a graça de reagir tal qual seu divino Filho e Vós mesma, diante da cruz que a Ele se apresentou.
Ave ó cruz, salve ó cruz única esperança de salvação. É pela cruz que nós chegaremos à luz. Ó minha Mãe Santíssima dai-me a convicção e a força de vontade para abraçar todas as cruzes que me forem enviadas durante a minha vida.
Assim seja!
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Referência: A meditação acima é do Mons. João Clá, Catedral da Sé, 1º de maio de 2004. sem revisão do autor
II - Nossa Senhora das Dores.
Não esqueçais os gemidos da vossa Mãe". (Ecli 7, 29)
No caminho do Calvário e sobretudo ao pé da cruz, quem poderia exprimir as angústias dessa Mãe aflita? >E quem, ó Senhora, vendo-Vos assim em prantos, ousaria perguntar por que chorais?
Nem a Terra, nem o mar, nem todo o firmamento, poderiam servir de termo de comparação à vossa dor. Dai-me, minha Mãe, um pouco, pelo menos, desta dor. Dai-me a graça de chorar a Jesus, com lágrimas de uma compunção sincera e profunda.
E nós, filhos da mais santa e terna das mães, vendo-a nos tormentos do Calvário ao pé da Cruz, não sejamos insensíveis sem nos comover com o que poderia enternecer o mais duro rochedo! É pedindo a graça de sofrer como Maria e como Jesus, desagravando o Sagrado Coração e por nossa conversão e dos pobres pecadores, que podemos rezar a Ladainha de Nossa Senhora das Dores:
Ladainha de Nossa Senhora das Dores:
Senhor, tende piedade de nós, Cristo, tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós!
Jesus Cristo, ouvi-nos. Jesus Cristo, atendei-nos.
Deus, Pai dos Céus, tende piedade de nós.
Deus Filho, Redentor do mundo, tende piedade de nós
Deus Espírito Santo, tende...
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós.
Santa Maria, ................ rogai por nós!
Santa Mãe de Deus,
Santa Virgem das virgens,
Mãe crucificada,
Mãe dolorosa,
Mãe lacrimosa,
Mãe aflita,
Mãe abandonada,
Mãe desolada,
Mãe despojada de seu Filho,
Mãe transpassada pelo gládio,
Mãe consumida pelo infortúnio,
Mãe repleta de angústias,
Mãe com o coração cravado na Cruz,
Mãe tristíssima, rogai por nós!
Fonte de lágrimas,
Auge do sofrimento,
Espelho de paciência,
Rochedo de constância,
Âncora da confiança,
Refúgio dos desamparados,
Escudo dos oprimidos,
Vencedora dos incrédulos,
Conforto dos miseráveis,
Remédios dos enfermos,
Fortaleza dos fracos,
Porto dos náufragos,
Bonança nas borrascas,
Recurso dos aflitos, rogai por nós!
Terror dos que armam ciladas, rogai por nós!
Tesouro dos fiéis,
Vista dos Profetas,
Báculo dos Apóstolos,
Coroa dos Mártires,
Luz dos Confessores,
Pérola das Virgens,
Consolação das viúvas,
Alegrias de todos os Santos,
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Jesus.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, atendei-nos, Jesus.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós, Jesus.
Oremos: Velai por nós, defendei-nos, preservai-nos de toda as angústias, pela virtude de Jesus Cristo. Amém.
Imprimi, Senhora, as vossas chagas no meu coração, para que nelas recolha,
- dor e o amor;
- dor para suportar por Vós todas as dores;
- amor, para desprezar por Vós todos os amores.
Amém.