Vejo-Vos, meu Deus, posto numa manjedoura, cercado de paredes duras, cinzas, frias, sinuosas e, ao mesmo tempo, estéreis.
Ao vosso lado, para Vos aquecer, o hálito quente de um boi, de um burrinho, talvez um cobertor feito de palha, usado por um ou outro pastor que de vez em quando vinha alimentar seus animais.
A noite é gelada. Gelada sobretudo no coração dos homens, pois, Senhor, reinava o império do pecado, da barbaridade, da crueldade.
Por um lado, o terrível Herodes, sua matança só rivalizando com sua luxúria; de outro, os fariseus, que deveriam ser a nata do povo eleito, a classe sacerdotal, os seus queridos ministros, que se entregavam às maiores hipocrisias.
Nessa noite gelada, nesse clima tenso, Vós apareceis na Gruta de Belém.
O que, meu Menino, meu Deus, o que Vos fez descer do vosso palácio infinitamente belo, ao lado dos Anjos, que eram vossa companhia mais agradável? No Céu ainda não estava Maria…
Jesus está onde estiver sua Mãe
Seja a gruta mais assustadora, mais tenebrosa, mais melancólica, mais musgosa, mais infértil… não importa! Se, de algum modo, Nossa Senhora estiver lá, Vós também quereis estar.
Se Vós souberdes que, no mais inconfortável trono, estará à vossa direita a Virgem Santíssima, Vós aceitareis estar lá. Porque é Ela, Maria Puríssima, o vosso mais profundo encanto.
O que é o frio perto do calor do olhar de Nossa Senhora? O que é a insensibilidade dos corações humanos quando, no Coração de Maria, palpitam os desejos mais perfeitos da História?
Senhor, fazei-me compreender de uma vez por todas: onde estiver Maria, ali estais Vós; onde não estiver Maria, não é vosso desejo permanecer.
Sem tempo o Autor do tempo…
Assim, vendo-Vos nesse pequeno presépio que visito por vossa misericórdia, quero tecer considerações e meditações.
Quantas vezes me alheio de Nossa Senhora, perdido em pensamentos consumistas e imediatistas! Meu egoísmo fala muitas vezes mais alto, e simplesmente esqueço de vossa Mãe.
Sei que Ela nunca me esquece, que Ela nunca me deixa, que Ela nunca me abandona. Infelizmente, não posso dizer o mesmo…
Por vezes, tento montar um palácio para Vós, uma digna habitação para que Vós nasçais num lugar acolhedor. Mas deixo vossa Mãe de fora quando peco contra vossa Lei.
Pouco adianta a boa intenção quando ela não vem acompanhada de bons propósitos, de boas atitudes.
Perco-me no “politicamente correto”, alimentando meu ego e minhas manias, esquecendo que apenas uma Lei deve me guiar: “Amarás o Senhor teu Deus sobre todas as coisas e o teu próximo como a ti mesmo”.
Escondo-me, Senhor, também na ocupação.
Quantas vezes negligenciei um tempinho para Vós, para vossa Mãe, afirmando a quantidade de trabalho que tenho. Vede, deixo sem tempo o Autor do tempo.
Quanta ingenuidade, quanta ingratidão!
“Onde estais, Jesus está ali também”
Diante do presépio, meu Deus, meu Menino, estou eu, só. Sem boas obras, de mãos vazias; antes estivessem apenas vazias. Muitas vezes estão sujas.
Mas, se há algo que aprendi hoje é que, onde está Maria, estais Vós.
Peço perdão, meu Deus Menino, pelas minhas faltas, pelos meus erros; a Vós, minha Mãe, eu digo:
Vinde! Não porque sou digno de Vós, mas porque Vós sabeis arrumar meu coração para Deus. Não há algo que não conserteis, vinde!
Trazei vosso Divino Esposo e inundai minha alma com seus dons: sabedoria, conselho, piedade…
Vinde com vosso Divino Filho redimir minhas faltas!
Fazei do meu coração um trono para Deus Pai; que em seu poder Ele reine em minha alma!
Eu sei, minha Mãe, “que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à vossa proteção, implorado vossa assistência e reclamado vosso socorro, fosse por Vós desamparado”. Não serei eu o primeiro, não serei!
Por vosso nome, por vossa glória, mudai-me, habitai meu coração, morai em meus pensamentos. Porque onde estais, Jesus está ali também.