O raiar do dia 13 de dezembro encontra no coração de todos os Arautos do Evangelho um sentimento especial: é comemorado o natalício de Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, mestre e orientador de Mons. João Clá, fundador desta grande obra.
Em espírito de união e alegria, vamos relembrar uma das passagens do livro Revolução e Contra-Revolução,[1] de autoria de Dr. Plinio, em que ele comenta sobre dois pecados capitais, o orgulho e luxúria, e como estes são os responsáveis pela decadência do gênero humano.
A obra Revolução e Contra-Revolução
Neste livro, Dr. Plinio nos põe na perspectiva de que todas as crises que o mundo atual vive, sejam elas de segurança, de educação ou mesmo financeiras, não são senão frutos de uma única crise, profunda e planejada, que acompanha a humanidade desde o século XV.
Denominada Revolução, é esta a origem da espiral de acontecimentos que vem destruindo os homens.
Trata-se de um livro conciso, sem um grande número de páginas, mas o material é riquíssimo em observações e constatações de um grande filósofo e pensador, como foi Dr. Plinio, além de toda a fé e espírito de discernimento católico que o marcaram.
Por isso, vale a pena o leitor procurar ler o texto na íntegra para poder degustar seu pensamento completo, do qual aqui constam pequenos trechos.
Esta Revolução, como narra Dr. Plinio, tem cinco características: é una, universal, total, dominante e progressiva. Destas, a que mais nos interessa, neste artigo, é a última.
Como vêm progredindo essas crises no âmbito humano? Por que a Revolução não pôde ser contida?
As molas da decadência humana
Este inimigo terrível tem um nome: ele se chama Revolução.
Sua causa profunda é uma explosão de orgulho e sensualidade que inspirou, não diríamos um sistema, mas toda uma cadeia de sistemas ideológicos.
Da larga aceitação dada a estes no mundo inteiro, decorreram as três grandes revoluções da História do Ocidente: a Pseudorreforma, a Revolução Francesa e o Comunismo.
Aqui Dr. Plinio dá, como fonte de propulsão da Revolução, o orgulho e a sensualidade, outro nome do pecado capital da luxúria.
Mas de que forma estes vícios afetam o progresso humano? “O orgulho leva ao ódio a toda superioridade e, pois, à afirmação de que a desigualdade é, em si mesma, em todos os planos, inclusive e principalmente nos planos metafísico e religioso, um mal”.
Assim, o orgulho move o ser humano a sempre se considerar melhor que o outro e, portanto, acreditar que merece uma exaltação, e o seu inferior, uma punição.
Não é o que vemos hoje, em tantas competições veladas, seja no trabalho, na escola ou no ambiente familiar?
“A sensualidade, de si, tende a derrubar todas as barreiras. Ela não aceita freios e leva à revolta contra toda autoridade e toda lei, seja divina ou humana, eclesiástica ou civil”.
A família, como instituição, é a principal afetada pela luxúria.
Porém, não só lares ela destrói; a luxúria favorece a revolta, pois amolece o corpo e a alma daquele que sacia sua sede em suas águas pantanosas.
Além disso, a impureza “emburrece”, pois descola o ser humano do contato com o sobrenatural para se entregar ao prazer; assim, os luxuriosos são massa de manobra fácil de ser governada, pois perdem o pensamento crítico e só querem a pseudotranquilidade de serem deixados em paz para pecar.
O orgulho e a luxúria no processo revolucionário
Dr. Plinio continua, no livro Revolução e Contra-Revolução, a descrever como estes dois pecados foram os responsáveis pela decadência do gênero humano.
Começa relembrando o espírito de cavalaria que havia na Idade Média, formado pelo zelo cristão e pelo amor ao sacrifício, e como estes valores foram sendo lentamente substituídos por outros dois: o amor romântico e a busca pelos prazeres.
Assim, as instituições medievais começaram a decair, pois o que importava mais não era a nobreza de alma e a rigidez diante dos sofrimentos da vida, mas sim aquele que mais se lançasse às delícias da vida.
O apetite dos prazeres terrenos se vai transformando em ânsia. As diversões se vão tornando mais frequentes e mais suntuosas. Os homens se preocupam sempre mais com elas.
Nos trajes, nas maneiras, na linguagem, na literatura e na arte, o anelo crescente por uma vida cheia de deleites da fantasia e dos sentidos vai produzindo progressivas manifestações de sensualidade e moleza.
Há um paulatino deperecimento da seriedade e da austeridade dos antigos tempos. Tudo tende ao risonho, ao gracioso, ao festivo.
Os corações se desprendem gradualmente do amor ao sacrifício, da verdadeira devoção à Cruz, e das aspirações de santidade e vida eterna.
Como resultado dessa sensualidade, temos a Renascença.
E, do lado da soberba, há a primeira das Revoluções, a protestante: “O orgulho deu origem ao espírito de dúvida, ao livre exame, à interpretação naturalista da Escritura. Produziu ele a insurreição contra a autoridade eclesiástica”.
E seguem as próximas Revoluções, sempre inflamando esta pústula de orgulho e luxúria:
Profundamente afim com o Protestantismo, herdeira dele e do neopaganismo renascentista, a Revolução Francesa realizou uma obra de todo em todo simétrica à da Pseudorreforma.
A Igreja Constitucional que ela, antes de naufragar no deísmo e no ateísmo, tentou fundar, era uma adaptação da Igreja da França ao espírito do Protestantismo.
O Comunismo é a próxima etapa desta decadência:
O que de mais lógico? O deísmo tem como fruto normal o ateísmo.
A sensualidade, revoltada contra os frágeis obstáculos do divórcio, tende por si mesma ao amor livre.
O orgulho, inimigo de toda superioridade, haveria de investir contra a última desigualdade, isto é, a de fortunas.
A Revolução continua viva?
A formação que sempre pregou, e que repercutiram em Mons. João Clá, de modo magnífico, foi sempre acompanhada de medidas e condutas que harmonizavam com o que entrevia da História.
Sua luta, portanto, mais do que em âmbito político, como homem público que foi, deu-se no campo do sobrenatural, no embate contra os pecados e no estímulo da virtude.
E ele sabia bem que o ser humano é inconstante e pendente ao mal, por causa do pecado original de Adão. Por isso, seu grande legado foi o exemplo de catolicidade, em especial a sua devoção à Virgem Maria.
Tal como um novo São Luís Grignion, pregou suas maravilhas e nunca deixava de recorrer a Ela. Era o seu conselho mais rotineiro, a sua conduta mais constante.
Nossa Senhora é a Rainha da humildade e a Virgem entre as virgens. Se formos até Ela, obteremos forças para vencermos nosso orgulho e luxúria.
Assim, quanto mais formos em direção ao Reino da Mãe de Deus, mais o processo revolucionário perecerá. Porém, se deixarmos de ouvir os seus conselhos maternais mais interiores, faremos a Revolução avançar mais.
Neste embate, uma coisa deve nos animar: a promessa de Maria Santíssima em Fátima: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfará!”
Portanto, Ela vencerá. A Revolução já está morta, só não sabe ainda; e, para nós, para a humanidade, há também uma certeza: se estivermos com a Virgem, venceremos!