Na última semana do Advento, uma jubilosa esperança nos envolve. Chamada de “semana da expectação”, antecede as alegrias da festa do Natal. Durante esse período, a Esposa Mística de Cristo imagina o júbilo e a esperança da Santíssima Virgem diante do fato de que o Messias haveria de nascer, e Ela veria por fim a face bendita do Filho que estava gerando em seu imaculado seio.
Esperança de Nossa Senhora no Advento
Há anos Nossa Senhora vinha suplicando a Deus que apressasse a chegada do Redentor. Assim, sendo sua oração insondavelmente agradável ao Padre Eterno, d’Ele tudo alcançando, foi atendida nos seus rogos. A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade afinal tomaria nossa natureza e habitaria entre nós. Maria foi convidada a ser a Mãe do Verbo, aceitou e gerou em seu claustro virginal o Filho do Altíssimo.
Numa palavra, a Santíssima Virgem sente aproximar-se o reino de Nosso Senhor Jesus Cristo. Dessa forma, restando apenas uma semana para que, pelo nascimento do Salvador, o império de Satanás sofra um golpe mortal e comece a derrocar.
A expectativa de todos os séculos posta no Advento
Tal conjuntura cumula de esperança a alma da Mãe de Deus. Por isso Ela é chamada, nesse período, Nossa Senhora da Expectação, ou Nossa Senhora da Esperança, ou ainda Nossa Senhora do Ó.
Esta última invocação se explica pelo fato de que, em cada um desses sete dias, a Igreja canta no Ofício Divino uma antífona que começa pela exclamação “Ó”. Exprimem elas as alegrias de Nossa Senhora ao perceber dentro de si o Corpo de Jesus já completo, seus primeiros movimentos, e a idéia de que Ele ali orava ao Pai, como de dentro do mais prodigioso dos sacrários, assim como o Santíssimo Sacramento, hoje, reza no interior dos tabernáculos nos altares de todo o mundo.
O intenso desejo de Nossa Senhora de dar à luz o Verbo Encarnado continha e sublimava os anseios de todos os profetas. O Antigo Testamento eperava por Aquele que, afinal, viria redimir o gênero humano e esmagar o cetro de fumaça do demônio. De fato, as exclamações “vinde, ó Emanuel! Ó Rei das nações!”, etc., expressam os pedidos de Adão pelo Salvador, e ele viveu e morreu com essa esperança. Viveu e morreu na alegria penitencial de ser o antepassado do Redentor que, agora, achava-se no claustro imaculado de Maria Virgem.
Portanto, todas as expectativas de todos os séculos se concentravam nesses dias e nesses momentos que antecediam de tão perto o Natal.
Realização da esperança do Antigo Testamento
Consideremos, pois, essas invocações.
Ó Sabedoria, que saístes da boca do Altíssimo, e atingis até os confins todo o universo e com força e suavidade governais o mundo inteiro: vinde ensinar-nos o caminho da prudência.
Ó Adonai (1) , chefe da casa de Israel, que aparecestes a Moisés no fogo da sarça ardente e lhe destes a Lei no Monte Sinai, vinde restaurar-nos com a força de vosso braço.
Há mais de mil anos os hebreus meditavam sobre o episódio da sarça ardente e sabiam que Deus apareceria ao povo eleito. Donde o pedido que assim poderia ser expresso: “Vinde, ó Senhor, renovar aquele feito, porém com uma excelência incomparavelmente maior”.
Ó Raiz de Jessé, que estais de pé como sinal dos povos, diante do qual os reis guardarão silêncio e a quem os povos hão de invocar, vinde libertar-nos, não tardeis.
Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu da raiz de Jessé, ou seja, da Casa real de David (filho de Jessé), à qual pertencia a Virgem Maria. Diz a antífona que Jesus será invocado por todos os povos da Terra e diante d’Ele todos os reis ficarão mudos. Por isso implora: “vinde a nós, não tardeis”, pois a humanidade geme e não pode mais esperar pela libertação.
“Vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus!”
Ó Chave de David e cetro da Casa de Israel, que abris e ninguém fecha, fechais e ninguém abre. Vinde e tirai do cárcere o prisioneiro imerso nas trevas e nas sombras da morte.
Nosso Senhor fecha e ninguém abre, abre e ninguém fecha, quer dizer, Ele possui o domínio de todas as coisas.
Ó Oriente, esplendor da luz eterna e sol de justiça, vinde e iluminai aqueles que estão envolvidos pelas sombras da morte.
Em linguagem teológica, “justiça” designa o conjunto de todas as virtudes, o estado de graça. O Redentor Divino é o “esplendor da luz eterna” e, por outro lado, o sol de todas as virtudes, iluminando os que vivem nas trevas e nas sombras da morte, ou seja, presos dos vícios e dos pecados.
De fato, Nosso Senhor veio ao mundo e da sua luz infinita nasceu a civilização cristã, com seus fulgores de santidade bafejada pela graça.
Ó Rei das nações e por elas desejado, pedra angular que reunis os dois povos [judeus e gentios], vinde e salvai o homem que formastes do lodo da terra!
Jesus Cristo é a pedra angular de toda a ordem humana e n”Ele os dissídios se reconciliam verdadeiramente, e não de um modo relativista. Além disso, o Filho de Deus salva o homem, criado do limo da terra.
E estando o Natal iminente, exclama-se:
Ó Emanuel, nosso Rei e Legislador, esperança e salvação das nações, vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus! São exclamações de tal maneira repassadas de desejo e fervor que quase se sente Cristo prestes a nascer, bem como a alegria de todas as nações esperando seu Salvador.
Pedir a implantação do Reino de Maria neste Advento
Essas belas antífonas nos sugerem uma consideração sobre a época atual. Disse o Papa Pio XI em sua encíclica Divini Redemptoris, escrita em 1937, que o mundo resgatado por Nosso Senhor Jesus Cristo se encontrava naquela época numa situação lastimável, ameaçado de cair mais baixo do que antes da Redenção.
Ora, com o passar das décadas esse estado lamentável do mundo não fez senão se agravar, a impiedade e a imoralidade grassando sem freios nos mais diversos ambientes da sociedade humana.
Razão pela qual ansiamos por uma renovação da face da Terra, um como que irresistível revigoramento dos frutos da Redenção — de si definitiva e super-suficiente — aplicados aos homens de nosso tempo, para que, regenerados e reconciliados com o Divino Salvador, trabalhem pela implantação do Reino de Maria.
Nas vésperas do Natal, essas antífonas devem exprimir um pedido ao Menino por intercessão de Nossa Senhora: assim como Ele atendeu a prece da Virgem Santíssima e apressou sua vinda ao mundo, abrevie igualmente os presentes dias e faça sentir sua ação mais enérgica, triunfal, invencível para reimplantar seu reino. E reimplantá-lo sob o aspecto mais requintado, magnífico, ou seja, Nosso Senhor reinar por Maria, com Maria e em Maria. Rezemos com a firme confiança de que essa graça insigne nos será concedida, e assim transporemos com alegria, não só os dias piedosos que circundam a festa de Natal, mas também os umbrais do ano vindouro. (Revista Dr. Plinio, Dezembro/2006, n. 105, p. 18 a 23).
1) Um dos nomes com que os hebreus invocavam o Altíssimo.