Quando se fala em amor ao próximo, logo nos vem à mente a ideia da ajuda material aos mais necessitados. Auxílio esse limitado à generosidade e à real disponibilidade dos bens de cada qual.
Concretizado esse ato de caridade, em geral, o benfeitor se considera merecedor do louvor divino: “Em verdade Eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim mesmo que o fizestes!” (Mt 25, 40). Estaria, portanto, quite com o Criador.
Entretanto, não temos todos nós um dever moral, primeiro, para com Deus e depois para com todos os homens, sem excluir os detentores de grandes fortunas?
Com efeito – como nos adverte o Divino Mestre no trecho do Evangelho comentado neste número da Revista (no PDF, pp.10-17) –, todo batizado deve ser sal da terra e luz do mundo, fazendo brilhar suas boas obras diante dos homens, de maneira que estes glorifiquem a Deus (cf. Mt 5, 13-16). Todos são, portanto, credores do bom exemplo e da vida virtuosa de cada um.
Esta é a caridade compreendida em seu aspecto mais elevado. E dela ninguém está dispensado, desde o multimilionário até o mais pobre dos homens.
Tal realidade espiritual se baseia no fato de que, para o bem ou para o mal, é o exemplo que arrasta outros a seguirem o mesmo caminho. Isto é consequência do instinto de sociabilidade, mais arraigado no homem do que o próprio instinto de conservação.
Ora, a civilização contemporânea esmerou-se em proporcionar a todo cidadão os meios para ficar conectado com o mundo inteiro, acompanhando os principais acontecimentos em tempo real. Mas, enquanto a técnica avança, cada um se sente mais só no meio da multidão, paradoxalmente isolado até de seus mais próximos.
Nessa situação se encontra grande parte da humanidade, com o consequente esfriamento das relações sociais, até mesmo nos círculos familiares. Promove-se, assim, a exacerbação do egoísmo e definha o amor ao próximo, por onde cada vez menos o homem se preocupa com os infortúnios alheios.
Tal desvio de visão tem gerado desordens de alma dos quais decorrem problemas psíquicos sem conta, levando até ao suicídio jovens das classes abastadas, nas quais abundam bens materiais, mas está ausente a verdadeira caridade.
Ora, se todos resolvessem, com o auxílio da graça, ser de fato sal da terra e luz do mundo – ou seja, praticar os mandamentos da Lei de Deus na sua integridade, dando aos outros a nobre esmola do bom exemplo –, não se solucionariam incontáveis problemas espirituais, e até físicos, levando o homem hodierno a reencontrar o autêntico sentido da vida, perdido há tanto tempo?