No tempo em que o chapéu fazia parte da indumentária corrente, sua função não se limitava a proteger a cabeça: era também um belo adorno da parte mais nobre do corpo humano e um precioso instrumento da cortesia.

As convenções sociais exigiam que o cavalheiro soubesse em que medida devia erguer o chapéu, ou tirá-lo completamente, consoante a respeitabilidade da pessoa a ser cumprimentada.

Era costume, também, que ao passar diante de uma igreja os homens se descobrissem, em sinal de respeito ao templo sagrado. Pois aquelas pedras tinham sido ungidas pelo Bispo e estavam consagradas ao culto divino. No seu interior, o Santíssimo Sacramento estava presente no sacrário.

Meras fórmulas de cortesia, sem valor nem utilidade, que o pragmatismo de nossa época acabou por abolir quase completamente?

Ou manifestação de uma realidade mais profunda que o homem moderno tem certa dificuldade em discernir?

Para um cristão, as fórmulas de cortesia são um valioso meio de expressar o amor ao próximo e de impregnar as realidades temporais com o espírito do Evangelho. Porque a condição de batizado merece um altíssimo respeito.

E não é verdade que com o Batismo, enquanto perdura o estado de graça, cada cristão é um templo vivo de Deus?

São Paulo, ao exortar os fiéis de Corinto a perseverarem na fé, invoca esse argumento: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (I Cor 3, 16).

O pecado profana esse templo e expulsa Deus de seu interior. E por isso o Apóstolo suplicava aos coríntios para não pecarem: “Fugi da imoralidade” (I Cor 6, 18a).

A inabitação da Santíssima Trindade, que nos é concedida com o Batismo, é uma verdade difícil de entender, para nossa inteligência humana, como bem notava o Papa Pio XII:

Certamente, não desconhecemos quão difícil de entender e de explicar é esta doutrina da nossa união com o divino Redentor, e especialmente da habitação do Espírito Santo nas almas (Mystici Corporis Christi, n. 78).

Porém, não devemos recuar diante desta verdade, pelo fato de ser de difícil intelecção, mas procurar penetrar com veneração o seu misterioso sentido.

Recorramos para isso às explicitações da teologia, pela pluma brilhante de Fr. Antonio Royo Marin, OP: “A inabitação divina – absolutamente inseparável da graça santificante – nos dá o mesmíssimo Deus”.

No que consiste esse dar Deus à alma, explica com a clareza própria da escola tomista o mesmo teólogo:

No cristão, a inabitação equivale à união hipostática na pessoa de Cristo, embora não seja ela, mas a graça santificante, que nos constitui formalmente filhos adotivos de Deus. […] Mas a divina inabitação é como a encarnação, em nossas almas, do absolutamente divino: do próprio Ser de Deus tal como é em Si mesmo, uno em essência e trino em pessoas.

Diante de tão sublime verdade, não seria fora de propósito, ao terminar de batizar uma criança, todos se ajoelharem diante dela, em sinal de adoração a Deus que nela acaba de estabelecer sua morada: “Se alguém Me ama, guardará minha palavra e meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos nossa morada” (Jo 14, 23).