Quem analisa superficialmente os acontecimentos não consegue formar uma ideia objetiva da Opinião Pública de nossos dias, e acaba aceitando a opinião corrente de que o mundo caminha homogênea e inelutavelmente para a irreligião.
Ora, a presença de mais de um milhão de fiéis na cerimônia de beatificação de João Paulo II em Roma atesta não só a grande popularidade do carismático pontífice, mas também a vitalidade da Igreja e o caloroso pulsar da fé sob o denso manto de hedonismo e de materialismo que cobre nossa sociedade.
O fervor religioso manifestado nessa ocasião revela, outrossim, o quanto os olhos do homem contemporâneo continuam abertos para o sobrenatural e como, desde que se saiba tocar certos pontos nevrálgicos da alma, é possível transformar em fé comprometida e profunda a religiosidade latente de tantos de nossos contemporâneos.
Assim, cabe perguntar se a sensação de isolamento, vazio e carência de afeto autêntico do homem contemporâneo – fruto da crise existencial de que padece o mundo – não poderia ser remediada apresentando em toda a sua grandeza o ato de amor de um Deus que, além de Se fazer homem para nos redimir, quis ainda Se entregar a nós como alimento na Eucaristia.
A experiência pastoral dos Arautos do Evangelho patenteia o poderoso atrativo exercido pelos mistérios da nossa Religião, de modo especial sobre as mais novas gerações, quando bem explicados e dignamente celebrados.
Por exemplo, nas capelas das diversas sedes da associação onde se expõe o Santíssimo Sacramento, não é raro encontrar juveníssimos, recém-introduzidos na prática religiosa, absortos por inteiro na contemplação de Jesus-Hóstia.
Vê-se que a graça os atrai e lhes concede incontáveis momentos de intensa consolação espiritual.
Encantam-se esses jovens com a consideração de um Deus que por amor gratuito quer estar tão junto de nós, estabelecer essa união estreitíssima com cada um, como nem sequer a têm os Anjos no Céu.
Na pessoa que recebe o Santíssimo Sacramento produz-se, além do mais, algo de divino. Pela Comunhão Eucarística, afirma São Pedro Julião Eymard, “o cristão se transformará no mesmo Jesus, e Jesus tornará a viver nele”. Ela é, acrescenta o mesmo Santo, “uma segunda e perpétua encarnação de Cristo”. Numa palavra, conclui, “a comunhão torna-se, para Jesus Cristo, qual outra vida”.
Na homilia da última Missa in Cœna Domini, o Papa Bento XVI lembra que Deus “deseja-nos, aguarda-nos”. E interroga-se logo a seguir:
E nós, temos verdadeiramente desejo d’Ele? Sentimos, no nosso interior, o impulso para O encontrar? Ansiamos pela sua proximidade, por nos tornarmos um só com Ele, dom este que Ele nos concede na Sagrada Eucaristia?
Quanta sabedoria há nestas palavras do Papa! Quanta profundidade nestas perguntas na aparência singelas!
Pois, se, pelo mundo inteiro, apóstolos ardentes de devoção ao Santíssimo Sacramento trabalharem com fé, dedicação e tato, para o homem moderno abrir sua alma às insignes graças que Deus deseja dar-lhe através do Santíssimo Sacramento, o que não se poderá esperar em matéria de verdadeiras ressurreições espirituais em nossos dias?