A Liturgia nos apresenta uma nova lição a cada ano, a bem dizer, a cada dia, embora seus ritos se repitam em maravilhosa cadência no decorrer dos séculos, como que indiferentes aos acidentes da História.

Com os olhos postos no Céu – nosso grande objetivo comum –, as cerimônias religiosas parecem abstrair-se do acontecer humano.

No entanto, como Deus é o supremo governante da História, tudo Ele encaminha para nos indicar a todo instante o significado mais profundo dos fatos, de maneira a podermos discernir seus divinos passos ao longo do tempo.

Assim, dadas as circunstâncias particularmente apreensivas de nossos dias, que lição podemos tirar da solenidade da Páscoa neste mês de abril de 2014?

Em suas pregações, Nosso Senhor havia predito aos seus discípulos que seria morto, mas ressuscitaria ao terceiro dia. Eles não creram e, portanto, não se prepararam. E os tormentos da Paixão superaram todo o imaginável, deixando os Apóstolos em completo desconcerto.

Quando tudo parecia perdido do ponto de vista humano, Jesus ressuscitou e lhes apareceu, manifestando infinita bondade: “A paz esteja convosco!” Com isso, alegraram-se e passaram a crer.

Cristo ressuscitara também em suas almas, e eles se tornaram, assim, os gigantes da fé, as veneráveis colunas da Santa Igreja.

A Quaresma é tempo de penitência e de conversão, à espera das alegrias da Páscoa. Ressurreição de Cristo em nosso interior, ressurreição da alma, da morte do pecado para a vida da graça.

E para a sociedade humana, em que consiste a ressurreição?

Há um século, a Virgem Maria apareceu em Fátima, fazendo à humanidade uma séria advertência e predizendo a concretização requintada do Reino de Cristo na Terra: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfará!”

Entretanto, desde então, a roda da História girou no sentido das apreensões de Nossa Senhora – “se o mundo não se converter” – e a imensa maioria dos homens tende a se afastar cada vez mais da verdade.

E tudo, de certo modo, a muitos pode parecer irremediavelmente perdido.

Estaríamos vivendo, assim, um período idêntico àquele em que o Divino Redentor permaneceu no sepulcro.

E podemos nos perguntar: quem hoje, enfrentando tantas circunstâncias contrárias, crê na realização do Reino de Maria e faz dessa crença o eixo em torno do qual giram seus ideais, preferências e atividades? Quem está disposto a confiar, contra toda esperança, que Cristo ressuscitará na História?

Sem dúvida, quanto mais adversas forem as aparências, mais meritório será o ato de fé no Reino de Maria.

Com Edmond Rostand, podemos proclamar: “à noite é belo crer na luz”; e com Santa Teresinha, confiar que “acima das nuvens o céu é sempre azul” e a intervenção celeste não faltará.

Desse modo, estejamos certos de uma coisa: o prêmio será daqueles que confiarem por inteiro nos desígnios da Providência e amarem cada passo de Deus na História! Esses, na aurora da ressurreição da Civilização Cristã, poderão afirmar com Santa Joana d’Arc: “As vozes não mentiram!”