Austero, não excessivamente magro, vestido de pelos de camelo e alimentando-se de gafanhotos e mel silvestre, São João Batista era a própria representação da severidade.
Aos que a ele acorriam não oferecia qualquer benefício material. Pelo contrário, recriminava-lhes as faltas com as mais duras palavras: “Víboras que sois! Quem vos ensinou a fugir da ira iminente? […] O machado já está posto à raiz das árvores. Toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo” (Lc 3, 7.9).
A essa severidade, aliava ele a bondade do bom pastor que deseja a salvação do rebanho.
Atraídas por sua pregação e por sua figura, multidões de Jerusalém, da Galileia e de toda a Judeia o procuravam, compungidas, arrependidas e desejosas de mudar de vida.
Ora, dirá alguém, isso aconteceu há dois mil anos, numa realidade muito diversa. Se São João Batista vivesse em nossos dias, como seriam suas pregações? Valer-se-ia do mesmo rigor para censurar a vida pecaminosa? Ou a prudência lhe recomendaria meios mais suaves, mais “diplomáticos”?
Ante essas perguntas, não faltarão espíritos esclarecidos a ponderar a necessidade de adaptar o discurso do Precursor à sensibilidade do homem contemporâneo, mais delicado que os de outrora.
Em vez de ferir com tanta aspereza o amor-próprio dos ouvintes – argumentarão eles – deve-se preferir a tática da captatio benevolentiæ, reconhecendo os pontos positivos de cada indivíduo, procurando potencializá-los.
Outros talvez aconselhassem o Precursor a apoiar-se nos modernos meios de comunicação social, lançando suas ideias como propostas-base a serem discutidas em um areópago global. Assim, após um amplo debate franqueado a todos, o anúncio messiânico viria enriquecido com aportes de outras culturas e outras formas de ver a realidade.
Podemos dar por certo, em qualquer caso, que o Batista não vestiria pelo de camelo, nem se alimentaria de mel silvestre e gafanhotos. E, sem dúvida, também não pregaria em grego ou aramaico… Mas cabe perguntar: amenizaria ele as censuras ao pecado e ao pecador?
A resposta, obviamente, é: “não”.
Porque embora ele se servisse de todos os meios ao seu alcance para melhor atingir o público hodierno, não faria amputação alguma em sua mensagem profética.
Bem sabia o Precursor – e bem o sabem os verdadeiros apóstolos de todos os tempos – que as conversões não são fruto de técnicas de marketing, de demonstrações doutrinárias bem estruturadas ou de hábeis argumentos psicológicos, mas da graça divina.
Por muito que nosso apostolado deva ser lógico e atraente, só a ação do Espírito Santo sobre as almas fará germinar nelas as sementes lançadas pelo pregador, ao qual cabe ser consciente de seu papel de mero instrumento de Deus.
Não cabe, pois, lugar a dúvidas: se vivesse em nossos dias, o Batista não pouparia às multidões relativistas de hoje as severas – e quão benéficas! – admoestações de outrora. Unidas, é claro, à bondosa acolhida a todas as almas verdadeiramente desejosas de conversão.
Neste Advento, ouçamos sua pregação que nos convida a adorar em nossos corações o Verbo Encarnado, Filho de Maria, a “Mulher Eucarística”.