Deus estabeleceu misteriosas e admiráveis relações entre certas formas, cores, sons, perfumes, sabores e, de outro lado, certos estados de alma.
Por esses meios pode-se influenciar a fundo as mentalidades e induzir pessoas, famílias ou povos a adotarem um determinado estado de espírito.
Assim, o solene bimbalhar do sino tem o condão de elevar o pensamento para o sobrenatural.
O perfume do incenso põe-nos em estado de oração.
E, conjugando vários desses elementos, é possível criar ambientes que oponham barreiras às nossas paixões desregradas e predisponham o espírito para desejar o Céu.
Ora, a recíproca também é verdadeira.
A análise das manifestações artísticas de uma civilização apresenta-se como um dos melhores recursos para conhecer sua forma de pensar, pois o ideal de beleza e harmonia que nela impere estará sempre intimamente ligado aos princípios filosóficos e morais que a conformam.
A alma do homem medieval, equilibrada e sequiosa de transcendência, é admiravelmente expressa pelas formas esguias das catedrais góticas, sua diáfana concepção do espaço, o rico colorido dos vitrais e a expressividade das esculturas. Elas conseguem transmitir certos aspectos imponderáveis da filosofia e a teologia da época que nem sequer nos sublimes raciocínios do Doutor Angélico é possível achar.
Mais ainda do que a arquitetura, tem a música o poder de despertar sentimentos e, através deles, influir nos estados de espírito e até nas mentalidades.
Pensemos no que seria, por exemplo, um desfile militar em completo silêncio, um filme de ação desprovido de trilha sonora ou uma festa de Natal sem o “Noite Feliz”. A essência do fato permaneceria a mesma, mas faltar-lhe-ia uma das principais vias para atingir o interior da alma humana.
Por isso, desde os mais antigos tempos tem a Igreja recorrido também a essa arte, no intuito de levar as almas para a consideração das coisas celestes. Nos primeiros séculos, ouviam-se apenas cantos a cappella, com linhas melódicas simples cujo poderoso efeito foi louvado por Santo Agostinho: “Sinto que nossas almas se movem mais devota e ardorosamente para a chama da piedade, com essas letras sagradas, quando elas assim são cantadas” (Confessionum X, c.33, n.49).
Surgiram depois o contraponto, a polifonia, os oratórios sacros, as Missas dos grandes compositores.
Desdobrada numa imensa variedade de estilos, a música não fez senão confirmar ao longo dos séculos sua capacidade
de remeter, para além de si mesma, para o Criador de qualquer harmonia, suscitando em nós ressonâncias que são como um sintonizar-se com a beleza e a verdade de Deus com aquela realidade que sabedoria humana alguma ou filosofia podem expressar (Bento XVI, discurso 4/9/2007).
Não nos enganemos, portanto, considerando a arquitetura e a música como meros exercícios de estética desprovidos de transcendência. Por meio delas pode-se criar ambientes que favoreçam a prática da virtude e promovam a nossa santificação.
Não será este um dos meios mais eficazes, e talvez dos menos utilizados, para evangelizar os homens de hoje?