“No tempo em que São Francisco morava na cidade de Gubbio, apareceu na região um lobo grandíssimo, terrível e feroz, o qual não devorava somente os animais, mas também os homens…”
Assim se inicia um dos capítulos dos Fioretti, as “florzinhas”, que nos narram muitos episódios da vida do Santo de Assis.
Indo ao encontro da temida fera, o Poverello milagrosamente a pacifica – uma de suas muitas intervenções para harmonizar as criaturas de Deus com o homem.
Mas o encanto pela natureza não é uma característica exclusiva de São Francisco. Todos os santos sempre o compartilharam.
A Bem-aventurada Ana Maria Taigi, apiedada com o sofrimento de cavalos, cães e gatos doentes, os abençoava e os curava.
E no capítulo 9º do Livro da Vida, Santa Teresa de Jesus aconselha quem deseja fazer uma boa oração a prestar atenção na natureza: “Ajudava-me olhar os campos, a água e as flores. Eu via neles traços do Criador”.
De Santo Inácio de Loyola, conta seu biógrafo, o Padre Ribadaneyra:
Vimo-lo de modo muito frequente, a partir de coisas pequenas, levantar a alma a Deus, que é admirável até nas menores. Vendo uma planta, uma ervazinha, uma folha, uma flor, qualquer fruta; da consideração de um vermezinho ou de outro qualquer animalejo, levantava-se até os céus e penetrava o mais interior e mais remoto dos sentidos, e de cada coisinha dessas tirava doutrina e conselhos muitíssimo proveitosos para a instrução da vida espiritual (l.5, c.1).
Afinal, não foi o próprio Redentor que nos exortou a olhar os lírios do campo e os pássaros?
A natureza facilita aos santos cantar os atributos e perfeições divinas, e mergulhar na contemplação por amor a Deus.
Florestas e campos, rios e montanhas, aves do céu e todos os animais da terra proclamam não serem eles mesmos deuses, mas sim criaturas, tiradas do nada por Deus, com um simples ato de sua divina vontade: fiat! (cf. Santo Agostinho, Confissões, l. 11, cap. 4).
Será difícil achar pessoas mais carinhosas para com a natureza que os santos e mais convictamente ecologistas do que eles!
Sua posição é tanto mais efetiva porquanto, embora admirando os vegetais, animais e minerais pelo bem que contêm em si, por sua beleza e por sua contribuição para a harmonia da criação, eles não se detêm no seu mero aspecto material, mas veem nesses seres as preciosas marcas do divino Autor de todas as coisas.
Como os santos, todos nós somos convidados a velar pela sábia e equilibrada preservação do tesouro ecológico que herdamos. Sirva ele para nos recordar também nosso lugar no universo.
Segundo o plano divino, o homem é o rei da criação e deve governá-la com sabedoria. Mas só há um meio de ele se encaixar harmoniosamente entre os demais seres: sendo virtuoso.
Assim como as plantas, os animais e os minerais glorificam a Deus pelo simples fato de existirem e de cumprirem instintivamente suas funções, também os homens têm a obrigação de glorificá-Lo, sendo fiéis ao objetivo para o qual Ele os criou: amando-O e servindo-O, fazendo o bem e procurando evitar o pecado.
Só assim eles poderão imitar os santos e ser amigos da natureza em toda a acepção do termo.