Nesta noite de Natal – uma ocasião repleta de sentimentos de paz, alegria e esperança – vêm-nos também à lembrança os muitos dramas dos dias de hoje.

Enquanto avançamos nas sendas do terceiro milênio, o horizonte se obscurece em razão das muitas crises em curso, as quais não apenas ocupam o noticiário, mas interferem cada vez mais em nossas próprias vidas.

Logo de início, a crise econômica, determinada a permanecer por um longo período, apesar do esforço feito até aqui para debelá-la.

Um problema bem mais antigo é o da crescente criminalidade, não mais restrita a países como o Brasil, mas já se alastrando até para a Europa ocidental.

Noutra linha encontramos as advertências sobre o aquecimento global e outras matérias relacionadas com a degradação do meio ambiente.

Muito mais grave é a crise moral. Esta assume diferentes características, mas no fundo é sempre a mesma.

Vemo-la refletida, por exemplo, no comportamento de uma juventude sem valores, sem freios e sem ideais; no domínio de modas extravagantes e sem pudor; na avalanche publicitária de pornografia e de violência; na ciência que parece ter enlouquecido a ponto de tentar alterar até mesmo a natureza; enfim, na adoração do pior dos ídolos modernos: o próprio indivíduo, egoísta, relativista e vaidoso.

Na atualidade, nem mesmo a inocência da infância é respeitada, e a família cristã, base de nossa civilização, parece destinada a desaparecer ou a ficar reduzida a uma expressão tão diminuta que equivale à extinção.

A simples enumeração dos males de hoje ainda iria longe, mas o elenco acima é suficiente para configurar a gravidade do momento presente. E tudo parece perdido, caso seja considerado sob um prisma meramente humano, mas não se for olhado com os olhos da fé e… nos lembrando das lições da História.

Com efeito, há pouco mais de dois mil anos, a perspectiva do mundo não era menos crítica do que agora.

Por toda a extensão do Império Romano e além dele, a sociedade estava afundada em imoralidades, desonestidades, egoísmos e brutalidades.

Ora, por incrível que pareça, essa situação era prenunciadora de glórias e misericórdias extraordinárias de Deus para a humanidade.

Tudo começou quando nasceu uma Menina concebida sem pecado, a qual ia tornar-Se a Mãe do Salvador, origem dos luzimentos do anúncio da Boa-Nova, da fundação da Santa Igreja Católica e do surgimento de uma civilização moldada segundo a lei do Evangelho.

Assim, “onde abundou o pecado, superabundou a graça”, conforme nos diz São Paulo (Rm 5, 20). Parece ser que – como as portas do inferno jamais prevalecerão contra a Igreja – quanto maior for a crise, mais bela será a época histórica posterior a ela.

No momento de recordarmos o nascimento do Menino Jesus em Belém, cresce-nos a confiança de que caminhamos para uma era cristã de belezas inimagináveis, apesar – e talvez por causa – das dramáticas crises atuais.

Com essa perspectiva bem presente na mente e no coração, a revista Arautos do Evangelho deseja a todos os seus leitores um santo, feliz e esperançoso Natal.