“Alios ego vidi ventos; alias prospexi animo procelas – Já vi outros ventos, já enfrentei outras tempestades” (Cícero, Familiares, 12, 25, 5), poderia bem proclamar a Sagrada Nau de Pedro perante os problemas que afligem o mundo hoje.
Com efeito, sem se intimidar com os vagalhões que investem, nunca indiferente ou omissa, mas sempre altaneira diante deles, segue a Santa Igreja seu glorioso percurso rumo à implantação do Reino de Cristo.
Assim, com inesgotável vitalidade, vai desdobrando sua Liturgia ao longo do ano, mais voltada para o Céu que para a terra, na certeza de que Deus tudo vê, dispõe e governa. Manifesta, com isso, a sua origem divina, situando-se muito acima das limitadas contingências humanas.
Nesse contexto se insere a grandiosa cerimônia de criação de 22 novos Cardeais, realizada pelo Papa Bento XVI no dia 18 de fevereiro.
Num cenário de inigualável esplendor, repetiu-se um rito multissecular que confirma a perenidade da Esposa de Cristo. Como o Sol que se renova a cada aurora, assim a Igreja Católica se apresenta sempre jovem, santa e sem mancha.
Na ocasião, o Santo Padre lembrou aos novos purpurados que a eles
é confiado o serviço do amor: amor a Deus, amor à sua Igreja, amor aos irmãos com dedicação absoluta e incondicional – se for necessário – até ao derramamento do sangue, como diz a fórmula para a imposição do barrete cardinalício e como indica a cor vermelha das vestes que trazem.
“Noblesse oblige!”
Contudo, na perspectiva divina, mesmo esse possível holocausto sangrento fica em segundo plano. Pois tudo nesta vida passa, só Deus é eterno.
Nesse sentido, na Basílica Vaticana, na pessoa de Bento XVI, ouviu-se a voz de Pedro, que repercute ao longo dos séculos, instituindo seus principais auxiliares para o governo dessa instituição divina, tão complexa e ao mesmo tempo tão simples.
Com efeito, por detrás dos majestosos cerimoniais que marcam a vida da Igreja, se encontram exímia organização, afincado trabalho e arguta diplomacia.
A beleza dos trajes e dos ritos vela o aspecto humano.
Uma das características da Esposa de Cristo está em que, muito acima dos indivíduos, vislumbra-se nela algo atemporal, inefável e onipresente nos mínimos detalhes e atos: é a ação do Espírito Santo, tão discreta e tão efetiva, que move o mundo e as almas.
Assim, a solene cerimônia de criação de novos purpurados, por exemplo, se repetirá de tempos em tempos, enquanto mundo houver, com outras pessoas, mas com a mesma fé, o mesmo objetivo, o mesmo Espírito, “per omnia sæcula sæculorum”, até que os Céus se enrolem como um pergaminho e todos sejam convocados, desde Adão até o último homem, a se apresentarem no Vale de Josafá para a mais grandiosa cerimônia da História: o Juízo Final!
Terá, então, a Santa Igreja cumprido por completo a sua missão na terra, povoando de Santos o Céu!