A vitalidade de uma semente, que em alguns anos se desenvolve a ponto de transformar-se numa frondosa árvore, é um dos símbolos da atuação da graça nas almas.
Dom gratuito de Deus, a graça possibilita tornar-nos seus filhos adotivos, capazes da bem-aventurança eterna. Ela nos faz participantes da natureza divina, introduzindo-nos num santificante relacionamento com a Santíssima Trindade.
No mistério do processo trinitário, eterno e imutável, o conhecimento do Pai gera o Filho, e do amor entre Ambos procede o Espírito Santo.
Nesse perpétuo convívio entre as Três Pessoas Divinas há um transbordamento de amor infinito, e Deus, embora seja perfeitamente feliz, manifestou com a obra da criação seu desejo de fazer com que outros compartilhassem desse inefável amor.
O bem é eminentemente difusivo e por isso a vida divina tende a expandir-se.
Deus criou o universo, não somente para manifestar sua glória, mas para comunicá-la. Como as criaturas são naturalmente incapazes de um conhecimento sobrenatural da essência divina, Deus lhes concede – aos seres dotados de inteligência e vontade, Anjos e homens – sua graça, um dom que os torna “participantes da natureza divina” (II Pd 1, 4).
Ela, muitas vezes, age de forma suave e quase imperceptível, mas em certas ocasiões tem uma ação fulgurante e eficaz, provocando nas almas mais empedernidas uma completa transformação.
A conversão de São Paulo é um dos exemplos históricos mais eminentes de uma reviravolta espiritual, com inenarráveis consequências: de perseguidor da Igreja a apóstolo de Jesus Cristo, foi ele o grande instrumento para a expansão do Cristianismo, mudando assim o próprio rumo da História.
São Paulo foi um homem que se deixou conscientemente mover pela graça e visou servir de veículo para que ela atuasse também nos outros.
Ele a tem continuamente nos lábios e nos seus escritos. “Onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5, 20), afirma.
Em outra passagem diz que Deus, “demonstrou assim pelos séculos futuros a imensidão das riquezas de sua graça, pela bondade que tem para conosco, em Jesus Cristo” (Ef 2, 7). E ainda nos adverte: “Estai alerta para que ninguém deixe passar a graça de Deus” (Hb 12, 15).
Quando os homens não são indiferentes à graça divina mas, pelo contrário, a aceitam, correspondem a ela e com ela resolvem colaborar, produzem-se maravilhas, como as que brotaram da fé sólida e da abrasadora caridade de São Paulo.
Ao longo da História encontramos disso exemplos luminosos, como a conversão dos bárbaros, demolidores da civilização romana, mas finalmente atraídos para a verdadeira Religião pelo poder da graça divina.
Nesse misterioso dom de Deus estão postas nossas esperanças para a transformação do mundo atual, pois o que para o homem é impossível, para Deus é possível.
E assim, talvez venhamos a assistir, numa intervenção divina, um dos maiores milagres da graça: a instauração do Reino de Cristo, por meio de Maria.