No Sermão da Montanha, síntese da Boa-Nova, Jesus apresenta a todos os que seriam seus discípulos ao longo da História uma doutrina moral divinamente insuperável.
Impossível teria sido alcançá-la apenas pela atividade da razão.
Foi necessário que o próprio Verbo de Deus feito carne a revelasse, convidando, ao mesmo tempo, com o seu sublime exemplo a praticá-la na maior perfeição.
Era de esperar que os ensinamentos de Nosso Senhor, condensados de forma admirável nas oito bem-aventuranças, arrebatassem os homens de então, enchendo-os de júbilo e admiração. Tanto mais que a doutrina do Salvador mudava radicalmente os violentos costumes da época, introduzindo a bondade e a benquerença num mundo cujas relações eram dominadas pelo egoísmo.
Entretanto, não foi isso que se deu. Pelo contrário, apenas uma minoria correspondendo à graça divina se tornou cristã. E, durante quase três séculos, ela foi objeto de incompreensões, calúnias e as mais cruéis perseguições.
Ora, por que esse ódio contra aqueles que só queriam fazer o bem?
Pelo livre arbítrio, o homem tem sempre possibilidade de optar pelo mal, e a isso o impelem o clamor das paixões desregradas, que fervilham na alma após o primeiro pecado, bem como as tentações dos espíritos malignos. “Vigiai e orai para não cairdes em tentação”, exorta Jesus, “pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26, 41).
Para podermos trilhar as sendas da virtude, vencendo as armadilhas de Satanás, contamos com o poderoso auxílio dos Mandamentos, valiosas balizas que separam nitidamente o que é bom do que é mau.
Mas não só.
Em sua infinita bondade e compaixão para com nossas dificuldades, Deus gravou em nossos corações a lei natural, de modo a, mesmo sem a instrução cristã, contarmos com um guia seguro para trilhar os caminhos do bem.
Com efeito, nossas almas estão dotadas de uma faculdade denominada “sindérese”, cujo papel, diz São Tomás de Aquino, é “advertir contra o erro e inclinar ao bem”. Ela é como um escrínio no qual se encontram preciosas joias: são as regras morais universais, gravadas de modo indelével em nossas almas.
Por elas temos a capacidade de julgar se uma ação é boa ou má, e nossa consciência, assim iluminada, pode agir corretamente nos casos concretos, evitando cair nos abismos aos quais nos pode levar a fraqueza humana.
Todavia, quantas vezes fechamos nossos “ouvidos” à voz da consciência e cedemos ao tumulto das paixões desordenadas! Nesses momentos, recorremos a racionalizações para nos justificar, mas estas não nos tranquilizam.
Ao escolhermos praticar um ato mau, que pode nos proporcionar um prazer passageiro, estamos, ao mesmo tempo, abrindo a alma para sofrimentos e contrariedades, pois nossa consciência – felizmente – não nos deixará em paz.
Por que “felizmente”? Porque seu apelo nos prepara para o arrependimento e para a reconciliação com Deus, de modo a retomarmos o caminho da felicidade eterna.
Abramos nosso coração, portanto, a essa voz interior que nos alerta sobre o mal a evitar. Ela não constitui um insuportável estorvo ao nosso livre arbítrio.
Pelo contrário, como as balizas que indicam o traçado de uma estrada, ela nos auxilia a usar de modo ordenado nossa liberdade, para que possamos ser bem-aventurados nesta terra e eternamente felizes no Céu.