Difícil seria conceber uma sociedade bem constituída, desprovida de sacerdotes. Pois, como assinala com proverbial singeleza o Santo Cura d’Ars, “sem o Sacramento da Ordem, não teríamos o Senhor”.
Acrescenta ele:
Quem O colocou ali naquele sacrário? O sacerdote. Quem acolheu a vossa alma no primeiro momento do ingresso na vida? O sacerdote. Quem a alimenta para lhe dar a força de realizar a sua peregrinação? O sacerdote. Quem há de prepará-la para comparecer diante de Deus, lavando-a pela última vez no Sangue de Jesus Cristo? O sacerdote, sempre o sacerdote. E se esta alma chega a morrer [pelo pecado], quem a ressuscitará, quem lhe restituirá a serenidade e a paz? Ainda o sacerdote.
Estas palavras de São João Maria Vianney – oportunamente lembradas pelo Papa Bento XVI na carta para proclamação do ano sacerdotal, de 16/6/2009 – realçam a importância da vida sacramental para a autêntica vitalidade do Corpo Místico de Cristo, mas também quanto a boa ordenação social depende da dedicação e virtude dos ministros consagrados.
Muito a propósito advertiu Dom Chautard, em seu célebre livro A alma de todo apostolado, que a um sacerdote santo corresponde um povo fervoroso; a um sacerdote fervoroso, um povo piedoso; a um sacerdote piedoso, um povo honesto; e a um sacerdote honesto, um povo ímpio…
O Sacramento da Ordem eleva quem o recebe a uma dignidade régia no meio dos fiéis, não apenas representando Cristo, mas agindo in persona Christi, em diversas oportunidades.
Ascende, assim, o sacerdote, ao ser “consagrado na verdade” (Jo 17, 19) pela imposição das mãos do Bispo, a uma dignidade superior à dos Anjos, segundo Santo Afonso de Ligório.
A tal elevação deve corresponder um desejo constante de em tudo se configurar com Cristo. E, em consequência, uma respeitabilidade proporcionada a tão alta missão, que se reflete não apenas no comportamento exímio, mas também na adequação da postura, do modo de ser e do traje.
Sobretudo, ensina o Concílio Vaticano II, deve o sacerdote ter presente a centralidade da Eucaristia no seu ministério: “A Eucaristia aparece como fonte e coroa de toda a evangelização” (Presbyterorum ordinis, n.2.). Pois no sacrifício eucarístico se exerce a própria obra da Redenção (cf. idem, n.13).
Também nos dias atuais, a vitalidade da Igreja depende em boa medida dessa configuração com Cristo, condição necessária e base de qualquer autêntica renovação. Assim o salientou o Papa Bento XVI na homilia da última Missa Crismal:
Quem observa a história do período pós-conciliar pode reconhecer a dinâmica da verdadeira renovação, que assumiu amiúde formas inesperadas em movimentos cheios de vida e que torna quase palpáveis a inexaurível vivacidade da Santa Igreja, a presença e a ação eficaz do Espírito Santo. E, se observamos as pessoas das quais dimanaram, e dimanam, esses rios pujantes de vida, vemos também que, para uma nova fecundidade, é preciso estar cheio da alegria da fé; são necessárias também a radicalidade da obediência, a dinâmica da esperança e a força do amor.
Mais uma vez, a santidade, portanto!