Nosso Senhor Jesus Cristo surpreendeu os homens com uma inovadora doutrina, que implicava na completa alteração dos paradigmas do relacionamento humano até então considerados normais.
Em suma, o ensinamento do Divino Mestre consistia no preceito de amar o próximo como a si mesmo, por amor a Deus; de amar até mesmo os inimigos e fazer o bem a quem nos odeia; de buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça, com a certeza de que o resto virá em consequência.
Ora, isto se chocava veementemente com o egoísmo, a crueldade, a lascívia e outros vícios prevalentes no mundo clássico.
Com o indispensável auxílio de uma torrente de graças novas derramadas sobre o mundo, foi renovada a vida em todos os territórios nos quais se acolheu a Boa-Nova: favoreceu-se a virtude, a moralidade dominou, reinaram a lealdade, a justiça e a caridade, os mais fracos foram defendidos, o trato entre os homens se tornou mais doce e fraterno. A História conheceu então a “doce primavera da fé”.
E não apenas no campo religioso e moral tudo começou a tender à perfeição.
Na Europa medieval, nascida sob inspiração e estímulo da Igreja, esse movimento aconteceu de modo notável em todos os terrenos do viver e do agir humano, como na teologia, na filosofia, na organização social, nas artes, no ensino e na cultura, na tecnologia e na ciência.
Foram dados passos de gigante em comparação com tudo o que houvera antes, como muitos estudos vêm demonstrando.
O espírito de ousadia dos medievais os levou à criação do estilo gótico, no qual todo o edifício parece lançar-se arrojadamente para o alto, como procurando alcançar o céu.
As paredes de granito dos prédios românicos cederam espaço aos deslumbrantes vitrais, enchendo de multicoloridas luzes os ambientes internos de igrejas e castelos.
Em tudo a característica central era sempre a mesma, ou seja, a busca da perfeição, no afã de tornar a Terra cada vez mais parecida ao Paraíso.
Supremo exemplo desse anseio dos “pulchruns” é o do Beato João de Fiesole, conhecido como Fra Angélico. Apesar de haver vivido já na Renascença, seu estilo é puramente medieval.
Fé e avançada técnica, transcendência e realismo, verum, bonum e pulchrum dão-se as mãos para representar o gênero humano como ele deveria ser: todo espiritualizado.
Fra Angélico expressa magistralmente a mentalidade católica da Idade Média, aberta ao sobrenatural e comprazida em contemplar o belo nas criaturas. Ele nos apresenta personagens, ambientes e paisagens de uma beleza diáfana, elevada, celestial.
Seu olhar de artista estava voltado para aquele mesmo reflexo do Criador, que encontramos representado nos trajes, vitrais, decorações, construções, cerimônias e relações humanas daquela era de fé, maravilhas superiores que só numa sociedade impregnada pela lei do Evangelho pode o engenho humano produzir.