As múltiplas profecias do Antigo Testamento sobre o futuro reino messiânico quase sempre eram interpretadas, pelos contemporâneos de Nosso Senhor, sob um prisma meramente temporal.

Nelas, frequentemente viam a supremacia da nação eleita sobre todos os outros povos: “Submeteu os povos à nossa obediência e pôs as nações a nossos pés” (Sl 46, 4). E por mais que as Escrituras se referissem também à conversão dos gentios – “hão de converter-se a Ele todos os confins da Terra; e diante d’Ele virão prostrar-se todas as famílias das nações” (Sl 21, 28) – ninguém seria capaz, sem uma revelação de Deus, de conjecturar como seria de fato esse futuro reino do Messias.

Os próprios apóstolos eram, também, influenciados por esse modo de ver e não se apercebiam, com inteira clareza, de que eram a semente – pequenina como um grão de mostarda – de uma árvore mais admirável do que o cedro do Líbano, ou a gigantesca sequoia norte-americana, que estenderia suas ramagens sobre toda a Terra: a Santa Igreja Católica Apostólica e Romana.

Nela se cumpririam, plenamente, todas as profecias sobre o Messias e seu reino de paz: “O lobo habitará com o cordeiro; e o leopardo se deitará ao pé do cabrito; o novilho, o leão e a ovelha viverão juntos, e um menino pequeno os conduzirá” (Is 11, 6).

O poder da Igreja é, sobretudo, espiritual, mas não se pode ignorar sua magnitude temporal.

Se a Igreja fosse considerada sob um ponto de vista meramente empresarial, por exemplo, não se encontraria nenhuma instituição que se lhe pudesse comparar em grandeza, organização (porque inspirada e governada pelo Espírito Santo), ou eficácia na ação.

Alguns números falam por si: para atender 1,1 bilhão de fiéis, dos cinco continentes, existem cerca de 410 mil sacerdotes, sob a direção de 4.800 bispos, em 2.915 dioceses.

Além disso, há ainda 760 mil religiosas, 54 mil religiosos (não sacerdotes) e cerca de 3 milhões de catequistas.

As escolas católicas totalizam cerca de 250 mil estabelecimentos e os hospitais e outras obras assistenciais somam, aproximadamente, 60 mil unidades.

Todo este imenso reino de paz, que não conhece fronteiras, é governado pelo Romano Pontífice. Nele, há dois mil anos que as palavras de Jesus a Pedro se tornam uma realidade palpável: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18).

Por isso, apesar das falhas humanas, a Igreja é “toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5, 27).

Para reger essa imensa instituição que em sua origem tinha uma estrutura quase familiar, foram nascendo ao longo dos séculos, por inspiração do Espírito Santo, instituições de uma genialidade divina.

O Colégio Cardinalício é uma delas, formada para ser o prolongamento dos braços do Papa no governo da Igreja e garantir a sua livre eleição.

Para isso se exigem três qualidades: entrega, generosidade e obediência. Pois, sobretudo, os membros do Sacro Colégio devem estar dispostos ao martírio (entrega); a auxiliar o Papa, mais do que todos os outros hierarcas (generosidade), e a ser um com o sucessor de Pedro (obediência), em qualquer circunstância.