Em todos os tempos, as sociedades humanas sentiram a necessidade de escolher alguns homens e destacá-los para serem mediadores entre elas e a divindade, real ou fictícia, à qual devotavam sua fé.

Sentimento e necessidade tão imperiosos que, a bem dizer, quase não encontramos nas páginas da História exceções a essa regra. Pois, ao mesmo tempo em que clama instintivamente pelo infinito, a nossa natureza anseia por estabelecer uma ponte que a auxilie a transpor o incomensurável abismo que a separa de Deus, e lhe propicie a condescendência desse Ser onipotente, cuja perfeição e pureza absolutas a nossa inteligência apenas consegue vislumbrar.

Ora, quanto mais alta for a consideração que a sociedade nutre em relação ao Deus que cultua e reverencia, tanto maior será a perfeição exigida aos homens por ela estabelecidos como vínculo sagrado de união com Ele.

Assim, na antiga lei, aos sacerdotes da nação eleita era-lhes imposta essa perfeição como preceito, exatamente por exercerem eles a função de intermediários com o Deus de Israel:

Serão santos para o seu Deus e não profanarão o seu nome, porque oferecem ao Senhor os sacrifícios consumidos pelo fogo, o pão de seu Deus. Serão santos (Lv 21, 6).

A Encarnação do Verbo elevou a um patamar inaudito as relações entre Deus e a humanidade.

Todos os atributos desse relacionamento foram ultrapassados por um fenômeno inexcogitável: a ponte sagrada que unia os Céus à Terra não será mais constituída por simples homens destacados pelo povo, mas pelo próprio Filho de Deus humanado, Jesus Cristo, “porque Deus O proclamou sacerdote” (Hb 5, 10).

É por Ele, “santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e elevado além dos Céus” (Hb 7, 26), que outros homens serão doravante sacerdotes até a consumação dos séculos, e, a exemplo do Apóstolo, podem dizer: “é Cristo que vive em mim” (Gal 2, 20). Pois ao presbítero foi conferida a insuperável dignidade de agir in persona Christi: através do seu ministério, quem ensina, governa e santifica é o próprio Jesus.

Desse homem elevado a tão sublime altura, o povo fiel pede e exige  hoje mais do que nunca não apenas o brilho da correção e da boa reputação, mas o esplendor da verdadeira santidade.

O sacerdote de Jesus Cristo não foi escolhido para ser servido, mas para servir. Sim, servir aos fiéis e ao mundo inteiro, dando espetáculo da sua pureza ilibada e da sua santidade. “Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que eles glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus” (Mt 5, 16).