Dispôs a Providência uma regra arquitetônica segundo a qual, na natureza, o que é valioso tende a ser raro, ou, em outros termos, a qualidade costuma ser inversamente proporcional à quantidade.

Com efeito, no reino mineral, o ouro é bem menos abundante do que o ferro. E, no vegetal, constituem as plantas floridas uma agradável exceção no meio do panorama das monótonas savanas, bosques e selvas que cobrem boa parte da superfície da terra.

A ordem sobrenatural, entretanto, não é regida por essa lei, suplantada que foi pela infinita misericórdia divina. Assim, os cristãos temos à nossa disposição um tesouro a um tempo acessível, valioso e inesgotável.

Compõem-no, em primeiro lugar, os sete Sacramentos, instituídos pelo próprio Cristo, indispensáveis para alcançar a vida eterna. Destaca-se entre eles a Eucaristia, cuja doutrina nos foi lembrada recentemente pelo Papa, ressaltando não ser ela devidamente compreendida em todo o seu valor e relevância (No PDF, pp.6-9).

Contudo, além dos Sacramentos – as mais preciosas joias desse bendito tesouro –, existem “gemas” e “pérolas” de menor valor, mas nem por isso dignas de menosprezo: são os sacramentais (No PDF, pp.18-23).

Não importa que se trate de um advogado ou de uma professora, de uma dona de casa ou de um trabalhador manual, de um médico ou de uma cientista. Qualquer que seja nossa profissão ou situação, todos os católicos devemos viver cientes da nossa condição de batizados, membros da Santa Igreja, procurando, em consequência, santificar todos os atos da vida diária: trabalho, estudos, conversas, refeições, viagens e até os momentos de lazer.

Não em vão tem insistido o magistério eclesiástico recente na necessidade de sacralizar todos os aspectos da nossa existência terrena: Pio XII convidou os leigos para a árdua tarefa da consecratio mundi; Paulo VI fez sua essa expressão, utilizando-a em diversos documentos; e o Concílio, através da Lumen Gentium, convoca todos a agirem santamente, como adoradores que consagram a Deus o próprio mundo (cf. Lumen Gentium, n.34). Trata-se, em palavras de João XXIII, de “impregnar de cristianismo” a ordem temporal (cf. Mater et Magistra, n.231).

Para a realização dessa tarefa, proporciona a Igreja, entre outros instrumentos, o inestimável auxílio dos sacramentais.

Eles santificam desde os acontecimentos mais solenes da vida, como a profissão religiosa ou a consagração das virgens, até os atos mais corriqueiros, como são as refeições. Figuram também, entre eles, certos objetos como os sinos das igrejas, as palmas do Domingo de Ramos ou a água benta.

Se é verdade que, estritamente, não são os sacramentais indispensáveis à nossa salvação, contudo, se alguém os desprezar, não estará negligenciando sua santificação e se comportando como o estulto que, diante de uma arca cheia de peças de ouro, diamantes, safiras, rubis e esmeraldas, lhe volta as costas?