A solenidade de Cristo Rei, instituída em 1925 por Pio XI, ratificou uma antiga devoção popular, sustentada em numerosas passagens das Sagradas Escrituras.
Ao situá-la como fecho do ciclo litúrgico, a reforma pós-conciliar trouxe, por sua vez, um especial brilho à Igreja, pois esta comemoração passou a significar a entrega do ano a Cristo Rei, em cujas mãos, conforme prega São Paulo, devem ser postas “todas as coisas, as que estão nos Céus e as que estão na terra” (Ef 1, 10).
Em Nosso Senhor coexistem duas naturezas, uma humana e outra divina, unidas numa só Pessoa Divina. N’Ele se somam de modo esplendoroso as infinitas perfeições de Deus e todas as qualidades humanas possíveis, em grau insuperável.
Jesus é Rei enquanto Deus e Criador, mas também enquanto Homem, possuindo todos os atributos reais – a excelência, a linhagem, o poder, a grandeza… –, aos quais se acrescentam os méritos de sua imolação.
O domínio universal de Deus é absoluto. Ele pode criar qualquer coisa a qualquer momento, ou fazê-la voltar ao nada num instante.
Pela união de naturezas, Jesus-Homem detém igual potestade, que lhe outorga a mesma facilidade tanto para curar a vista de um cego quanto para dar-lhe um novo par de olhos… Compreende-se, assim, a admiração dos judeus, os quais glorificavam a Deus “por ter dado tal poder aos homens” (Mt 9, 8).
Jesus, porém, afirma: “Meu Reino não é deste mundo” (Jo 18, 36). E isso desperta uma pergunta: por que então Ele nos mandou pedir, no Pai-Nosso, que esse Reino “venha a nós” (cf. Mt 6, 10)? Porque Cristo estabelece seu domínio sobre os homens não à maneira dos soberanos terrenos, mas sim agindo sobre seus corações, que, aliás, Lhe pertencem, pois Ele os criou.
A recusa em reconhecer esse reinado constitui não um mero ato de insubordinação, mas uma subversão da ordem natural, pois supõe a revolta contra Aquele que nos deu o ser.
Em sentido contrário, aceitar o jugo suave e o peso leve de Cristo (cf. Mt 11, 30) significa enveredar pela porta da salvação, única que conduz a humanidade ao verdadeiro caminho.
Jesus é Rei e centro de todos os corações, algo muito superior a exercer o mando desde um trono terreno, pois significa governar o mundo pelo seu lado mais alto e perfeito, conduzindo deste modo os rumos da História
Corresponde à dupla natureza d’Ele um domínio do qual ninguém escapa, seja pela misericórdia, seja pela justiça, e cujo derradeiro ato se dará quando, por ocasião de nosso juízo particular, conhecendo o íntimo dos corações Ele nos designe o respectivo destino eterno: prêmio ou castigo.
Para compreender em que consiste o reinado de Cristo nesta terra seria preciso, portanto, penetrar no belíssimo jogo de influências por Ele exercidas sobre os corações, congregando-os em torno de Si à maneira do ímã que atrai a limalha de ferro.
Jesus reina pela graça: nas almas Ele infundiu sua lei, mas é no coração do homem que, por meio de Maria Santíssima, quer Ele estabelecer o seu trono.