A vida religiosa, que a Igreja ampara sob diversas formas jurídicas – Ordens Religiosas, congregações, institutos de vida consagrada, associações de leigos que assumem certos compromissos em comunidade, etc. –, enfrenta nos dias atuais diversos desafios.
Em certos ambientes, há uma tendência a reduzir esses desafios a aspectos meramente numéricos, focalizando apenas a diminuição das vocações.
Em outros, levantam-se dúvidas sobre a “utilidade” do respectivo carisma e veem-se só os lados funcionais, que pouco ou nada têm a ver com ele.
Se aceitarmos essa visão restrita da questão, os obstáculos que a vida religiosa encontra em nossa época nunca serão superados. Pelo contrário, os problemas se avolumarão, expondo-nos à tentação do desânimo.
Para enfrentar com êxito os mencionados desafios, deve-se começar por reconhecer que é o Espírito Santo quem suscita as novas congregações ou movimentos.
É Ele quem escolhe o fundador, dita as regras da instituição e dá a vocação segundo seus divinos critérios.
O Espírito Santo “sopra onde quer” (cf. Jo 3, 8), segundo normas altíssimas e inefáveis.
Ele fez nascer as ordens de vida contemplativa, as mendicantes, além de incontáveis institutos de vida ativa sabiamente combinada com a contemplação, fonte de renovado impulso para a sociedade civil.
Em recente simpósio realizado no Stonehill Colege, em Boston (EUA), o Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Cardeal Franc Rodé, CM, analisou as dificuldades enfrentadas pelas comunidades religiosas nesse país e sublinhou um ponto decisivo para a sua vitalidade: a fidelidade à pessoa e ao carisma do fundador.
A vida religiosa – salientou o prelado –, sendo um dom do Espírito Santo para o religioso e para a Igreja, depende especialmente da fidelidade à sua origem, fidelidade ao fundador e fidelidade ao carisma particular.
Devemos garantir – continuou – que, em nossas congregações, a vida seja plenamente católica e inteiramente alinhada ao carisma do fundador ou fundadora. Nesta matéria, não pode haver contradição, uma vez que o carisma foi dado aos fundadores no contexto da Igreja e foi submetido à aprovação da Igreja. Muitas congregações estão fazendo vigorosos esforços nesse sentido.
E, alargando o âmbito dos seus raciocínios, salientou ainda o Cardeal Rodé:
É necessário todo esforço para formar os mais relevantes entre os membros. Devem estar em plena comunhão com a Igreja. Devem ser prudentes, eminentemente espirituais e práticos. Devem amar sua congregação e identificar-se com o carisma de seus fundadores. […] Devem estar imbuídos de amor por seus fundadores, sua história, suas tradições. […] Em outros termos, a vida de comunidade e a formação para os que são convidados a entrar devem refletir o carisma da minha família religiosa e estar em plena e gaudiosa comunhão com a Igreja.
Com efeito, não pode haver um carisma desligado da autoridade do Papa e do Magistério da Igreja. É na suma fidelidade a essa autoridade que a vida religiosa pode desenvolver o melhor de si mesma no século XXI.