Realidade sempre viva, manifesta a Santa Igreja sem cessar renovados reflexos das perfeições divinas, mesmo nos períodos de provações nos quais sua glória extrínseca parece obnubilada.
E, em geral, como resposta aos problemas de determinada época, a Providência suscita almas que confirmam e revigoram a inexaurível vitalidade da Esposa de Cristo.
Para se compreender bem a pessoa de um fundador é preciso analisar o contexto social e religioso no qual ele aparece.
Apresenta sempre ele – ou ela – em maior ou menor medida, uma forma diferente de vida cristã, a qual muitas vezes se materializa num novo modelo de vida consagrada, como tantos surgidos ao longo dos séculos: os beneditinos, de São Bento; os jesuítas de Santo Inácio; as carmelitas descalças, de Santa Teresa; ou os salesianos, de São João Bosco, para mencionar apenas alguns.
Trata-se, sempre, de uma forma nova de viver o perene ideal evangélico.
Assim, quem desejar entender em profundidade as intenções últimas do Espírito Santo ao suscitar um fundador, deve examinar a situação da Igreja naquele momento histórico, pois, apesar do Paráclito soprar onde quer (cf. Jo 3, 8), são os carismas dons “ordenados à edificação da Igreja, ao bem comum dos homens e às necessidades do mundo” (CCE 799).
Segundo o Pe. Fábio Ciardi, OMI,
…a resposta dos fundadores possui sempre aspectos sociais concretos, que vão desde a criação de novos estilos na arte figurativa, arquitetônica e literária, até a criação de obras assistenciais e a elaboração de novas formas de governo.
As diversas formas de vida religiosa nascidas no seio da Santa Igreja correspondem, portanto, a “novidades” do Espírito, sobretudo em períodos de grandes transformações.
Em relação aos seus contemporâneos, o fundador discerne melhor os problemas do seu tempo porque o faz por inspiração do Paráclito, sob uma ótica própria ao carisma recebido. Por isso nem sempre é compreendido e aceito pelos seus.
O nascimento de uma ordem ou de uma congregação religiosa – afirma o Pe. Jean Marie Roger Tillard, OP – é algo de misterioso. Um homem (ou uma mulher) se ergue, tendo no coração um sonho, uma intuição. Outros, que reconhecem nisso um apelo que eles mesmos traziam, talvez sem poder explicitá-lo, põem-se a segui-lo. E se abre um caminho do Evangelho. Durante séculos, batizados encontrarão aí o “lugar” onde dar forma a seu carisma pessoal.
Cada forma de vida religiosa é, assim, um reflexo da perfeição divina manifestado no seguimento de Nosso Senhor. Completam-se elas de maneira a compor, no fim da História, a fisionomia total da Santa Igreja, Corpo Místico de Cristo.
São os fundadores, portanto, pessoas com a capacidade de mudar os rumos da História, enquanto instrumentos da Providência Divina na obra da salvação, testemunhando que as portas do inferno jamais prevalecerão!