A galopante secularização da sociedade contemporânea, e a consequente diminuição de vocações sacerdotais e religiosas, pedem proporcionada resposta da Igreja. De onde haver quem se pergunte como encontrará ela os recursos necessários para vencer essa enorme crise de fé, tantas vezes apontada pelos Papas de nossa época:
A fé de muitos é posta à dura prova, e não raramente, é sufocada e extinta. […] Percebe-se, então, com urgência a necessidade de um anúncio forte e de uma sólida e aprofundada formação cristã (João Paulo II, Discurso, 30/05/1998, n. 7).
É claro – todos o sabemos bem – que a Igreja, além de ser governada e vivificada pelo Espírito Santo, tem a promessa, feita por Nosso Senhor Jesus Cristo, da invencibilidade face ao mal.
Mas podemos nos perguntar quais os sinais visíveis de uma solução para os desafios atuais. E a palavra do sucessor de Pedro nos aponta um rumo:
Os movimentos e as novas comunidades eclesiais: eles são a resposta suscitada pelo Espírito Santo a este dramático desafio do final de milênio (João Paulo II, Discurso, 30/05/1998, n. 7).
Hoje em dia, seria uma redundância afirmar que os novos movimentos são uma novidade, na Igreja, se os compararmos com os institutos religiosos surgidos em épocas anteriores para dar resposta aos problemas de seu tempo.
O próprio Papa João Paulo II ressaltou esse aspecto:
Os movimentos caracterizam-se pela comum consciência da “novidade” que a graça batismal traz à vida […] Isto dá origem a um renovado impulso missionário (Mensagem, 27/05/1998, n. 2).
Talvez seja na forma de entender esse “impulso missionário” que se encontra um dos aspectos inovadores dos novos movimentos.
Enquanto os institutos religiosos anteriores, embora muitos deles movidos por um intenso ardor missionário, estabeleciam uma separação nítida entre seus membros e a sociedade temporal, os novos movimentos procuram evangelizar o mundo sem dele sair, sacralizando as realidades temporais, como é proposto pelo Concílio Vaticano II:
Quanto aos leigos, devem eles assumir como encargo próprio seu essa edificação da ordem temporal e agir nela de modo direto e definido, guiados pela luz do Evangelho e a mente da Igreja, e movidos pela caridade cristã (AA, 7).
No entanto, há nos novos movimentos um aspecto que talvez ainda não tenha sido suficientemente ressaltado. É uma “firme fidelidade ao patrimônio da fé, transmitido pelo fluxo vivo da Tradição” (João Paulo II, Mensagem, 27/05/1998, n. 2).
Tal fidelidade transparece numa singular vinculação com a espiritualidade e o carisma de movimentos suscitados pelo Espírito em anteriores eras.
Assim, por exemplo, a mais recente associação internacional de fiéis aprovada pela Santa Sé – Franciscanos de Maria, fundada na Espanha – procura inspirar-se no carisma franciscano para enfrentar o desafio do atual secularismo.
No Brasil, o movimento Shalom, também de recente aprovação, vai buscar sua espiritualidade em Santa Teresa de Ávila.
A bela via de santificação pelo trabalho, aberta por São Josemaria Escrivá, evoca o “ora et labora” de São Bento. E muitos outros exemplos se poderiam mencionar.
As soluções do Espírito Santo são sempre inusitadas e inovadoras, sem deixar de estar solidamente vinculadas ao legado do passado: “Todo o escriba instruído acerca do Reino dos Céus – ensina o Divino Mestre – é semelhante a um pai de família que tira coisas novas e velhas do seu tesouro” (Mt 13, 52).