Os contrários harmônicos, em matéria de virtude, são alcançáveis somente pelas almas justas e estas, com a graça de Deus, neles perseveram e progridem até limites superlativos.
Neste mês, a Igreja celebra a festa de São Paulo, o Apóstolo, protótipo incansável dos extremos opostos vividos com perfeição: do temor à alegria, da dor ao verdadeiro gozo. “Na verdade – disse ele aos coríntios – assim como abundam em nós os sofrimentos de Cristo, é abundante a nossa consolação” (II Cor 1, 5).
E de fato, os sofrimentos pelos quais ele passava eram, por vezes, muito além do suportável, como ele mesmo relata: “Fomos maltratados em extremo, acima das nossas forças, até o ponto de perdermos a esperança de sobreviver” (id. v. 8).
Entretanto, não sai de seus lábios, ou de sua pluma, uma só palavra de queixa e menos ainda de revolta; muito pelo contrário, lega à Igreja um tesouro teológico sobre a tribulação e a confiança: “…para que não puséssemos a confiança em nós, mas em Deus que ressuscita os mortos” (v. 9).
Com um espírito celestialmente angélico, se eleva a altos patamares da espiritualidade ao considerar as adversidades essenciais para o exercício de seu próprio ministério e, por isso, não só não as teme, como até mesmo as deseja: “Agora, alegro-me nos sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja” (Col 1, 24).
Mesmo diante do mais temido dos males, que é a morte, sua atitude seguia inteiramente a doutrina do Mestre: “Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, fica infecundo” (Jo 12, 24); ou seja, o Apóstolo tem de morrer para, assim, poderem viver os demais: “Trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus […] Assim, em nós opera a morte, e em vós a vida” (II Cor 4, 10-12). E esta determinação, ele a abraça com a fé convicta de que ressuscitará, tal como Jesus (cf. id. v. 14).
Aceita com amor as debilidades próprias às contingências da ancianidade, na alegria de as ver compensadas pelo progresso espiritual: “Por isso, não desfalecemos, e mesmo se, em nós, o homem exterior vai caminhando para a ruína, o homem interior renova-se, dia após dia” (id. v. 16).
Ainda que as atividades de São Paulo se desenrolassem no ano de 2007, ele não colocaria sua esperança nos valores humanos, todos feitos de incerteza; nem na expansão mundial da vida econômica, que conduz à imoralidade e à exploração da pessoa humana; nem no gozo fruitivo e frustrante da vida; nem em certos delirantes e suicidas progressos da ciência. Isto porque, para São Paulo, “as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas” (id. 4, 18).
E daí que o ano de 2007, como outro qualquer, seria o ano da esperança.