“Eu moro num palácio de cedro, e a arca de Deus está alojada numa tenda!” (II Sam 7, 2). Com essas palavras, o Rei Davi manifestou seu ardente desejo de oferecer um edifício para Deus.
Porém, Davi morreu sem satisfazer seus anseios, e somente seu filho Salomão começou a edificar a casa do Senhor (cf. I Rs 6, 1).
Terminada a grandiosa construção, realizou-se a primeira liturgia de dedicação, na qual o Templo foi consagrado ao culto pela deposição da Arca da Aliança no santuário e a realização de inúmeros sacrifícios.
Quando os sacerdotes saíram do lugar santo, a nuvem encheu o Templo do Senhor, de modo tal que os sacerdotes não puderam ali ficar para exercer as funções de seu ministério; porque a glória do Senhor enchia o Templo do Senhor (cf. I Rs 8, 10-11).
Deus manifestava, por esse sinal sensível, o caráter sagrado daquela construção: “O meu nome residirá ali” (I Rs 8, 29).
Dez séculos depois, naquele mesmo local, Jesus respondia aos fariseus: “‘Destruí este Templo e Eu o reedificarei em três dias’. […] Ora, Ele falava do templo de seu Corpo” (Jo 2, 19.21).
E São Paulo, em sua epístola aos coríntios, estende a nós essa comparação:
Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é sagrado – e isto sois vós (I Cor 3, 16-17).
Existe, pois, uma correlação entre o templo material – a Casa de Deus –, o templo vivo que somos nós, enquanto inabitados pela Santíssima Trindade, por meio do Espírito Santo, e o Templo por excelência que é o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, em sua adorabilíssima humanidade.
O povo eleito, quando perdeu seu primeiro Templo, empenhou-se em reconstruí-lo.
Do ponto de vista material, o novo edifício não esteve à altura do anterior, mas dele afirmou o profeta Ageu: “O esplendor desta casa sobrepujará o da primeira” (Ag 2, 9). E, de fato, assim foi, porque nesse segundo templo realizou-se a apresentação do Filho de Deus, pelas mãos de Maria Virgem, como também, trinta anos depois, muitas vezes ali esteve a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade encarnada, para curar os enfermos, perdoar os pecados de muitos e anunciar a chegada do Reino eterno.
Se grande foi o esplendor daquele templo material, marcado pela presença de Jesus, o esplendor dos templos vivos, que são todos e cada um dos cristãos, é ainda maior. Pois nas almas em graça, nas quais habita o Espírito Santo, Jesus Se faz eucaristicamente presente, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, sempre que recebem a comunhão sacramental.
Por essa razão, o zelo pela santificação nossa e dos demais deve ser muito maior do que o nascido no coração do Rei Davi.
Contemplando o triste panorama das almas existentes nos dias atuais, vemos incontáveis batizados lançados pelo demônio num verdadeiro oceano de relativismo moral. São os templos vivos, arrasados pela corrupção de ideias e costumes, que necessitam urgentemente ser reconstruídos com as pedras da santidade, a fim de que a sociedade venha a ser o que ela nunca foi: um só corpo e um só espírito, sob a égide de um só Pastor.