Ao lermos a parábola do filho pródigo, costumamos aplicá-la a pessoas que conhecemos e muito raramente à própria História. Mas, haveria um paralelo entre o filho pródigo do Evangelho e a situação trágica em que a humanidade se encontra?
A liberdade e a razão são os dois mais preciosos tesouros naturais que recebemos do Pai. Essa herança faz dos homens imagem e semelhança de Deus.
Houve um momento em que o homem, especialmente o ocidental e cristão, resolveu utilizar esses dons inteiramente separados de Deus, por assim dizer, fora da casa paterna.
Iniciou-se um processo multissecular que chegou aos nossos dias: primeiro rejeitou a autoridade da Igreja, em seguida a divindade de Cristo e, por fim, negou a própria existência de Deus.
Com os “tesouros” da liberdade e da razão, a humanidade construiu um poderoso império, gastando-os desenfreadamente.
Progrediu nas artes, nas letras, nas ciências, nas leis, nas comunicações… Não houve campo em que homem não se tivesse inebriado com o desenvolvimento conquistado à custa de sua inteligência, de sua liberdade, divorciados de Deus. Pareciam ter chegado a uma era de esperança, de alegria e de paz!
Entretanto, as doenças parecem ter progredido mais que a medicina; o fantástico mundo financeiro pode, em questão de minutos, transformar um bilionário em mendigo; a violência atingiu tais índices que o bandido anda solto pelas ruas, enquanto o honesto se confina atrás de grades em sua casa; a impiedade muitas vezes dita as normas da lei; os homens nunca se comunicaram com tanta facilidade através dos meios cibernéticos, mas filhos e pais, vivendo debaixo do mesmo teto, já quase não conversam mais…
E o que dizer da tecnologia que tanta segurança deu no passado? Tornou-se um Leviatã capaz de destruir a Terra incontáveis vezes.
O filho pródigo do Evangelho perdeu sua herança porque desejou gastá-la longe da casa do pai, e a humanidade parece ter perdido a luz da razão porque julgou-se capaz de usá-la sem Deus.
E tendo dilapidado toda a “fortuna” de sua inteligência e liberdade, não estaria agora a humanidade reduzida a alimentar-se das “bolotas dos porcos”?
Ora, será que doravante a História não nos reservará algo melhor? A grande bondade manifestada pelo pai ao filho arrependido não nos autoriza a esperar um imenso perdão para a “humanidade pródiga”?
Além do mais, na parábola do Evangelho não figura aquela que na História tem papel fundamental: a Mãe das misericórdias.
Em Fátima, Ela predisse a situação em que o mundo haveria de chegar, mas anunciou a vinda de um reino de inimaginável paz e harmonia entre os homens e o Criador: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”
O Pai, que é Deus, apenas aguarda o pedido de perdão e o “grande retorno” dos homens para dar-lhes o vestido precioso da razão que se inclina à fé, e o anel de ouro, símbolo da liberdade verdadeira, ou seja, a que se sujeita à vontade de Deus.